0 comentários

Opção: a fonte da verdade no homem

Há muito tempo atrás, tinha a prática de fazer jejum uma vez por semana, por motivos religiosos/filosóficos. Era uma provação pela qual passava e passava bem, à meia noite em ponto do dia seguinte eu comia de forma saudável, sem me empanturrar.

Mas em todas essas práticas de sannyas -- renúncia em sânscrito, ou sacrifício, há de se ter uma coisa em mente: a renúncia só é verdadeira quando é motivada por uma opção, e não pela falta dela. Quanto ao jejum, se eu estivesse fazendo por necessidade e não por opção, isso não seria uma renúncia real. Faço um paralelo com isso com uma discussão que sempre tive com minha última namorada: ao passo que ela acreditava que a bondade é inata ao ser humano, eu dizia que a verdadeira bondade é a do homem que conhece o mal, pode praticá-lo e ainda assim, optou pelo bom -- pelo justo.'., acho que seria uma palavra mais correta. Ou seja, tudo o que é verdadeiro em um indivíduo, ao meu ver, não é aquilo que se manifesta sem que a parte contrária também se manifeste, mas é a opção que ele toma quando apresentadas essas duas (ou várias) opções. Não posso deixar de frisar que isso é só um exemplo, já que não acredito na dualidade entre bem e mal: creio é no justo.'..

0 comentários

Do Amor ao Fundo do Poço

Mais de um médico e psicólogo me disseram que tenho uma característica perigosa: baixa tolerância a frustrações. É fato: não sei lidar com o que me frustra, isso sempre me parece o fim do mundo. Um grande avanço que tive nesse sentido foi conseguir perceber que esses sentimentos não são pensamentos sãos, são insanos, e que não devo me entregar a eles. Mas é difícil.

Conheci uma mulher que nunca tinha visto igual na minha vida: foi a primeira que me despertou o sentimento de que poderia viver a vida toda com ela. Minha paixão por ela começou intelectualmente -- isso também foi raro, só tinha experimentado uma única vez na vida, mas isso não quer dizer que ela não fosse linda diante dos padrões sociais e dos que me agradam: é linda. Com o tempo fomos descobrindo que tínhamos afinidade em tudo, na cama, nas idéias, no diálogo... Foi realmente um sentimento único e maravilhoso que tive pela primeira vez na vida -- e nisso digo que estou escrevendo isso mais para lembrar-me no futuro que isso existiu que para compartilhar com outrém. Mas quando resolvi reativar meu blog pessoal minha intenção era essa: voltar a escrever desabafos que não faço para ninguém, sem me preocupar com história, idéias, inspirações, e sobretudo escrevendo mais para mim mesmo. Que eu me lembre, portanto, até a eternidade: o amor existe sim e vale a pena viver com ele sendo uma das coisas mais importantes da vida.

Mas o relacionamento acabou, e como foi um dos mais intensos da minha vida e me trouxe tantos pensamentos novos, é o que mais estou refletindo a respeito. É óbvio que nesse momento meus pensamentos estão completamente tomados por ela, pela convicção que eu tinha de que ela seria minha mulher. Mas fica cada vez mais claro para mim que, tanto quanto eu tenho culpa pelos erros que cometi, há uma parcela fundamental que é de inteira responsabilidade dela: sua vontade de viver comigo não era igual à minha. Penso nisso porque se eu tivesse passado pela mesma situação que ela passou -- procurar uma ex minha para saber o que tinha dado errado e acreditar nela mais que em mim, que demonstrava por ela meu amor não por palavras, mas por atos -- isso ainda não seria motivo de um término, percebendo o quanto esse relacionamento era incomum e importante: eu recorreria a um diálogo para resolver as coisas, ouviria ambas as partes e não só a mais conveniente, seria mais aberto e tentaria com todas as minhas forças superar isso. Mas não, isso ela não quis, e aí é que evidencia-se nossa disparidade: eu realmente queria viver com ela tudo, mas ela não. É isso que tenho que entender para seguir em frente, nossos sentimentos não eram mútuos como pareciam ser.

Em alguns momentos eu penso em morrer, mas já disse a sábia Meire, "você não tem vontade de morrer, mas de matar essa situação". É verdade. A vida é muito mais que isso, então agora mais do que nunca tenho que empregar-me a ela. Esses pensamentos de morte só aparecem por conta da depressão e da baixa tolerância a frustrações, não são pensamentos sãos. Não acredito que vá encontrar alguém igual à ela, que me completava em tudo. Estou aqui mais uma vez solteiro e quando superar tudo isso, não vou procurar nada mais que um relacionamento medíocre como todos os outros: achar alguém igual a ela será impossível. Mas tenho que aprender a me contentar e aceitar o medíocre. O mundo é medíocre, as pessoas vivem felizes em suas mediocridades. Eu, mesmo que incomodado, vou submeter-me a isso.

A síntese de tudo isso é: da plenitude que ela me trouxe, volto à mediocridade, o "nada mais que o necessário" para viver. Felicidade? Só nos poucos momentos em que ela vier, e não como era quando estava com ela e tudo parecia perfeito. Isso tudo foi como uma amostra grátis, um tapa na cara de um cético com relação ao amor, mas foi só isso -- uma amostra, algo que me levou a pensar diferente. Legal, estava errado quanto a isso, mas ainda assim duvido muito que terei outra amostra dessas de novo, quiçá que me leve a planejar uma vida a dois.

Lendo esses lamentos o leitor pode indicar-me o otimismo, são 7 bilhões de pessoas no mundo, e existe alguém que vai aparecer e te fazer bem. Bem, sempre me relacionei com uma variedade e quantidade muito grande de pessoas então sei reconhecer a raridade. Quando digo que vai ser impossível encontrar alguém como ela, falo com plena convicção. Afinal, agora a vida volta a ser o medíocre.

Perguntei com clareza a ela hoje: "você quer que eu suma"? Sou especialista nisso afinal, sair da vida das pessoas sem deixar rastros. Ela aceitou, não sei se ciente de todas as implicações disso, de que sumiço é uma decisão definitiva para mim. Mas à partir de agora paro de lutar, vou seguir minha vida mesmo sabendo que estou jogando a minha maior chance de felicidade plena no lixo -- aliás, eu não, ela. Mas se ela não enxerga assim, é porque provavelmente nunca tinha enxergado mesmo. Se ela não quer lutar é porque não sentiu o mesmo que eu. Então realmente lutar -- eu lutar -- não vale a pena.

Você pode ter 500 decepções, mas isso nunca vai mudar o fato de que elas sempre vão doer. Me dói muito tudo isso agora... Mas com as poucas forças que me restam, vou seguir em frente.
 
;