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[+18] Pôsteres

[Aviso: Conto com doses de erotismo e linguagem obscena!]


                Ela tinha pôsteres na parede do quarto. Vários. Chegava a me irritar – aliás, não era a única coisa que me irritava nela. Seu jeito de ser me irritava, na cama me tratava como o único homem do Universo – ou o último, fora dela era como se fosse lixo. Ainda assim, atravessava os mais de 600km que separam São Paulo de Florianópolis só para vê-la. Sabia que ela estaria lá, com seu ar seco e soberbo me esperando na rodoviária – porque minha decisão sempre era tomada de última hora, e a pornografia dos preços das passagens dos preços de avião para um dia seguinte superam todas as que fazíamos ou poderíamos fazer na cama.
                Os pôsteres ela dizia que era da época de menina – como se não fosse mais menina do alto de seus 23 anos. Menina esnobe. Saíamos da rodoviária e íamos direto para o seu apartamento, uma república partilhada com mais 3 meninas, mas que de antemão nos certificávamos que não estariam lá, nos trancávamos no quarto e trepávamos como loucos. Quando nos lembrávamos de comer, pedíamos uma pizza. Praia em Florianópolis? Fui duas vezes, desacompanhado. Conheci-a em São Paulo, trepamos uma vez dentro do bar e tive a infelicidade de pegar seu telefone.
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Desconhecidos

Desconhecidos

            Isso tudo pode ser uma memória de um sonho, ou uma embriaguez prolongada das quatro doses de Black Label que tomei na noite de ontem. Não sei. Aprendi que não se pode confiar na própria sanidade: a mente racional está sempre preparada para pregar-lhe peças, o ID suprime o Superego e o Ego fica perdido à mercê dessa briga de titãs. De qualquer forma, narro o que me lembro e ainda me pergunto se é real ou não.


            Eu namorava com Izabela há sete anos. Sete anos perfeitos, diga-se: na cama, nos negócios, nas per si já era completo por conta dos meus sucessos. Ora, então porque mencionar o relacionamento? Porque o sucesso não completa por si só: todos os seres humanos precisam de amor para sua completude. Izabela portanto era fundamental em minha vida. Eu a amava, ela me amava e vivíamos assim essa parte da vida que corresponde a 50% da felicidade total que um ser humano pode atingir. Pelo menos até hoje eu achava que era isso. Não, minha vida profissional anda muito bem: estou ganhando bem, dá para pagar as contas e sobra ainda para dar-se pequenos luxos – como comprar uma garrafa de Black e tomar umas doses em plena quinta-feira. Mas o amor, é esse que me estranha sabe? Izabela exercia sobre mim uma atração irresistível por seu modo de falar, seus trejeitos e, é claro, sua beleza. Quando nos atracávamos na cama, a conjunção carnal era perfeita, os orgasmos intensos, os toques todos carregados de lascívia e transbordantes em libido.

idéias... Izabela me completava e eu mesmo

            Hoje de manhã desci do meu apartamento para ir à banca de jornais comprar um exemplar do Estadão. Ora, quem ainda vai à banca, porque não faz uma assinatura? Eu, eu ainda vou à banca, não por não achar uma assinatura mais confortável, mas pelo prazer de andar na rua do meu prédio até lá, cumprimentar o balconista, pedir o jornal e um maço do meu cigarro toda a manhã. Na volta parava na padaria, pedia um expresso e um pão na chapa, e começava o jornal pelo caderno de Economia para ver as falências, os balanços, enfim, tudo o que poderia influir na minha área profissional – o mercado financeiro. Já quando estava em meu apartamento voltava ao caderno principal para ler sobre variedades: de política até novidades científicas. Política não me interessava muito, há tempos já acredito que esse país não tem jeito, estamos sujeitos à ditadura dos meios de comunicação controlados por seus anunciantes, não há voto livre, nunca existiu, continua-se votando por cabresto. E se nessa conjuntura existisse um levante dos trabalhadores – como pregam os partidos de extrema esquerda – não haveria revolução, mas sim o Caos. O Estado já não consegue organizar o próprio Estado, que dirá os membros do Estado – os cidadãos, ou trabalhadores – organizando-se por si só? Não, não daria certo.

            Enfim, depois partia para o Caderno 2 para ver se tinha alguma coisa interessante no circuito cultural  da cidade, uma oportunidade de arejar a cabeça e sair com Izabela para algum lugar diferente. Izabela... Sempre tentava fazer com ela programas inusitados ainda que estivéssemos juntos há sete anos. Acho que o amor também trás essas coisas, um impulso ao novo, ao inusitado. O contrário é comodismo – perdoem-me os casais que vivem na mesmice – mas isso não é amor. Uma peça do Abujamra me chamou a atenção: Mephistofeles, baseado no personagem diabólico do romance de Goethe, O Fausto. Era um monólogo, e conhecendo Abujamra do programa “Provocações”, da rede Cultura, sabia que mesmo monologando ele nunca estaria falando só a si mesmo. Gostei da idéia de ir até lá.
 
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