1 comentários

A Aflição de Xavier



Xavier acordou cedo. 6h32 da manhã. Não era costume de Xavier acordar cedo: na verdade, a impressão que teve foi que já era a hora certa de despertar. Não foi. Naquele dia, só deveria acordar às 8h30 para fazer uma ligação e decidir entre dois compromissos: um indispensável. O outro, impulsivo.
Uma transa. Um final de semana. Foi o suficiente para despertar em Xavier um sentimento tão intenso que brotou nele um sentimento de impulsividade e ansiedade que só sentira há anos atrás, e prometeu para si mesmo que nunca mais se deixaria sentir. Calejado pela vida, já um pouco mais maduro que aos seus 25, percebeu que os atos impulsivos levavam-no na maioria das vezes a situações que, a médio prazo, lhe eram prejudiciais -- e aos outros. Uma vez disseram-lhe que, com uma certa casa de seu mapa astral, Júpiter influia sua sorte fazendo-lhe boa na maioria das vezes e que ele deveria jogar na loteria. Jogava, mas no máximo acertava três números. Três números. Se fossem quatro, seria uma quadra, e ganharia o prêmio mínimo. Mas em todos os jogos, até num bingo de igreja, ele nunca ganhou nada. Achou aquele negocio de astrologia balela -- boa sorte o caralho, estava mesmo é fudido.
0 comentários

Retomando as rédeas.

Dediquei esse blog por algum tempo a reflexões filosóficas que deram início ao Repositório Filosófico, que vale a pena conhecer. Deu super certo, mas resolvi não misturar as bolas: ao Repositório o que é Filosofia, ao tbd.blog.br o que concerne a mim e minhas elocubrações. Voilà, estou retomando as rédeas do tbd.blog.br como blog pessoal.
É um bom momento para fazê-lo, afinal, não é só do blog que retomo as rédeas, mas de muitas coisas na vida. Pretensioso dizer que de todas elas... Hoje peguei as chaves de meu novo apartamento na Liberdade, uma conquista depois de mais de 2 anos vivendo de favor. Favor de bom grado, é fato, mas nada como não precisar mais. Ao menos, aprendi a agradecer. Já o fiz, mas penso que nunca será o suficiente. Algumas coisas não tem preço.
Minha inspiração não é grande para delongas, então, fico por aqui. Teje oficial: esse blog agora é pessoal. Vou cuspir aqui as idéias que me vêem à mente. E para quem não entender, lamento.
0 comentários

Jair Bolsonaro: Muito além do preconceito



Já está mais que conhecida a história de Jair Bolsonaro no CQC: conforme vê-se no vídeo acima (pré requisito para entender bem minhas reflexões tecidas a seguir), o Deputado do PP do Rio expressou seu apoio à ditadura, chamou a Dilma de bandida (bem, o que concordo, mas não pelos mesmos motivos que ele), e disse que a homossexualidade é produto de maus costumes e de "pais ausentes" (se [meu filho] tiver uma boa educação e um pai presente, então não corro esse risco [da homossexualidade]).
Dentre outras coisas, Bolsonaro expressou a opinião (comum ao militarismo) de que o Brasil só pode ser respeitado se tiver o poder de intimidar, e que FHC deveria ser fuzilado por ter vendido a Vale do Rio Doce, chamando-o de traidor da nação. Vamos explorar melhor esse argumento... O nacionalismo, regime do qual Hittler era adepto, "em seu sentido mais abrangente [...] designa a [...] de determinado grupo político, o Estado nacional, que se sobrepõe as ideologias dos partidos, absorvendo-as em perspectiva" (Dicionário de Política, Noberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino).

Porém, justamente com esta significação, outra existe, mais restrita, que evidencia uma radicalização das idéias de unidade e independência da nação e é aplicada a um movimento político, [...] que se julga o único e fiel intérprete do princípio nacional e o defensor exclusivo dos interesses nacionais.

[Estruturou-se] aos poucos sobre os escombros da sociedade feudal, que definiu sua individualidade apresentando-se a si próprio como um poder independente no contexto dos Estados e como um poder superiore com relação aos outros centros de poder -- em primeiro lugar a Igreja -- que atuavam no interior do Estado. É bom salientar que, nos seus inícios, o Estado soberano tinha estrutura autoritária [...]. (Idem)
De uma idéia que nasceu na Revolução Francesa sob a bandeira da fraternidade e igualdade entre as nações, além da soberania do povo, surgiu a deturpação do princípio da igualdade quando passou-se a privilegiar a a fraternidade dentro na nação sobre a fraternidade de todos os povos. Mais que isso: o autoritarismo enquanto forma (ou pretexto) de manter a ordem e a igualdade de direitos (à propriedade, aos lucros, dentre outros). Desde a revolução francesa foi adotada a guerra como forma de exportar a liberdade e fraternidade para outras nações. Atualmente, um exemplo claro dessa ideologia é a postura dos Estados Unidos face outras nações: o messias da democracia mete bala naqueles que não aderirem ao seu regime "igualitário" e de poder "do povo".
0 comentários

Felicidade: Reflexão sobre minhas necessidades supérfulas


Acordei às 7h. Bem. Desde 13/11/2010 sofro de insônia: não sinto sono. Estou recorrendo à psiquiatria (não sou maluco de tomar remédio nessa área sem prescrição, muito embora em um período em que fui considerado 'depressivo' tenha conhecido todos os fármacos nessa área e suas bulas, em um experimento que os médicos conduziram durante seis meses com todos os anti-depressivos possíveis até chegar à conclusão de que eu não sofria de depressão), e também contra os meus princípios (ecoa Ponty e Kant na minha cabeça sempre que recorro à ciência, à qual infelizmente a maioria dos médicos, cientistas e a maioria dos teóricos, até o clero atualmente, estão presos. A ciência encerra-se em si.
Mas não é sobre esse meio e esse tipo de visão de mundo que quero dissertar. Quero refletir, antes mesmo das primeiras impressões sobre o dia, inspirado por uma conversa que tive com uma grande amiga na segunda-feira (ou terça) sobre fases da vida. Apareci com um argumento novo, enquanto tomava um Milk Shake no Toninho's, ao lado do Burdog, que tem um dos melhores Milk-Shakes da cidade.
Ano passado foi um ano do cão. Se existisse um zodíaco de fases da vida, cão seria perfeito para definir certas coisas: vivi a ressaca de todos os anos anteriores (na maioria do tempo, literalmente), o que penso ser a causa desse período reflexivo que estou passando. Vou amadurecer, portanto, o texto da madrugada, que foram praticamente palavras cuspidas a esmo enquanto eu estava com dor de cabeça, cansado e sem a mínima inspiração.
0 comentários

O sucesso sob uma perspectiva iluminada

Naquela quarta feira à noite o teatro da livraria Cultura, no Shopping Salvador, estava bem cheio. Era meado do mês de março, nesse ano, período imediatamente pós carnaval na capital baiana. Aconteceria ali uma palestra sobre Budismo, já que nem tudo nessa cidade se refere ao Axé, como aspecto religioso ou ritmo musical; sem, contudo, tirar-lhes o lugar de destaque na cultura, nem, de modo algum, deplorar-lhes a existência.
O palestrante, Jigme Tronge Rinpochê, é um eminente Lama budista. Rinpochê é título só concedido a professores do Dharma, reconhecidos como mestres de grande sabedoria. A palavra Dharma, nesse caso, refere-se ao conjunto de ensinamentos budistas.
É de praxe quando da visita de um Lama a uma cidade, organizar-se como primeiro evento uma palestra aberta, que tem como objetivo apresentar o professor àqueles que ainda não o conhecem, ou oferecer a um curioso público a oportunidade de um contato inicial com um tema, professor e filosofia ainda pouco conhecidos, ou, talvez para alguns, até exóticos.
Alguns rostos bem conhecidos do ambiente budista em Salvador, e uma maioria de interessados que, ao menos a princípio, ficarão pelas bordas de uma ânfora bastante funda, podiam ser vistos na lanchonete da livraria, desde antes de começar a palestra. No dia seguinte àquele, quando o Lama daria ensinamentos mais reservados e profundos, sobre outro tema, só estariam presentes aqueles que já valorizam esse conhecimento a ponto de deixarem suas atividades habituais, num dia de semana normal, para passarem o dia sentados em almofadas e levitando em insights luminosos.
O tema da palestra era bastante atraente: “O Sucesso na Perspectiva Budista”. Nada mais adequado para atrair o grande público dos dias atuais, afinal, quem não quer o sucesso? A palavra “sucesso” tem sido muito utilizada com o sentido de “êxito” ou “acontecimento feliz”. Ela gera associações grandiosas, levando a pensamentos que giram em torno de artistas, fama, dinheiro e objetos luxuosos, seja ou não carnaval. Mas, afinal, o que é o sucesso?
Com a grande habilidade que os Lamas possuem em transitar entre o geral e o específico, em viajar entre a periferia e o centro, entre o diminuto e o amplo, com uma agudeza de discernimento incrível, Jigme Rinpochê nos trouxe de uma palavra que poderia estar ligada apenas a representações materiais, até os questionamentos fundamentais da vida humana.
Ao referir-se ao nosso senso de identidade, e aos julgamentos e críticas que estabelecemos à partir daí para os outros, Rinpochê naturalmente leva-nos à indagação velha conhecida daqueles que se interessam por temas, digamos, mais metafísicos, que é “quem sou eu?”. Essa pergunta, ultimamente quase foi substituída pela afirmativa “penso, logo, existo”, de Descartes, essa nunca descartada por todas as mídias atuais. Conquanto de difícil resposta, a questão “quem sou eu?” permanece válida. Grandes sistemas de meditação e estudos esotéricos já foram construídos sobre essa indagação. Embora Rinpochê não tenha feito essa pergunta, suas palavras nos levaram a constatar que nosso senso de identidade desemboca inevitavelmente nos nossos desejos, no nosso querer, o que nos leva, também inevitavelmente, às experiências de sucesso e fracasso de acordo com a realização ou frustração desses desejos.
Não estou reproduzindo a palestra de Rinpochê, algo impossível, mas tão somente comentando as impressões e pensamentos que se produziram em mim à partir daquela palestra. Seria também desafio incalculável transcrever todas as reflexões feitas em torno do porque obtemos ou não obtemos o que desejamos, e de como o processo de desenvolver a atenção e a consciência pode mudar substancialmente a qualidade dos nossos hábitos e escolhas, o que nos leva a resultados de maior contentamento.
Essa mesma atenção e consciência pode levar-nos a uma mudança profunda no nosso entendimento do que é o sucesso, já que observamos que os objetos e fatos não podem representar sucesso de ‘per si’ , mas dependem do julgamento da nossa mente para tal. Entender como produzimos o sofrimento em nossas vidas e como podemos desenvolver maior contentamento é tarefa para uma vida inteira ou mais.
O passo seguinte, mas não necessariamente separado dos outros, ou em rígida sequência, é perguntarmo-nos o que acontece quando e se conseguirmos desmantelar o nosso julgamento. Não necessariamente abandoná-lo, mas desmantelá-lo. Esse hábito de estabelecermos juízos de valor, muitas vezes rígidos, à partir das aparências, para qualificarmos pessoas e experiências, sem perceber-lhes a natureza essencial. Obter sucesso nesse item, como em todos os outros abordados, requer um diligente trabalho interno do qual só podemos ter uma idéia, como resultado de uma pequena, e muito bem sucedida, palestra sobre o Sucesso.
Na saída da livraria eu ainda refletia sobre as novas acepções que a palavra “sucesso” poderia ter adquirido para quem ouviu o Rinpochê naquela noite.
No dia seguinte Rinpochê proporcionaria, a mim e a tantos quanto estavam no Centro Budista Norbu Ling, um grande momento de vivência no Dharma, que poderíamos chamar de momento de verdadeiro sucesso, se for possível para quem lê supor novos significados para essa palavra.



Autor convidado:

Ana Liese Leal mora em Salvador e é terapeuta familiar sistêmica, além de praticante budista.
Leia mais sobre a autora...
0 comentários

Suplemento da Viagem de Bougainville - Adeuses do Ancião

Enquanto medito sobre o próximo texto a escrever, cito ipsis litera Diderot, em Suplemento da Viagem de Bougainville. Vale a pena a leitura para estimular a meditação alheia.

Era pai de numerosa família. A chegada dos europeus, deixou cair olhares de desdém sobre eles, sem expressar espanto, nem medo, nem curiosidade. Abordaram-no; ele volveu-lhes as costas, retirou-se para sua cabana. Seu silêncio e seu cuidado revelavam muito bem seu pensamento: gemia, no íntimo, sobre os belos dias de seu país, eclipsados. À partida de Bougainville, quando os habitantes acorriam em multidão à margem, agarravam-se ao vestuário dele, apertavam seus camaradas entre os braços, e choravam, o velho avançou com ar severo e disse:
“Chorai, infelizes taitianos! chorai; mas que seja pela chegada, e não pela partida desses homens ambiciosos e malvados: um dia, vós os conhecereis melhor. Um dia, voltarão, com o pedaço de madeira que vedes preso na cintura deste, em uma mão, e com o ferro que pende à ilharga daquele, em outra, para vos encadear, vos degolar, ou vos sujeitar às suas extravagâncias e a seus vícios; um dia servireis às ordens deles, tão corrompidos, tão vis, tão infelizes como eles. Mas eu me consolo; toco ao fim de minha carreira; e a calamidade que vos anuncio, eu não a verei. Ó taitianos! meus amigos! haveria um meio de escapardes a um funesto porvir; mas preferiria antes morrer a vô-lo aconselhar. Que eles se afastem, e que vivam”.
Depois, dirigindo-se a Bougainville, acrescentou: “E tu, chefe dos bandidos que te obedecem, afasta prontamente teu navio de nossa costa: nós somos inocentes, nós somos felizes; e tu só podes prejudicar nossa felicidade. Nós seguimos o puro instinto da natureza; e tu tentaste expungir de nossas almas seu caráter. Aqui tudo é de todos; e tu nos pregaste não sei que distinção entre o teu e o meu. Nossas filhas e nossas mulheres nos são comuns; tu partilhaste esse privilégio conosco; e tu vieste acender nelas furores desconhecidos. Elas se tornaram loucas em teus braços; e tu te tornaste feroz entre os delas. Elas começaram a odiar-se; vós vos degolastes por elas; e elas voltaram a nós manchadas de vosso sangue. Nós somos livres; e eis que tu fincaste em nosso solo o título de nossa futura escravidão. Tu não és nem deus, nem demônio: quem és então, para fazer escravos? Oru! tu que entendes a língua desses homens aí, dize a todos nós, como disseste a mim, o que eles escreveram nesta lâmina de metal:‘Este país é nosso.’ Este país é teu! E por quê? Porque puseste o pé nele? Se um taitiano desembarcasse um dia em vossas costas, e se gravasse numa de vossas pedras ou na casca de uma de vossas árvores: ‘Este país é dos habitantes do Taiti’, o que acharias? Tu és o mais forte! E o que tem isso? Quando te tiraram uma das desprezíveis bagatelas de que tua embarcação está cheia, bradaste, tu vingaste; e no mesmo instante projetaste, no fundo de teu coração, o roubo de todo um país. Tu não és escravo: prefererias a morte a sê-lo, e queres nos assujeitar. Crês portanto que o taitiano não sabe defender sua liberdade e morrer? Aquele de quem queres te apoderar como de um bruto, o taitiano, é teu irmão. Vós sois dois filhos da natureza; que direito tens tu sobre ele que ele não tenha sobre ti? Tu vieste; nós nos atiramos sobre tua pessoa? Pilhamos o teu navio? Nós te prendemos e te expusemos às flechas de nossos inimigos? Nós te associamos em nossos campos ao trabalho de nossos animais? Nós respeitamos nossa imagem em ti. Deixa-nos os nossos costumes; são mais sábios e mais honestos que os teus; nós não queremos trocar o que chamas nossa ignorância por tuas inúteis luzes. Tudo o que nos é necessário e bom, nós o possuímos. Somos nós dignos de desprezo, porque não soubemos criar para nós necessidades supérfluas? Quando temos fome, temos o que comer; quando temos frio, temos com que nos vestir. Tu entraste em nossas cabanas, o que faltava nelas, em tua opinião? Persegue até onde quiseres isso que denominas comodidades da vida; mas permite a seres sensatos que se detenham, quando não teriam a obter, da continuação de seus penosos esforços, senão bens imaginários. Se nos persuades a transpor o estreito limite da necessidade, quando findaremos de trabalhar? Quando fruiremos? Nós tornamos a soma de nossas fadigas anuais e diárias menor possível, porque nada nos parece preferível ao repouso. Vai a teu país te agitar, te atormentar quanto quiseres; deixa-nos descansar: não nos metas na cabeça nem tuas necessidades factícias, nem tuas virtudes quiméricas. Observa esses homens; vê como são eretos, sadios e robustos.Observa essas mulheres; vê como são eretas, sadias, frescas e belas. Toma este arco, é o meu; chama em tua ajuda um, dois, três, quatro de teus camaradas, e tenta distendê-lo. Eu o distendo sozinho. Eu lavro a terra; escalo a montanha; atravesso a floresta; percorro uma légua da planície em menos de uma hora.
Teus jovens companheiros tiveram dificuldade em me acompanhar; e eu tenho oitenta anos passados."
0 comentários

Quem matou o Conde Drácula?


Acusei meu opositor de esconder os segredos de quem comprou as passagens de trem para a Transilvânia. Atordoado, bem vestido, de palitó impecável, gesticulava e me dizia desconhecer o paradeiro de quem adquiriu os bilhetes. A alegoria psicodinâmica "Quem matou o Conde Drácula" foi o marco inicial de uma amizade que perdura até os dias de hoje.

Na primeira semana de trabalho, em treinamento coletivo, a instrutura elegeu juntamente com o conjunto de mais de trinta funcionários os dois líderes que se enfrentariam em uma batalha épica. Quase que instantâneamente fomos escolhidos para participar do teste. O objetivo era descobrir quem matou o drácula. 

A brincadeira era coletiva mas os detalhes da trama precisavam ser negociados. Fui chamado pela instrutura juntamente com Filipe para uma área reservada, com o intuito diplomático de interrogar meu opositor e de descobrir o máximo de informações relevantes para passar a meu grupo. O clima era muito tenso e as negociações duravam às vezes horas.

O empenho era formidável em descobrir quem matou o vampiro. Acreditávamos na liberdade da história, no poder da persuasão e na capacidade de invadir o castelo, tudo apenas no mundo das idéias e dos argumentos. Era uma espécie de RPG sem encenação, um teatro ideológico.

Paradoxalmente, apesar de livres no domínio da oratória e no jogo das idéias, descobrimos recentemente que percorremos o caminho em direção ao cárcere da escuridão. Conde Drácula vivia no isolamento noturno de seu castelo e tinha medo da claridade. Fomos exatamente marionetes do destino, como o vampiro,  presos no tormento das sombras e afastados do campo das luzes, da iluminação.

Enquanto a disputa acontecia, não tínhamos a percepção de que víveríamos tanto tempo em um castelo de trevas e ilusões, domados pelo demônio da privação intelectual e da perseguição moral. Não sabíamos que na verdade entraríamos no beco escuro da ignorância e da solidão.

Mas, apesar de tudo, é na dificuldade que surgem as grandes idéias. Como diria o escritor Augusto Cury, "O pessimista enxerga os raios, enquanto o otimista percebe na chuva a oportunidade única de semear, cultivar". Foi então que percebemos, na amargura da prisão, e no alto da masmorra da desilusão, que mesmo encarcerados poderíamos nos libertar da opressão. 

Fomos seduzidos pela princesa do castelo. A idéia do xaveco foi brilhante. Como o castelo era bem fortificado, pedimos para que a princesa trouxesse nossas capas. Voamos da escuridão da torre em direção à luz das idéias. Aqueles que se sentem isolados, deprimidos e infelizes, devem aprender esta lição: da tempestade de nossas vidas, em vez de focar os raios que nos perturbam, podemos aproveitar a oportunidade para voar sob a chuva e semear no campo da imaginação.  Agora, vestindo nossas capas, o show está prestes a começar!
0 comentários

Bethânia e a galinha dos ovos de ouro - Nossa subjetividade à mercê do capital


Há pelo menos dois pontos de vista sobre Maria Bethânia e a sua galinha dos ovos de ouro de 1,3 milhão de reais. O primeiro seria aquele composto por burocratas (avessos à cultura), ressentidos e alguns poucos contrários a qualquer tipo de lei de renúncia fiscal,  seria o de considerar um absurdo a intérprete arrecadar tal quantia para um blog - dizem os ressentidos e burocratas - de poesia - dizem os burocratas. O segundo ponto de vista é daquele que acredita que essa quantia não representa e nem deveria ter feito tanto barulho, já que além de ser um incentivo necessário à nossa cultura, o dinheiro ainda não foi "entregue" apenas "encomendado", sendo que os produtores de Bethânia foram permitidos captar tal verba através da uma lei de renúncia fiscal¹.

Não posso dizer que discordo plenamente de ambas as opiniões. É óbvio que o Brasil necessita sim, de uma cultura desenvolvida e para isso precisa de meios para executá-la. E, sim, me agrada a ideia do blog de Bethânia.

Contudo quando se fala de dinheiro público - sim, DINHEIRO PÚBLICO! - seja para qual meio for, não podemos simplesmente nos esquivar  por ser uma artista importante que contribui para nosso enrijecimento  cultural.

Ora, vamos lá. A lei em questão, em poucas palavras, não passa de desvio de dinheiro público para o setor privado. Já que esse dinheiro teria de ser repassado primeiramente ao governo, para então ser destinado à cultura, educação, etc. E ao contrário disso, o que acontece é que fica a critério de um diretor de marketing, ou coisa que o valha, decidir aonde é importante e rentável para sua empresa injetar aquele dinheiro - aí, outro ponto, já que além da renúncia fiscal, a empresa tem seu nome divulgado nas obras de seu interesse(propaganda), sem contar os trambiques de renunciar 1 milhão, injetar 300mil  e ficar com o resto.

Dessa forma, deveríamos usar toda essa energia critica atual e repensar como são feitos shows  de Ivete Sangalo, Roberto Carlos, ou espetáculos como Cirque de Soleil - e centenas de outros exemplos inesgotáveis.

Que é triste ver uma artista consagrada tendo a possibilidade - que acaba por ser efetiva, dados os fatos de "sucesso" da intérprete -  de captar tanto dinheiro em detrimento - sim, em detrimento - de outro artistas e  novos coletivos de trabalhadores de cultura, sim, é deprimente.

Que lamentável ver que ainda vivemos num mundo que frases como essa sejam tão facilmente objetivadas e aceitas: "... Não vivemos de palavras bonitas, mas sim de dinheiro, o Brasil precisa é de educação financeira"² - não que em nosso sistema econômico não seja este o carro-chefe, mas a frase como fim não deve contemplar a ninguém.

Mas o que mais entristece é que num sistema fadado às ruínas do apocalipse, anunciado há muito por um messias chamado dinheiro, nós trabalhadores, sejam da cultura, da arte ou não, e sobretudo estes como Maria Bethânia, que são como espécie de nossos "mestres", aceitem ainda que nossa subjetividade seja condicionada por aqueles, que por toda sua vida, se dedicaram a nos enfiar goela abaixo uma realidade sem nuances, desromantizada, mórbida ou simplesmente controlada.

¹ Lei Rouanet http://www.cultura.gov.br/site/categoria/apoio-a-projetos/mecanismos-de-apoio-do-minc/lei-rouanet-mecanismos-de-apoio-do-minc-apoio-a-projetos/

²Comentário do vídeo de Daniel Fraga em http://www.youtube.com/watch?v=zIKu3HZs_Qs
0 comentários

O dinheiro de Deus e a religião dos trízimos


O cajado do Moisés bíblico nunca foi tão caro, segundo palavras do próprio bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). No video que disponibilizamos abaixo, antigo mas surpreendentemente atual, ele menciona: "Moisés bateu com seu cajado em uma pedra e dela saiu água.. por acaso!?!.. pergunte ao povo quem é que gostaria de ter o cajado de Moisés... pois você tem! Agora é só você usar o seu cajado, agora traz 10 mil aqui".

Quem pensa em adquirir sua casa própria poupando ou financiando, precisa repensar seus conceitos. Pelo menos é o que afirma na sequência do video o pastor Silas Malafaia da Igreja Assembléia Vitória em Cristo, que sugere um pomposo dízimo:  ".. Num envelope especial você vai oferecer um aluguel seu, você paga aluguel? Pega esse aluguel de Abril a Dezembro, divide ele, por exemplo... eu pago R$ 500,00 de aluguel.. eu vou oferecer uma semente de um aluguel para que o Senhor possa abrir a porta para que eu possa ter a casa própria..." O absurdo continua de forma descarada quando o mesmo pastor sugere para aquele que mora de favor, desempregado, a contribuir com 30% do que tem.

Já pela Igreja Mundial do Poder de Deus, o apóstolo (?!) Valdemiro Santiago pede em Dezembro aos fiéis que além da devolução (?) dos 10% de Deus cada um dê mais 20% e diga: "Senhor, de tudo o que eu ganhar 70% é meu e 30% de sua obra". A situação chega a ser ridícula quando faz uma analogia esdrúxula entre a santíssima trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) e os 30%. Com uma música barroca de fundo, ao som de violinos, chega a mencionar que uma vez recebeu a inspiração de Deus "no ar".

Outras igrejas acabam usando da criatividade, como a oferta de pacotes pequenos de plástico com cimento para a benção da casa própria. Há também pós consagrados por reverendos, Em um ritual de exorcismo, um pastor diz que precisa "mandar todos os bixos embora senão não vai caber aqui na frente". Para piorar, além da humilhação da enganação, as pessoas deitadas no chão são chamadas de "fracassadas"; para outra ele torna a dizer "Jesus, tem uma bucha de cabelos no estômago dela, foi feito um trabalho de Vodu, magia negra"

Reparem que nem comentamos sobre a Igreja Católica, pois precisaríamos de um livro para falar de padres bêbados e pedófilos. Imaginem então se fossemos discorrer sobre a Santa Inquisição, os dogmas e as apropriações indevidas pela Santa Sé. Preferível é informar, educar e alertar as pessoas para que não caiam no conto do Vigário religioso. Se você tem a crença em um Deus, seja Jesus , Alá ou Júpiter, procure ler e conhecer toda a obra de seu mestre. Perceberá que existe uma distância muito grande entre o que pregaram e todo esse comércio  inescrupuloso que virou a religião.



0 comentários

Two and a Half Woman



O ator Charlie Sheen do seriado "Two and a Half Man" parece que ficará pouco tempo desempregado. A demissão do programa foi motivada por uma série de problemas pessoais do ator envolvendo o uso de álcool e drogas. Steven Hirsch, dono da produtora de filmes adultos "Vivid Entertainement", convidou Sheen para dirigir um filme erótico intitulado "Two and a Half Woman", de tradução "Duas mulheres e meia".

O título da produção não poderia ser mais realista. Em alusão a música de Martinho da Vila, "Já tive mulheres, De todas as cores, De várias idades, De muitos amores, Com umas até, Certo tempo fiquei, Pra outras apenas , Um pouco me dei", já tivemos muitas mulheres para amar, mas no final das contas parece que sempre desejamos a metade que sobra.

Na adolecência, desejamos colecionar troféus ansiando por ficar com o maior número de mulheres. No início da vida adulta, buscamos todas as aventuras sexuais tendo como motivação a beleza, sem prestar atenção naquilo que mais importa na vida a dois, o companheirismo e o respeito.

Muitos já tiveram duas ou até três mulheres ao mesmo tempo, mas o que falta no fundo é sempre aquela metade que complementa nossas vidas. A mulher que divide e preenche nosso ser de amor e carinho, que compartilha a dor e a alegria, que sempre está presente nos momentos mais difíceis.

É a metade que alimenta a alma, que faz do viver uma constante alegria. Estamos procurando o amor no supérfluo e no banal, na quantidade em vez da qualidade. Um coração amargurado e sincero deseja o companheirismo, uma mente perturbada e abalada deseja o fetichismo.

Uma existência gananciosa e motivada pelo apego material traz a eterna insatisfação do constante querer e, portanto, leva ao sofrimento. Um mundo feliz e sadio é feito somente por pessoas felizes. Uma sociedade que defende e  aplaude o machismo como sendo uma vantagem existencial está fadada ao colapso emocional. Tudo o que devemos desejar do esbanjamento e das mulheres de Sheen é somente aquela metade de mulher que poucos valorizam. Nada mais.
0 comentários

Tsunami no Japão, assassinato no Brasil

Foto *

No dia 12 de Março desse ano, a Terra tremeu. E muito: quase 9 graus na escala Richter, o suficiente para ter deslocado a Terra em 10 centímetros de seu eixo de rotação. O Japão foi o país mais afetado pela tragédia, já que está localizado na região que concentra a maior atividade vulcânica e abalos sísmicos do planeta. 
Podemos dizer que o mundo é dividido em 10 placas tectônicas principais. O arquipélago onde está o Japão fica entre as placas do Pacífico, Eurasiana e Filipina, zona de constante movimento. Não à toa, é o país mais preparado para lidar com esse tipo de desastre. Tem barreiras de contenção marítimas, prédios especialmente construídos para não sucumbir a terremotos e alarme contra desastres. Mesmo esse preparo não foi suficiente para evitar mais de 5.000 mortes decorrentes desse tremor (e o consequente Tsunami que o sucedeu).
Literalmente do outro lado do mundo, está o Brasil. No meio da placa Sul-Americana, o país não tem mais nenhum vulcão ativo. As possibilidades de um terremoto são remotas, quase nulas, quiçá um tsunami. Não há como atribuir ao homem a sorte de termos nosso país localizado numa zona distante de acidentes sísmicos, mas há sim como lembrar que o homem -- e só ele -- é o culpado pelas mortes evitáveis em tragédias de muito menor escalão que a ocorrida no Japão.
No mês de Janeiro desse ano, choveu. E muito: o equivalente a 18 chuvas de verão seguidamente num período de 4 horas na região serrana do Rio de Janeiro, de acordo com o estudo do Coope/UFRJ. E falando só do desastre dessa região no início desse ano, foram computados quase 1.000 mortos e 707 desaparecidos (de acordo com a listagem oficial de 17/03 do Ministério Público do Rio de Janeiro). Somando mortos e desaparecidos até o momento de ambas as tragédias, as chuvas no Rio de Janeiro provocaram quase 50% do número de vítimas que um tsunami e um dos maiores terremotos da história da humanidade provocaram no Japão.
Foto: Portal R7
Mas o cerne dessa discussão não é o número de vítimas: são as mortes que poderiam e que foram evitadas. O governo japonês sabe que seu país é vulnerável à abalos sísmicos e investe na prevenção de tragédias que possam ocorrer por conta disso. O governo brasileiro sabe que algumas regiões do Brasil são extremamente vulneráveis à chuva e outras intempéries e quais sãos as medidas que adotam efetivamente para prevenir tragédias decorrentes dessas fragilidades? Nós vimos no começo do ano: nenhuma.
Temos de ser solidários às vítimas japonesas, temos que ser solidários às vítimas fluminenses, temos de ser solidários com todos aqueles que sofrem por conta de desastres. Só não podemos ser solidários com a omissão do governo face a tragédias iminentes. Já falta comida, falta salário, faltam empregos dignos, falta educação, e contra isso o governo só toma medidas paliativas. Na iminência de faltar vidas, não investir em prevenção é assassinato.
O mesmo estudo que citei alguns parágrafos acima disse que provavelmente não teremos chuvas como as do início desse ano no Rio de Janeiro pelos próximos 500 anos. Espero que não levemos tanto tempo para lutarmos contra o descaso e fazer com que o governo assuma a responsabilidade que lhe é imputada tanto pelas leis, quanto pelo nosso voto. Nós não podemos atentar contra a vida alheia, é crime. Por que é que o governo pode atentar contra a nossa?

*Fonte da Foto: http://feitoagora.com/tsunami-japao-2011/ - fotógrafo não citado
0 comentários

Brainstorm espiritual: a realidade cósmica desconhecida


Dizem que a melhor forma de aprender algo é compartilhar e fazer outras pessoas aprenderem, então em meio a tantas notícias sobre política, terremoto, tsunamis e radiação nuclear, paremos por um instante para refletir sobre porque tudo isso acontece, olhar para o passado tão desconhecido de nosso planeta e concluir no que há além da atmosfera. Este texto é um brainstorm realizado em uma das muitas madrugadas em que não consigo dormir, não por falta de sono, mas por perturbações de pensamentos nada cotidianos.

Nós, terráqueos de forma humanóide, que vivemos neste planeta achando que ele nos pertence, usurpamos e destruímos um patrimônio que nunca foi e nunca será nosso. Em nome de um Deus que supostamente nos criou aqui, vivemos livremente sem restrições ou obrigações para com a meio ambiente que nos foi emprestado. O ser chamado humano é uma anormalidade na face deste planeta, George Carlin explicou isso de uma forma muito simples e cômica neste vídeo, a origem de nosso código genético remonta a outros códigos modificados, parte com animais desse planeta, parte com seres desconhecidos, os chamados deuses que em algum momento viveram nesta mesma Terra.

Mas isso é teoria básica, partindo do princípio que todos estão numa série mais avançada deixemos a aritmética de lado e vamos para a Álgebra. Pelos parâmetros da ciência atual, tudo o que estou falando não existe, mas com um pouco de lógica e raciocínio empíricos você consegue chegar a essas conclusões facilmente.

Chamamos dimensão a tudo que nossos sentidos não conseguem captar, por exemplo as ondas de rádio, antes da invenção do rádio elas não existiam? Claro que sim, não enxergamos, ouvimos ou sentimos com nosso corpo, mas você sabe que ela está lá, pois você olha para seu celular e vê as barrinhas de sinal cheia indicando que elas existem.

Os seres humanos possuem 2 estados de vida individual, uma chamada de encarnada, considerada por mim uma das mais densas desse universo (outros universos você conhece com a teoria das super cordas), e outra chamada desencarnado, que se assemelha mais a outras formas de vida em outros planetas.

Estes 2 padrões dizem respeito ao estado do que chamamos de dimensão, quando saímos do padrão que conhecemos como matéria (ao morrermos), continuamos conscientes de nossa consciência dessa e de outras matérias que fizemos parte (vidas), concluímos então que o espírito pode ser chamado de matéria, porém em outra dimensão que não difere muito dessa, ela também tem um espaço físico no planeta, tem limitações impostas por leis, e é precedido e subseqüente de muitas outras dimensões, cada uma com suas próprias leis de acordo com a “freqüência física” de cada uma.

As dimensões que estão além, não possuem uma forma física tão concreta quanto a nossa, e possuem meios de se comunicarem com freqüências inferiores e superiores e até perceberem a presença no mesmo espaço em que duas estão, isso torna a nossa encarnação atual um veículo completamente isolado do resto do universo, pois pelas limitações impostas pela nossa dimensão não podemos nos comunicar com tanta precisão e proveito com nossas formas desencarnadas, e muito menos com formas em espaços muito distantes, como em outros planetas.

Neste ponto estamos nos perguntando, qual o sentido de tudo isso? Percebemos que nosso estado encarnado, que possui duração média de 80 anos, é só um de muitos que já vieram e serão em outras encarnações, e seu estado espiritual é algo mais concreto e duradouro do que sua própria vida.

A realidade cósmica não pode ser entendida por números ou expressa em um papel, sua totalidade não cabe na nossa consciência, só nos resta tentar estender ao máximo o conhecimento das dimensões que são mais próximas a nossa.

Vale a pena assistir o vídeo para compreender:



Bibliografia e sugestão de leitura:

  • Robson Pinheiro
  • Crepúsculo dos Deuses
  • Editora Casa dos Espíritos
0 comentários

Vale a pena acreditar: Protesto com óleo marca entrega do Prêmio Shell de Teatro

Abaixo, disponibilizo a notícia do portal Terra, sobre o protesto feito pelo Grupo de Teatro Dolores Boca Aberta durante a 13º edição do prêmio Shell de teatro.

Antes, algumas considerações minhas sobre a notícia

Vivemos, talvez, um dos períodos mais preocupantemente pacientes da história, isso tanto para aqueles visto como sendo comum, quanto para outros, considerados em nosso 'sistema' "artistas". A maior parte dos artistas, principalmente aqueles que "produzem" constantemente, seja através da renúncia fiscal ou dos prêmios advindos dos editais públicos, não tem grandes preocupações nem discutir, expandir essas leis ou formas de fincanciamento da cultura - claro, por já terem encontrado o canal de construção de sua unidade, e ainda mais que isso, pouco se importam quanto a contrapartida social para/COM o povo, que é de onde nascem os recursos para que as obras venham à tona.
Contudo, esse panorama já vem mudando há muito tempo, com os grupos de teatro da cidade de São Paulo, que não só protestam, lutam, para que existam de fato leis e formas de financiamento público para a cultura, junto à cidade e não mais como um produto a ser vendido, mas também estão engajados em algo muito maior: a emancipação total do homem. Utopia ou não, é isso que ainda faz sorrir.

Entres muitos, um deles é o Grupo Dolores Boca Aberta. Para muitos a ação do grupos foi "Extremista"(Marcelo Tas), para Beth Goulart foi "desnecessário", e para mim foi e será algo que deve estar marcado na história, como um dos pontos mais marcantes do espírito de nosso tempo. Afirmações como as anteriores só comprovam a complacência e conformismo de nossos "formadores de opinião" e sua opção por manter o status quo de nossa sociedade.
O que o grupo em questão fez, diferente dos críticos à atitude, foi quebrar com a hipocrisia das relações de trabalho e classe, onde por conta de ações de caráter "ONGuista", essas grandes corporações tentam nos enfiar um opium e congelar nossa visão crítica, como a de Marcelo Tas - que de uma vez por todas prova, que o CQC não passa de uma "sacada(R$)" e das grandes.

"Receberam um carinho e deram um tapa.": Não há carinho para quem luta de forma que seu processo de trabalho chegue aqueles, em muitos casos literalmente, deram seu sangue para nascer algo que nunca nem saberão se é, foi ou será.
Parabéns ao grupo, e se for assim que seja: Continuem estapeando, negando esse carinho morto e fazendo o lindo trabalho que fazem, que conheço e recomendo.

A atriz Nica Maria jogou óleo queimado, simulando petróleo, no ator Tita Reis, que segurava o troféu. Foto: Fernando Borges/Terra
A atriz Nica Maria jogou óleo queimado, simulando petróleo, no ator Tita Reis, que segurava o troféu

FONTE DA NOTÍCIA ORIGINAL: http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI4995020-EI3615,00-SP+protesto+com+oleo+marca+entrega+do+Premio+Shell+de+Teatro.html
ELISANGELA ROXO
ANDRÉ ALOI

Dois atores do Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Arte, premiado na Categoria Especial do 23º Prêmio Shell de Teatro, protestaram na entrega dos troféus na noite desta terça-feira (15) em São Paulo.
A atriz Nica Maria jogou óleo queimado, simulando petróleo, no ator Tita Reis, que segurava o prêmio durante o discurso. "Nosso corpo de artistas explode", disse Reis. Com o o rosto cheio do líquido preto, citou no discurso "crianças iraquianas que explodem". "É bom poder contar com empresas ecológicas e politicamente corretas de fato", ironizou sobre a Shell, patrocinadora do evento.


Em entrevista ao Terra por telefone, após a premiação, o representante do grupo, ator e diretor Luciano Carvalho explicou que o protesto se deu "pela contradição de a categoria teatral não dialogar e ter como intermediário uma multinacional petrolífera".


"É um fato alarmante porque nós, os 'fazedores de teatro', não temos controle sobre a direção das políticas públicas, inclusive de cultura e uso do subsolo. A gente recebe o prêmio de cabeça erguida porque o dinheiro é de trabalhadores e cooptado e expropriado por essa empresa", completou. O grupo deve soltar uma nota sobre o ocorrido em seu site oficial na quarta-feira (16).


Todos os vencedores recebem uma escultura em metal em forma de uma concha dourada, inspirada no logotipo da Shell, e uma premiação individual de R$ 8 mil. O Dolores Boca Aberta concorria, entre outros, com a atriz Karin Rodrigues, viúva de Paulo Autran (morto em 2007) e indicada pelo encaminhamento e socialização do acervo pessoal do ator a instituições culturais na Categoria Especial. O ator Norival Rizzo, na disputa por sua atuação em 12 Homens e Uma Sentença, criticou a escolha do grupo na categoria. "Acho que o prêmio especial não deveria ter concorrência, mas ser entregue direto a Karin", explicou. "Foi uma atitude de visão pequena da parte deles, são extremistas", disse o apresentador Marcelo Tas, casado com a atriz Bel Kowarick, indicada ao prêmio por Dueto para Um. "Eles não conseguiram enxergar a coisa maior de tudo isso e se igualaram a quem só quer aparecer na revista Caras.


Para a apresentadora do prêmio, Beth Goulart, a atitude foi desnecessária. "Receberam um carinho e deram um tapa." O autor premiado da noite, Leonardo Moreira, da peça Escuro não se incomodou com o protesto contra a Shell. "Cada um faz seu discurso. Acho legal ter esse espaço." Escuro era a favorita da edição, das cinco indicações que teve, levou três prêmios, por autor, figurino e cenário. Bete Dorgam, de Casting, foi eleita a melhor atriz e Luciano Chirolli, por As Três Velhas, melhor ator. Rodolfo García Vásquez, do grupo Satyros, ganhou como diretor pelo trabalho em Roberto Zucco. 


Veja a lista completa dos vencedores:
Música
Fernanda Maia por Lamartine Babo
Iluminação
Caetano Vilela por Dueto Para Um
Figurino
Theodoro Cochrane por Escuro
Cenário
Marisa Bentivegna e Leonardo Moreira por Escuro
Categoria especial
Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes pela pesquisa e criação de A Saga do Menino Diamante - Uma Ópera Periférica
Direção
Rodolfo García Vásquez por Roberto Zucco
Autor
Leonardo Moreira por Escuro
Ator
Luciano Chirolli por As Três Velhas
Atriz
Bete Dorgam por Casting
Homenagem
Maria Alice Vergueiro, paladina do teatro experimental brasileiro.
0 comentários

Direto do Egito: Revolução precisa avançar!

A revolução no Egito foi vitoriosa ao derrubar Mubarak, mas ainda existe muito a avançar. Nem todas as reivindicações do povo foram atendidas: em especial, a queda de todos os líderes ligados ao antigo ditador e a libertação dos presos políticos. Além de novas prisões e torturas ocorrendo no país, o governo de transição manteve no poder Mohamed Hussein Tantawi, ex-general de Mubarak, reconhecido pelo próprio governo norte-americano como um dirigente conservador.
O povo está em festa até agora, mas existe uma forte pressão, tanto internacional, como das forças armadas, para limitar a revolução. "O povo trabalhador está alerta. A bruxa ainda está solta, vamos ver", diz Fábio Bosco, enviado da LIT-QI ao Egito, com exclusividade para este blog. "Já houve um primeiro triunfo, agora se disputa se a revolução para ou avança, isso não está claro. O governo, o exército, o imperialismo [e] os partidos burgueses de oposição querem parar o processo", complementa.
O processo que Bosco menciona é justamente a onda revolucionária que se alastra pelo Oriente Médio, podendo inclusive influenciar países da Europa onde já há a revolta contra as reformas previdenciárias e outras medidas governamentais que afetam negativamente os trabalhadores. "[Há uma] pressão total para brecar a revolução. [Vem] dinheiro dos EEUU e Europa para tentar corromper o novo sindicalismo. É um terror", resume.
Apesar da conjuntura indefinida quanto aos rumos que a revolução deve tomar, Fábio diz que é difícil que os fundamentalistas assumam o governo do Egito, como aconteceu no Afeganistão no passado. "Os fundamentalistas aqui são muito fracos. A irmandade muçulmana é neoliberal, e a ala que prevalece não é fundamentalista", explica. "A massa é contra o imperialismo e contra Israel, mas os partidos burgueses, entre os quais a irmandade, querem só uma convivência pacífica".
Face à conjuntura atual, os trabalhadores egípcios ainda não estão satisfeitos e seguem na luta. Derrubar Mubarak foi o primeiro passo. Mas só o primeiro.

(agradecimento especial ao Fábio Bosco)
0 comentários

Tsunami social: o poder do petróleo

Relatório emitido pelo US Accountability Office em Fevereiro de 2007 mostra que atingiremos o ápice mundial na produção de petróleo por volta do ano de 2040. Os EUA, que é o maior consumidor mundial, já atingiu o pico de produção nos anos 70. Em 1950, produziam a cifra de 10 milhões de barris diários e consumiam 7 milhões. Todo o excedente era exportado. Nos dias de hoje, a produção americana é de 8,3 milhões de barris/dia e o consumo interno já está em 20 milhões. Em questão de 60 anos, a maior economia do planeta passou de exportadora a importadora do produto. A dependência externa está criando um contexto de tensão político-militar de consequências globais.

O crescimento dos chamados países emergentes, como é o caso de Brasil, México e Índia, e a demanda cada vez maior dos países industrializados e da China representa um problema sério que pode assumir dimensões catastróficas caso não haja o incentivo à pesquisa de novas fontes de energias renováveis. O petróleo e seus derivados, como a gasolina, o diesel, o gás e o combustível de jatos, é a principal fonte de energia consumida no mundo. Por ser uma fonte de energia não renovável, a escassez é apenas uma questão de tempo e segundo alguns críticos o processo já está em andamento.

Qualquer interrupção no processo de produção do petróleo, como guerras ou atentados terroristas, pode desencadear uma recessão global. Em uma sociedade capitalista, a baixa oferta de um produto eleva seu preço. As indústrias e os meios de transportes que dependem do combustível são obrigados a repassar o aumento aos consumidores para garantir o lucro. A inflação aumenta e o poder de compra diminui. A sociedade entra em depressão e o caos político e social cresce à medida que o desemprego aumenta.

O maior perigo deste século é a repetição do que ocorreu nos EUA, mas agora em contexto mundial. A chamada Doutrina Carter estabeleceu em meados dos anos 80 que toda a região do Oriente Médio seria assunto de segurança nacional. Após a crise de 1973, quando integrantes da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) aumentaram o preço do barril de petróleo em represália ao apoio norte-americano a Israel na guerra de Yom Kippur, toda a geopolítica passou a se concentrar em torno das maiores regiões produtoras de petróleo, em especial o Oriente Médio.

Um economia forte, em depressão, e com alto poderio militar pode ser capaz de justificar guerras em nome da segurança nacional. O Iraque foi invadido em 2003 sob o pretexto de que o país representava uma ameaça à democracia mundial. A invasão foi oficialmente motivada com a alegação de que o país possuíria armas de destruição em massa, fato este que nunca se comprovou. Ademais, sabemos que o Iraque é membro da OPEP e que a guerra foi iniciada pelos EUA de modo absolutamente unilateral, sem aval do Conselho de Segurança da ONU.
Conflitos armados, como a Guerra Irã-Iraque na década de 80, tiveram a participação norte-americana com o fornecimento de armas ao Iraque de Saddam Russein. A Revolução Iraniana de 1979 representava uma ameaça aos interesses americanos na geopolítica da região. O ditador  iraquiano apoiado pelos EUA na década de 80 foi deposto na Guerra do Iraque com essencialmente o mesmo propósito ímplicito de se manter o controle estratégico na produção petrolífera.

A corrida armamentista da Guerra Fria terminou com a queda da ex-URSS, mas acabou dando lugar a uma guerra econômica pela hegemônia de mercados. Nesta sociedade globalizada, em que os fins justificam os meios, tudo é possível na busca da manutenção do poder. Nada será capaz de impedir que uma nação desenvolvida use de sua força militar para manter a liderança e a soberania nacional. O prêmio é uma fonte de energia não renovável e portanto  com os dias contados. Resta-nos apenas torcer para que a ciência e a humanidade encontrem uma forma racional para superar as adversidades que certamente já estamos enfrentando.
0 comentários

Kadafi e a Europa: Sempre bons negócios

Por trás da pressão internacional para Kadafi deixar o poder na Líbia, um histórico de boas relações comerciais contradiz os governos dos Estados Unidos e da União Européia, que outrora"anistiaram" o ditador responsável por diversos ataques terroristas internacionais, incluindo uma bomba em um avião da PanAm que sobrevoava a Escócia. Vou colocar alguns dados que coletei em uma palestra e em pesquisas e suas interpretações, além de mostrar que o ditador tem muito a ver com logomarcas que todos nós conhecemos.
Muamar Kadafi tomou o poder na Líbia através de um golpe militar, pregando o fim do colonialismo italiano e exaltando o nacionalismo líbio. Tão logo virou chefe de Estado, expulsou da Líbia todos os italianos (segundo dados do "O Globo", mais de 20.000) e tomou suas propriedades. Mesmo assim, sua relação comercial com a Itália não foi abalada: em 1956, a ENI (gigante de energia italiana) começou a operar no país, e lá se mantém até hoje. Hoje, pelo menos 22% de todo o petróleo da Líbia e 10% do gás natural são fornecidos com exclusividade para a Itália. (fonte: Luiz Felipe Lampreia em "O Globo")
E não é foi só com o fornecimento de petróleo que a Europa se beneficiou do dinheiro de Kadafi: o ditador chegou a fazer um aporte na Fiat quando a empresa estava na iminência de quebrar, adquirindo 10% do capital acionário da montadora. Em plena crise mundial de 2008, o Banco Central da Líbia adquiriu 4% do UniCredit, o maior banco italiano e um dos maiores da Europa, salvando o banco que estava passando por uma situação problemática. Até no Juventus ele tem participação: 7,5% foram comprados pelo Fundo Soberano da Líbia, o que garantiu que seu filho treinasse e participasse de alguns jogos no time.
Estima-se que Kadafi tenha participação em 72 companhias em mais de 45 países (fonte: IstoÉ Dinheiro). No nosso país temos o banco ABC Brasil, filial do Arab Banking Corp, do qual ele é acionista, além de 1,2 bilhões de dólares investidos na Bahia em produção de alimentos, em parceria com a Odebrecht. Por toda a Europa, tem participações em petrolíferas, mineradoras, imóveis e até na mídia: é um dos investidores do Financial Times. Na Ásia, é dono de uma rede de hotéis e no Marrocos, de supermercados. Beneficiaram-se também do fundo líbio empresas como a Xerox, Shell, Siemens, Móbil, etc.
Não é de se espantar, portanto, que as armas da parcela fiel de seu exército (cerca de 5.000 de 400.000 homens) foram fornecidas por países Europeus e hoje são usada contra o povo. Mesmo com o congelamento de parte de suas reservas em outros países, Kadafi ainda conta com fundos depositados em Trípoli, que permitem-no financiar a guerra contra seus opositores. Depois de toda essa "lua de mel", os países que outrora beneficiaram-se do ditador, para aplacar o clamor público (e a possibilidade da revolução atingir outros países, tanto no Oriente Médio, como na própria Europa, onde há uma crise por conta das reformas previdenciárias), agora pedem sua saída.
Parte do povo líbio não aceita a intervenção militar internacional, e com razão. Que democracia aqueles que apoiaram a ditadura pretendem implantar no país? A continuidade da submissão, da extração de recursos, de desvio das riquezas e benefício da burguesia local? Derrubar o ditador significa acabar com a submissão, tanto ao governo quanto à exploração internacional, essa é a verdadeira luta do povo na Líbia. Isso sim é acabar com a ditadura. Caso contrário, chamar o novo regime de democracia será apenas uma diferenciação semântica.
0 comentários

Seja um colaborador

Recentemente, com o aumento dos pagehits do blog e com a premissa que aprendi em quase 10 anos de militância política de que por melhores que possam ser as idéias individuais, elas nunca serão superadas pela idéia de um coletivo, abri o blog para participação de colaboradores, quer esporádicos ou permanentes.

É óbvio que as colaborações devem ser de pautas afins com nosso blog: pautas quentes sobre atualidades, política, religião, de preferência sobre um assunto que já esteja sendo discutidos por outros colaboradores naquele momento. Para colaborar, preencha o formulário abaixo, que será enviado para os editores e submetido à nossa apreciação:



Entraremos em contato tão logo quanto possível. Desde já, agradecemos pelo interesse.
0 comentários

O perigo do fundamentalismo religioso no Brasil


Em um momento onde urge a discussão sobre a possibilidade do vácuo dos governos derrubados no Oriente Médio ser preenchido por uma ditadura religiosa fundamentalista, tal qual foi no Afeganistão e Paquistão, desvio um pouco esse debate para a possibilidade e consequências do fundamentalismo religioso no Brasil, baseado na ascenção e infiltração na política dos neoprotestantes, vulgo
evangélicos em suas várias denominações, bem como o controle de diversos meios de comunicação e empresas por parte das igrejas evangélicas. Para iniciar, é de suma importância conceituar o fundamentalismo:

Movimento religioso e conservador, nascido entre os protestantes dos E.U.A. no início do século, que enfatiza a interpretação literal da Bíblia como fundamental à vida e à doutrina cristãs [Embora militante, não se trata de movimento unificado, e acaba denominando diferentes tendências protestantes do sXX.] (Houaiss)

Vê-se que o termo está associado à interpretação literal da Bíblia, no início do século XX. Quando, por livre extensão de sentido, associamos este termo a política e à ditadura, estamos falando de autoritarismo:
Em sentido generalíssimo, fala-se de regimes autoritários quando se quer designar toda a classe de regimes antidemocráticos. [...] A oposição política é suprimida ou obstruída [bem como o pluralismo partidário. [...] (Norberto Bobbio, Nicola Matteuci e Gianfranco Pasquino - Dicionário de Política)

No Islã, dois movimentos políticos disputam a forma de governo e a moral que deve ser seguida: os sunitas (que seguem a "Suna", livro que define questões não muito claras no Corão), que reconhecem um líder religioso eleito pela população e representam 80% da comunidade islâmica do mundo, e os xiitas, que seguem à risca o Corão e defendem que o líder político e religioso deve ser descendente direto de Maomé. É importante lembrar que o islamismo é a religião que mais cresce no mundo.
Ao mesmo tempo, no Brasil, estima-se que as correntes neoprotestantes (que inclui os neopentecostais, ambos chamados de evangélicos) são as que mais arrebatam fiéis anualmente. Num país com quase 200 milhões de habitantes, diz-se que 2 milhões de pessoas são convertidas à essa fé ano a cada ano. Proporcionalmente, podemos dizer que o neoprotestantismo está para o Brasil tal o Islamismo está para o mundo. Discuto, portanto, as semelhanças entre o fundamentalismo religioso no Brasil e no Oriente Médio, mesmo que esteja falando de religiões diferentes.
Interessante ler o artigo do Cristiano postado nesse blog, O Fim do Mundo Já Começou, para ter alguns exemplos da propagação do fundamentalismo neoprotestante pelo mundo. No Brasil, podemos dar o exemplo da Folha Universal, "Um Jornal a serviço de Deus" (que Deus?), que fala sobre política e propaga a moral ditada pela igreja de Macedo, bem como a Rede Record, uma das maiores emissoras do Brasil e controlada pela IURD, que recentemente ampliou seu departamento jornalístico e frequentemente omite notícias que vão de encontro com a fé de seus controladores. Além disso, há a compra de extensos horários das televisões de menor porte para divulgar programas evangélicos, e sobretudo, temos

o maior símbolo da influência política neoprotestante no Brasil: a bancada evangélica no Congresso. O poder da manipulação dos líderes religiosos evangélicos é tal, que se um presidente proclama sua fé agnóstica ou o ateísmo (como Fernando Henrique, Lula e Dilma), perde o apoio dos eleitores evangélicos e, sem ele, dificilmente conseguiria se eleger. Dilma, por exemplo, prometeu que não partiriam dela projetos de lei à favor do aborto, do casamento homossexual, e outras que ofendessem os preceitos literais da Bíblia seguidos por essa religião.
À partir disso, podemos dizer sim que podemos temer que um regime autoritário religioso pode (e já está) se estabelecendo no Brasil, mesmo de forma democrática. Também não podemos dizer que o Estado brasileiro é laico, uma vez que já esta seguindo os preceitos defendidos pelos neopentecostais, seja por pressão popular (oriunda da alienação), seja pelos congressistas. A linha que separa esse regime "democrático" influenciado por uma única corrente religiosa do autoritarismo é muito tênue, e pode romper-se a qualquer momento.
Defendo que devemos ir contra a religião? Não. Repito o que sempre digo em outras postagens: concordo com a Constituição no que diz respeito à livre manifestação de pensamento. O pensamento, todavia, é plural, e assim deve ser respeitado, tal qual a liberdade de escolha. Nesse sentido, o Estado brasileiro deveria ser completamente laico. Não acho que os congressistas não devem ter suas próprias religiões: acho que eles deveriam defender a liberdade de crença, como estabelecido pela Constituição à qual estão submetidos. Caso contrário, continuaremos caminhando rumo ao autoritarismo, e em passos largos. É a volta da ditadura, mesmo que não seja militar. Contra isso, sim, devemos lutar.
1 comentários

O fim do mundo já começou

Um grupo cristão denominado Family Radio anunciou que o mundo acabará este ano, mais precisamente no dia 21 de Maio (http://worldwide.familyradio.org/pt/). A argumentação pautada na lógica dos preceitos divinos é baseada na interpretação literal da bíblia sagrada. O arrebatamento estará em andamento até Outubro, quando os eleitos serão escolhidos. Como não poderia ser diferente, afirmações fantásticas sem quaisquer evidências racionais são feitas. Até mesmo a data do dilúvio, que mencionam ter ocorrido em 4990 a.C., é afirmada como uma verdade absoluta. Todavia, como explicarei no texto, o inicio do arrebatamento na realidade já se iniciou há muito tempo.

Tenho presenciado o crescimento de congregações pentecostais que se pautam na doutrina da prosperidade, uma espécie de chamariz para os desesperados e angustiados. Um senhor pouco distinto, de origem humilde, semi-analfabeto, negro, ex-viciado em drogas, que prega a cura de doenças incuráveis como câncer e AIDS é a maior sensação televisiva no atual fenômeno da conversão das massas. Com um terno impecável, palavras bem dosadas, um certo carisma e evidente inteligência, prega com um chapéu de cowboy todos os dias na tv. Um amigo evangélico uma vez me disse “Ele tem a unção de Deus”. Com mais de quatro milhões de seguidores conseguidos em pouco mais de dez anos de atividade, acaba por demonstrar toda a fragilidade e miséria de um povo que se contenta com qualquer show de calouros da vida real.

Em outra emissora um sujeito simpático e sorridente arranca "caroços" de enfermos e pede aplausos a Jesus. Carismático ao extremo, chega a cativar pela eloquência das palavras e pela oratória na pregação. Afirma com certa frequência que “Deus chamou em seu coração” quando decidiu abandonar o curso de medicina na Rússia para se dedicar aos mais necessitados. Em vez de se ater à ciência do corpo, agora busca suplantar toda a dor dos flagelos sociais através da palavra do Salvador. Certa vez, frequentando a referida igreja, fui interpelado com os demais presentes a contribuir com o ministério. Aquele que doava dinheiro para um saco vermelho que rodava o salão era abençoado pelo pregador. Naturalmente, me senti queimando no inferno pois não tinha um tostão no bolso.

Nas noites de insônia a diversão é garantida. O senhor cowboy não tem boa dicção e o missionário dos aflitos canta muito mal. A única coisa que pode me fazer cair no sono é a pregação do pastor dos relógios de ouro. Ele sim, é um "showman" do besteirol e das coisas mais ilógicas da televisão. É hábil, consegue atrair multidões pela boa oratória mas falha grotescamente no encadeamento lógico dos argumentos. Critica abertamente homossexuais, condena ao inferno quem não tem a prática do dízimo, defende o criacionismo e afirma que ateu não tem vez no reino dos céus. 

A Santa Sé tem sido mais discreta, mas não menos perversa. No ano de 2008 o então presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva (uma espécie de Tiririca do circo da vida), selou um acordo sombrio com o Vaticano. Sem cobertura da mídia, no mais absoluto silêncio democrático, este acordo inconstitucional quebra a laicidade do estado brasileiro ao instituir o ensino religioso, obviamente católico, em todas as escolas da rede pública de ensino. A liberdade de manifestação religiosa que vigora desde 1891 está com os dias contados. É uma guerra religiosa onde o prêmio é a conquista do maior número possível de miseráveis. 

Em países como a França, Suécia e Japão o percentual dos que se declaram como não religiosos é maior que 50%, enquanto que no Brasil este índice é de aproximadamente 2%. A pobreza de um povo subjulgado pelas mazelas sociais é o alimento preferido das religiões. A presença maciça das igrejas se faz presente nos países mais subdesenvolvidos. O arrebatamento ao qual nos referimos portanto já está em andamento: o dízimo dos miseráveis é o preço que se paga para o arrebatamento cada vez mais rápido dos fiéis em direção à cova da ignorância.
0 comentários

Vitória de blogueiro contra a censura

Luis Nassif moveu um processo de danos morais contra Gravataí Merengue -- que cito pelo pseudônimo, já que a baixaria de levar as coisas pro lado pessoal é de responsabilidade do próprio Nassif. Tudo surgiu por causa de um blog onde Gravataí revelava o acordo (milionário) do "jornalista de serviço" com o banco do governo, sem garantias reais (e, para os colegas bancários pergunto: quem conseguiria fazer um acordo desse no Banco do Brasil, por exemplo?).
É fato que a carta magna dispõe que "é livre a manifestação de pensamento, vedado o anonimato". Não havia anonimato. Havia, sim um pseudônimo. Isso é comum na blogosfera e, creio eu, permitido pela lei.
A proximidade do PT/Governo com Nassif é mais que evidente. Seu blog, panfletário, enaltece as ações do governo Lula (e Dilma), alternando com postagens musicais que até que me agradam. Seus fóruns de discussão são cheios de puxa-sacos e os comentários críticos são censurados integralmente ou em parte. Seria o "jornalismo de serviço" um jornalismo de "prestação de serviços"? Mais que isso, seria o "jornalismo de serviço" um novo viés do jornalismo onde a parcialidade é obrigatória?
Luis Nassif utilizou-se dos métodos do PT que ficaram famosos tanto como nas eleições, como antes dela. Discorda? Vamos para o pau! Não é admitido pensar diferente (e a tal "liberdade de manifestação do pensamento", verba legis,  que vá pra puta que pariu, já que o governo é deles)! Quando não é possível mandar a polícia bater, tenta fazer injustiça com as próprias mãos através da justiça. E lembremo-nos da Erística de Schopenhauer, se não há argumento verdadeiro para defender, utilize-se do ataque ad hominem para desestablizar o interlocutor. Não deu certo.
A tal ação foi declarada improcedente três vezes, e mesmo assim, os advogados de Nassif interpuseram recurso (vale lembrar que só estou comentando o que é público, já que a publicidade dos atos processuais é dever do judiciário, salvo excessões). Nas três vezes, os magistrados mantiveram a decisão.  E a censura -- travestida de um processo de reparação de danos por "calúnias" -- foi vencida! E olha que através de ameaças já tinham conseguido calar Janaina Leite que, infelizmente, teve que largar essa briga (mas que continua seu blog super legal, o Arrastão).
Isso abre um precedente positivo. Não é sempre que a justiça age em nosso desfavor. Evidencia que a soberania do PT é quase absoluta, mas não chega a todas as instâncias. Gravataí, mesmo que na defensiva, ganhou essa luta. Portanto, é possível lutar.
Minhas idéias não convergem o tempo todo com as do blogueiro em questão. Mas sou a favor da denúncia, da livre manifestação de pensamento, de um governo que não conte meias verdades (ou mentiras) para o povo. Nessa luta, apoio Gravataí.
Vale a pena ler o post do Imprensa Marrom que fala sobre isso (sou suspeito para dizer, acompanho o blog desde sempre). Lá as coisas estão colocadas de forma mais clara (quem sou eu para escrever tal qual um jornalista desse porte). A lição que tiro disso é: ainda há esperança! Nem sempre os mais fortes (ou mais abonados) são os que vencem! Mesmo que a luta seja contra o próprio Governo Federal (e seus representantes e puxa-sacos).
0 comentários

Resenha: Carnavelhas 2011 - Velhas Virgens em ritmo de carnaval

Esse post destoa dos demais, admito.
Mas preciso falar sobre isso. Ontem estive no Carnavelhas 2011, uma iniciativa do Velhas Virgens. Sou obrigado a dizer: foi do caraleo. Uma homenagem da banda às marchinhas de Carnaval, incluindo Adoniram Barbosa e à São Paulo. Destaque para "Feijuca na Madruga", que só quem mora aqui (e é bem andado, como eu) vai entender inteiro. Tem referência ao PPP, ao Parlapatões e, é claro, à feijoada do Estadão. Não, não tem no Youtube nem em outro lugar da internet: vai ter que comprar o CD mesmo!
O show tava baixo, mas é culpa do Café Aurora (que já foi melhor). De qualquer forma, pra quem gosta de Sampa (quem não gosta não entende porra nenhuma de Brasil) e quer ver um lado pouco tradicional do Velhas Virgens, taí a pedida.
Quem abriu o show foi o Hard Rock Society, que é uma das melhores bandas de rock que já vi em São Paulo. Também vale a pena conferir o site deles. Lá dá pra conferir o repertório e ouvir os caras. Foi a melhor atração de ontem (já que o Velhas mal dava pra ouvir).
Vai uma palhinha:
0 comentários

Re: Carnaval: Quem não tem panis, vai de circensis

Atenção: Este é um texto em resposta a postagem Carnaval: Quem não tem panis, vai de circensis. Caso não tenha lido, leia primeiro o original.

No princípio eu não iria criar uma postagem em resposta ao Carnaval, mas após ler percebi que minha opinião a respeito é muito parecida, podendo levar um pouco mais a fundo uma questão:

Acredito que hoje em dia o verdadeiro espírito do Carnaval é de que precisamos de um "tempo" para lidar e suprir os nossos sentimentos porque não conseguimos fazer isso nos outros dias.

E porque não? Não é falta de dinheiro, sexo e bebida, isso nos temos o ano todo, é o EXCESSO deles, nos temos tudo o que precisamos para suprir as necessidades básicas, mesmo para aqueles que não tem dinheiro, por isso precisamos de um dia para chegar ao auje da satisfação carnal, porque o excesso disso durante o ano nos torna insatisfeitos com o que temos. Poucas pessoas conseguem ser diferentes da maioria (que calculo em torno de 95% da população).

Não sou contra o carnaval, eu mesmo em alguns anos me entrego a esse espírito pois a vida de ninguém é perfeita, e a sensação de se entregar ao carnaval é inebriante o suficiente para passarmos o mês de fevereiro (antigamente o carnaval era em fevereiro), completamente sem dinheiro e felizes.

Quanto a Índia, pelo que eu conheço eles tem mais festivais do que nós, muitos deles 10 vezes mais coloridos do que o nosso carnaval, e pelo menos 1 pra cada mês do ano para cada divindade (ou seja, são muitos), mas em nenhuma dessas festas existe lascividade ou luxúria, creio que isso seja um princípio ocidental ou herança da Grécia.

O que você escreveu prova uma coisa, que o carnaval passa por mudanças radicais, mas tem sempre uma coisa em comum em qualquer época, é usado pela parte dominante da sociedade para apaziguar os dominados.
 
;