Natal em São Paulo

Sentado na Av. Ipiranga, no meio fio da calçada em frente ao Copan, vejo passar uma manifestação de vigilantes em greve por melhores condições de trabalho. Subo a Av. Consolação com um ônibus qualquer, e fico parado no trânsito durante mais de uma hora, quando a pé faria o mesmo trajeto em pouco mais de 15 minutos. Embarcando no metrô República, com as bilheterias já fechadas e sem passagem, sou salvo pelo gerente de um restaurante que frequentei no Largo do Paisandu, que oferece-me gentilmente um bilhete que tinha sobrando no bolso.
São todos relatos verídicos que aconteceram em momentos distintos. A importância de fazer um paralelo entre eles, para mim, está no fato de perceber que, apesar de morar em uma selva de pedra, emaranhado de concreto armado projetando-se em direção do céu como um aglomerado de torres de Babel, lugar aparentemente inóspito, frio e desprovido de sentimentos, estamos na realidade dentro de um coração pulsante com tanta vida quanto a de um passarinho recém saído do ninho e aprendendo a voar.
É impossível não amar São Paulo. É impossível não desejar pisar na Av. Paulista, na Consolação, na República, na Sete de Abril... É impossível afastar-se mais de 300 Km da maior metrópole da América do Sul sem pensar em como será necessário voltar para ela. É impossível não se acometer de uma saudade nostálgica assistindo Ensaio sobre a Cegueira, filmado nas gloriosas ruas do Centro, quando se está em um outro Estado do Brasil ansiando pelo momento em que se poderá pisar de novo na Paulicéia.
É isso que me vem à mente quando penso no Natal. Recordo-me de todos os natais que passei longe de São Paulo, que não foram muitos, mas foram marcantes por faltar-me algo. Penso assim que alguém estava certo quando disse que as pessoas não morriam a mais de 100Km de onde nasceram. Que outro estava certo quando disse que sempre voltaremos para o local que viemos. Que eu estava certo ao pensar que em alguns momentos faz-se necessário recolher-se na casa de nossos pais... Enquanto ainda temos pais...
Se há um momento no ano que me carrega de nostalgia, esse momento é o Natal. Independente da religião, e das crenças, e das vivências, acho que devo aproveitar esse sentimento para pensar o quão longe quero ir do local onde nasci. E o quão perto eu terei de ficar para construir algo de efetivo e concreto. Será possível uma síntese entre ambas as idéias?
Não sei. Mas se alguém me desejar Feliz Natal, responderei com um sorriso, mas por trás do sorriso, um turbilhão dessas idéias passará pela minha cabeça. E certamente responderei com votos de ótimas festas... Desejando, na verdade, que vivam as mesmas reflexões que estarei vivendo... Há Feliz Natal mais sincero que isso?
Feliz natal!

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