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A Sociedade Nas Redes Sociais [2]

Depois da leitura atenta do post do querido Filipe, achei que talvez fosse interessante partilhar um pouco daquilo que se passa na minha vida ao nível das redes sociais. Não sei bem se serei a pessoa mais apropriada para dar pitacos relativos a esse assunto, pois trabalho literalmente 24 horas por dia com o PC ligado, em constante contacto com as pessoas através de meios como o MSN e Skype, por exemplo.

Há uns anos apareceu a febre do Hi5. Todas as pessoas queriam ter, Lembro-me de criar uma conta, colocar alguma informação a meu respeito e em menos de uma semana choviam convites, na maioria de pessoas desconhecidas, que queriam "fazer amizade". Aquilo praticamente não parecia site para interacção com amigos, conhecidos e colegas de trabalho, mas sim uma espécie de diário aberto ao mundo, em que todos podiam ler e ter acesso ao publicado, desde as nossas mensagens, o nosso diário, as nossas fotos, tudo. E os comentários apareciam lá mesmo que não quiséssemos, embora os pudéssemos depois apagar. Usava o meu apenas como "diário", uma espécie de "mini-blog" onde eu registava os meus pensamentos e algumas peripécias que me aconteciam diariamente. Quase não tinha "amigos" lá, apenas "pessoas". Cheguei a ter uma lista que ultrapassava o milhar, um dia acordei e pensei: "para quê isto se as pessoas que eu conheço não estão cá?" e apaguei simplesmente o meu perfil. Fiquei anos sem pensar sequer em redes sociais.

Passaram-se anos e descobri então outra forma de "interagir", um pouco mais directa que o Hi5 ou o já existente FaceBook, que pouco ou nada me dizia: entrei para uma comunidade de jogo online, uma equipe que tinha como responsabilidade básica zelar pelo bom funcionamento e o cumprimento das regras de um jogo por parte dos seus usuários. Comecei como simples operadora e em quase dois anos virei líder de equipe. As poucas coisas boas que me ficaram dessa altura foram alguns grandes amigos que fiz (nos quais posso incluir o Filipe, que se tornou num verdadeiro grande amigo). De resto não sinto saudades agora, que saí. Descobri que a vida "online", mesmo que "em equipe", é simplesmente uma autêntica selva. Ninguém tem pudor nem problemas em se "atropelar" e em fazer o que necessário for para chegar onde quer. Desde as birras, as intrigas, as trapaças. O que se vê no exterior, na chamada Real Life, vê-se também nas comunidades online. Sem tirar nem pôr, com muita pena minha. Posso dizer que saí então na melhor altura.

Assim sendo, temos como resultado até agora: "Vida online" 0 - "Vida real" 2

Mas nem tudo é mau no mundo das redes sociais. Há talvez um ano, depois de muita insistência por parte de amigos, amigas e mesmo familiares, resolvi então criar um perfil no FaceBook, a que agora acabo por aceder diariamente. Faço-o porque agora sim, sinto que esta é uma forma de me aproximar de algumas pessoas que me estão distantes e com as quais não tenho a possibilidade de falar todos os dias, como é o caso de amigos no Brasil, familiares na França, Alemanha, agora até em Portugal mesmo, pois de momento encontro-me em busca de novas experiências na Ilha de Man. Assim sendo, praticamente tudo é desculpa para uma nova mensagem de estado, o post de uma nova fotografia, etc. Mas sempre com contenção, sempre tendo em conta que nem tudo deve ser escrito. O que o FaceBook tem de bom agora, é que evoluiu: nos seus primórdios, não era possível a restrição da informação a qualquer pessoa. Todos liam o que se postava, o que agora não acontece. Apenas lê quem queremos, podemos bloquear usuários "metidos" e podemos fazer com que apenas quem nós queremos veja as nossas fotos, os nossos comentários, notas e mural. Gosto assim. Consigo manter-me um pouco "privada" mesmo num ambiente completamente "público".

Mas nem por isso o FaceBook ou as redes sociais são algo que eu privilegie em relação ao resto. Não há nada como ter uma criança nos braços, brincar no parque, comer um gelado (sorvete) ou simplesmente passar "tempo de qualidade" com aqueles que amamos. Nada se compara à partilha, aos pequenos momentos com os amigos, colegas, família. Não há rede social nem "vida online" que pague um sorriso sincero, uma lágrima de felicidade. As redes sociais devem ser, somente, algo que nos aproxima de novo daqueles com quem deixámos de contactar, podem servir para descobrirmos amigos há muito "desaparecidos".

Mas depois da "reunião", que se lixem as redes sociais, os computadores, a realidade virtual. Viva o momento, vivam os amigos, a família, os copos, as noites bem passadas, as boas companhias! É disso que nos vamos recordar um dia, quando estivermos para partir definitivamente, e não dos momentos que perdemos a escrever para um "mural" que não nos responde por si. :-)

O conselho de hoje então: Carpe Diem, mas sem PC!
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A Sociedade nas Redes Sociais

Pegando carona no texto do meu primo, onde ele diz que "cada ser humano no fundo de seu subconsciente sente uma sensação de exílio em relação ao mundo exterior à sua realidade (...) [e] o advento da expansão das redes sociais está criando uma nova geração, os seres humanos
criadores,
hoje quem cria as notícias somos nós", argumentei que as redes sociais (além da própria internet), são só uma camuflagem para o exílio crescente que estamos vivendo desde a invenção do rádio, se não antes.
"Tal como a água, o gás e a energia eléctrica, vindos longe através de um gesto quase imperceptível, chegam a nossas casas para nos servir, assim também teremos ao nosso dispor imagens ou sucessões de sons que surgem por um pequeno gesto, quase um sinal, para depois, do mesmo modo nos abandonarem" (grifo meu)
Paul Valéry, citado por Walter Benjamin em A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica.
Benjamin não poderia ser tão atual, mesmo tendo escrito isso em 1955. Os seres humanos, que antes interagiam através do contato pessoal, com o toque, cruzamento de olhares, conversas de boca a ouvido, primeiro foram confinados às suas salas de estar, para assistir a novela das oito, interagindo somente com suas próprias famílias. Agora esse círculo social foi ainda mais reduzido, e ao invés de momentos familiares, as pessoas ficam presas a uma tela de computador.
Não é que não existam pessoas do outro lado da linha. Existem. Mas muitas vezes, o contato se restringe a simples trocas de toques no teclado ou uma conversa no Skype, e se ignoram as formas de interação no mundo "real".
O teatro está em baixa, e as platéias cada vez mais vazias. O cinema sobrevive na base de marketing agressivo e enlatados americanos, que emburrecem e incentivam ainda mais o ingresso nesse mundo "virtual".
Todavia, sou obrigado a admitir que há resistência -- e como há! O movimento que derrubou Hosni Mubarak do poder no Egito foi iniciado à partir do Facebook (e quem diria que um geek que queria pegar mulher seria o responsável por isso). Oswaldo Borelli, à partir do Twitter e do Youtube, conseguiu que seus direitos enquanto consumidor fossem respeitados, depois de não ter sido atendido pelos canais tradicionais da Brastemp. Eu mesmo já cheguei a usar o Twitter para reclamar, e fui prontamente respondido pelas empresas (não é o caso da TIM, mas isso é outra história). Isso para não falar das mulheres que conheci pela internet e acabaram virando relacionamentos -- fixos ou eventuais -- fora dela.
O fato é que as redes sociais, para serem sociais, não podem ser um fim, mas um meio para que as coisas aconteçam. Seres humanos não vivem sós, nisso concordo com meu primo. Discordo, todavia, que não estejamos sós quando estamos acompanhados por um mundo de amigos virtuais. Essa é só uma roupagem hipócrita para a solidão.
Termino citando algo que já citei nesse blog, mas que cabe perfeitamente nesse assunto:
"Um corpo humano está aí quando, entre vidente e visível, entre tocante e tocado, entre um olho e o outro, entre a mão e a mão se produz uma espécie de recruzamento, quando se acende a faísca do senciente-sensível"
Merleau Ponty em O Olho e o Espírito
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Apresentação


Não poderia existir frase melhor para começar as postagens do que essa twittada pelo PC Siqueira (se é que a frase é realmente dele), expor as suas idéias para o mundo muitas vezes é difícil para nós mesmos, não importa onde uma pessoa viva, pode ser na menor cidade do interior, ou em uma metrópole como São Paulo, cada ser humano no fundo de seu subconsciente sente uma sensação de exílio em relação ao mundo exterior à sua realidade. Digo isso pois cada um nasce, cresce, desenvolve suas habilidades (pensar, falar e agir) e morre sozinho. Em uma grande cidade você consegue perceber isso muito mais facilmente nas pessoas a seu redor, todos procuram se relacionar, seja por amizade, parceria financeira ou interesse sexual, todos precisam estar de alguma maneira "ligados" aos outros ao seu redor, (isso é o Tantra que o hinduísmo prega, a teia de relações pessoais).
Sinais de fumaça, pombo correio, telégrafo, telefone, radio, televisão, SMS, e-mail, orkut, twitter e facebook, o ser humano sempre está a procura de inventar uma forma melhor de se comunicar, ou seja, onde você consiga expressar tudo o que está sentindo no menor tempo possível. Mas porque?
Simples meu caro leitor, porque todo ser humano (principalmente os das grandes cidades), se sentem completamente sozinhos, e pior, muitas vezes nos sentimos como extraterrestres no planeta Terra. Quem nunca se sentiu único com a sensação de descobrir alguma coisa nova, ou se sentiu a última pessoa do mundo quando fez algo errado.
A internet chegou nesse novo século para revolucionar os relacionamentos. O que uma comunicação em massa, que consegue expressar boa parte dos sentimentos das pessoas, e em tempo real cria? Uma nova forma de pensar e agir! Antigamente todas as pessoas tinham o pensamento centralizado, as mídias como televisão e rádio são somente de 1 via, você só pode receber as informações mas não pode interagir, isso cria um sedentarismo do pensamento, uma conivência dos nossos próprios sentimentos para com o todo.
O advento da expansão das redes sociais está criando uma nova geração, os seres humanos criadores, hoje quem cria as notícias somos nós, e os exemplos estão por ai, o facebook é composto por uma feed de notícias criadas por quem? Você! Outro exemplo que me surgiu essa semana, são os blogs de humor, quem acompanha alguns deles sabe que atualmente eles criam conteúdo para a televisão. O programa Pânico na TV já usou algumas noticias virais como tema de matérias, como o Trenzinho Carreta Furacão, que estourou na rede de blogs e após isso virou matéria do Vesgo, e a ressurreição do seu madruga, que após sair em um blog está sendo procurado pela equipe do pânico. Isso mostra o poder que o povo possui e que muitas vezes não temos consciência.
O que o PC Siqueira quis dizer com a frase dele foi justamente o contrario, todos nós a partir desse momento, isso mesmo, você que está ai lendo essa matéria de cabeça baixa, triste e desiludido com a vida, achando que seu vizinho tem uma mulher mais gostosa (e se você esta lendo isso provavelmente é tão nerd que nem deve ter uma), se você está vivo hoje (não se aplica a zumbis), se você tem um computador e acompanha algum blog (pode até ser esse), então você é um ser criador e nem sabe disso.
A internet conseguiu quebrar uma das maiores barreiras da solidão humana, o pensamento isolado.
Enfim, me estendi demais, esse primeiro post era para ser um agradecimento ao meu primo que me convidou a participar de sua própria rede de relacionamentos (o seu blog), mas achei que convinha dizer tudo isso para ele mesmo perceber que uma criação não nasce isolada, afinal: “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti” - Ernest Hemingway
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O "Primeiro" :-)

Neste primeiro post que tenho o prazer de publicar aqui, aproveito para agradecer ao querido Filipe por se ter lembrado da amiga do outro lado do oceano.
Fiquei deveras lisonjeada com o convite de me tornar "cooperadora" deste blog que acompanho desde
que descobri a sua existência, especialmente por se tratar do "cantinho"de alguém por quem nutro uma grande admiração, respeito e muito carinho. Espero não desiludir.
Como eu disse ao próprio quando aceitei o convite, adoro escrever e o farei aqui com todo o gosto. O maior problema, muitas vezes, é decidir sobre o que escrever. Embora não faltem ideias e peripécias para contar, o difícil mesmo é a escolha. Quem sabe os "seguidores" ajudem um pouco, dando sugestões ou simplesmente fazendo perguntas, sei lá.  ;-)

Prometo, no entanto, que virei dar aqui o meu contributo todas as vezes que a inspiração me tocar, quer seja com uma pequena história, um acontecimento, a partilha de uma ideia ou pensamento. Será uma forma de extravasar por aqui aquilo que de maneira geral não se extravasa "na vida real"...

Desejo-vos então boas leituras e um bom resto de dia/noite!

Dee, aka. Tania
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Por que o governo remprime as manifestações contra o aumento do ônibus?

A constituição assegura, em seu artigo 5o., que é livre a manifestação de pensamento, vedando somente o anonimato. Assegura também a liberdade de expressão, independente de censura ou licença, tornando explícito também que ninguém precisa pedir autorização para tal. Por que é então que o governo reprime as manifestações, tanto contra o aumento da tarifa de ônibus, quanto qualquer outra que seja divergente com as políticas estabelecidas por eles?
Indivíduos pensantes são indivíduos perigosos. O Egito e a Tunísia mostraram que o povo reunido pode derrubar até uma ditadura, quiçá um presidente. Na época do governo militar, direitos como os citados no primeiro parágrafo desse texto e outros foram tolhidos, a fim de garantir a permanência dos militares no poder. Isso tudo foi por água abaixo com as "diretas já", quando todo mundo foi para a rua para pedir eleições diretas para o executivo. Mais uma vez, o povo demonstrou que sua voz é, incondicionalmente, a vontade suprema do Estado.
A Carta Magna é muito bonita, mas muito do que diz é letra morta. Lembro-me de uma manifestação contra a vinda de Bush ao Brasil, em que eu estava presente e quase tomei uma bomba de efeito moral na cabeça. Durante as greves, também, é flagrante a violação ao direito dos trabalhadores estabelecido no 9o. artigo da constituição, que prevê, inclusive, detenção para quem o desrespeitar. Repetidas vezes fui tirado da frente de agências e complexos bancários pela truculência policial -- uma vez, quase fui detido ilegalmente, e não raro os banqueiros ameaçam seus empregados com demissões e outros tipos de punição (no caso dos bancos públicos) quando eles aderem ao movimento grevista.

Se o Estado permite que o povo fale, o Estado tem que ouvir seu povo. É mais fácil calar quando não é possível ignorar. A mordaça do Estado é a polícia. Quem se manifesta contrário aos abusos do Poder Público, tal qual um aumento abusivo da tarifa de ônibus, põe em risco todos os outros abusos cometidos por eles. Isso não é conveniente para quem está no poder.
Mas no Egito, de nada adiantou tentar calar o povo. Uma hora, o barulho das vozes ficou tão alto que não foi possível ignorá-los, nem amordaçá-los. Em São Paulo, se faz cada vez mais barulho, e a despeito da mordaça, a população permanece indignada e vai às ruas, mesmo com a repressão. Note-se que não só os movimentos sociais estão engajados nessa luta: os estudantes, que deveriam ter o direito ao passe livre -- esse sim, um real incentivo à educação de qualidade, não os paleativos estabelecidos pela Dilma -- também estão apanhando da polícia. Na última manifestação, até vereadores -- eleitos pelo povo -- foram alvo da truculência policial. É o governo batendo no próprio governo. É o Estado totalitário contra o Estado democrático de direito.
Mas quanto mais o povo apanha, mais o povo grita mais alto, e mais vozes se juntam nesse coro. A luta aqui não é simplesmente contra o aumento da tarifa: é para que o governo realmente represente a vontade popular. Isso vai muito além do voto. E tolher esse direito, é cercear o direito de exercer a cidadania.
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A Reunião

Se tem uma coisa que aprendi na militância política é que, por melhores que sejam a idéia que um indivíduo pode ter, vários indivíduos juntos sempre terão idéias melhores. Dada a iniciativa do Pepe, meu grande amigo, poeta, artista plástico e escritor, de participar desse blog, convidei grandes amigos para colaborarem e incrementarem os textos aqui publicados. Todos partilham de algumas das visões de mundo que eu mas, sobretudo, não compartilham de várias das minhas opiniões -- e é nessa pluralidade que compõe-se a riqueza das publicações.
Luis Felipe, meu primo, é tecnólogo e professor de Yoga, e certamente dará uma visão mais "holística" das coisas que as vezes nem eu mesmo consigo enxergar. Tania, minha grande amiga de Portugal, poderá colaborar com um ponto de vista ainda mais "global", no sentido literal da palavra. E ainda há duas amigas, uma publicitária e uma cineasta, que ainda estão em vias de aceitar de fato o convite, que certamente irão incrementar em muito o conteúdo desse blog.
Seja uma visão poética, crítica, descompromissada, corriqueira, artística, política ou jornalística sobre o cotidiano, com certeza é muito interessante ver o mundo à partir de vários olhos, várias manifestações. Inicia-se, pois, uma coletânea dessas várias visões de mundo. Espero que apreciem!
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DEUS SABE

DEUS sabe...
as vezes, caminho sobre brasas
as vezes, sobre ovos
as vezes ébrio
as vezes sóbrio
noites brancas
dias negros
o avesso do avesso
desapareço
a meus próprios olhos
e apareço em outro mundo
onde todos me conhecem
e eu não me conheço
confesso...
pequei
DEUS sabe...
e eu não sei
talvez nunca saiba
por que sou iluminado
eu não sei mas
DEUS sabe
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Ser pai: A Descoberta do Verdadeiro Amor

Ontem, sentado numa mesa aqui no Filial, na Vila Madalena, acompanhei uma discussão acerca de amor e relacionamentos. Incrível ver que, apesar de algumas superficiais diferenças de opinião, é quase senso comum de que o amor implica em um relacionamento -- no geral, monogâmico, que implica dentre outras coisas, fidelidade (com os mais diversos conceitos nesse sentido -- ontem, discutiu-se que quando há amor, não há desejo por outras pessoas, outro que há desejo, mas não há a consumação, ou até mesmo há atração, mas não há desejo). Em primeiro lugar, ontem, defendi a tese de que isso era deveras superficial, ou até mesmo, uma subestimação ao amor. No meu conceito, "amor" é algo que se cria à partir de um relacionamento bem resolvido e maduro, com afinidades e objetivos comuns -- inclusive, a ânsia pelo triunfo do próprio relacionamento, e não uma paixão avassaladora que pode ou não levar a um relacionamento e, sobretudo, acaba com a atração por outras pessoas.
Hoje, caminhando pela Cardeal rumo a Fradique Coutinho, lembrei-me todavia de um amor que conheci recentemente, para ser mais exato, há pouco menos de 2 anos e meio, que me parece ser o amor mais verdadeiro e isento de qualquer condicional, que nasce de forma abrupta e não desaparece de forma alguma. Falo do amor que passei a experimentar quando veio ao mundo a Rafaela, minha filha.
Os gregos costumavam falar em três tipos de amor: Eros, Philos e Ágape. O primeiro refere-se ao amor dentre dois parceiros, ligado ao prazer da concupiscência e à possibilidade disso tornar-se transcendental. Philos, é o amor relativo à amizade, algo que surge quando a companhia "per se" de uma pessoa te faz sentir bem, e faz desejar que essa pessoa esteja sempre presente na sua vida. E Ágape é o amor sem nenhuma condição, que satisfaz nossos corações pela simples existência de algo, seja nós mesmos, o mundo, um fenômeno da natureza ou uma pessoa. É um amor que leva a um sentimento de ananda (do sânscrito, bem-aventurança, plena satisfação), sem nenhum obstáculo, condicionantes ou duração temporal. É o amor que não é o de Vinícius, que não é imortal, "posto que é chama", mas que é infinito "enquanto dure". Este não dura. Esse existe ad eternum.
Impossível conhecer esse amor quando não se tem uma filha. É mais intenso do que o amor que se tem por uma mãe ou por um pai, que parece um amor de Philos, também na maior parte das vezes incondicional, mas que pode enfrentar obstáculos. Ser pai (ou mãe) é a porta para experimentar o amor verdadeiro, que dura para sempre -- até que a morte nos separe. Óbvio que para perceber esse amor -- não que ele não exista, mas há uma diferença entre sentir e perceber esse sentimento -- é necessário um nível de maturidade e despojamento de todos os outros conceitos pré-moldados sobre isso. A necessidade de criar ou não o filho é uma das coisas que pode tornar as pessoas envolvidas mais próximas, mas a distância não impede que esse amor exista. Notei que quando esse amor é percebido, torna-se impossível não sentir a saudade, o que não é verdade quando ainda não se notou a existência desse amor latente no próprio coração.
Todas as obrigações inerentes à função de pai, impostas pela sociedade, não são uma condicionante para o amor. São opções, que podem ou não ser exercidas. Com o sim ou com o não, o coração está tomado por amor. Externando ou mantendo trancado esse sentimento, ele ainda está lá. Basta cavar e ele brota rumo ao sol. Depois de nascido, nada mata, nada arranca, nada esconde. A não ser a própria incapacidade de lidar com os próprios sentimentos.
A própria existência de uma pessoa, nesse caso, é algo que satisfaz. Uma lembrança, um sorriso, um pensamento de que ela está lá, em algum lugar, mesmo que não esteja aqui -- não por falta de vontade minha, mas por egoísmo daqueles que relacionam esse amor à posse, que eu tolero pela serenidade que esse amor me trás e a crença de que esse amor possa mudar não só a mim, mas aos outros que também amam, os momentos que tornam-se uma eternidade, longos mesmo quando são breves, a vontade de me tornar uma pessoa melhor para que alguém possa acompanhar esses passos, mesmo que de longe, mesmo que não queira seguí-los -- afinal, "faça o que eu digo mas não o que eu faço" é a coisa mais hipócrita já inventada para justificar as próprias cagadas daqueles que deveriam educar com exemplos, e não com palavras, são coisas que só um amor verdadeiro, por si mesmo ou outrém, por outrém que se faz parte de si, não como posse, mas como sua continuidade, pode provocar em uma pessoa.
Quanto aos outros amores? Torno a Vinícius: seja atento a ele. Com zelo, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais seu pensamento. Viva cada vão momento. Em seu louvor, cante, ria, derrame seu pranto, no pesar ou no contentamento. Mas que ele não seja imortal: ele é chama. Seja é infinito enquanto dure.
E, depois... Comece de novo. É sempre tempo de recomeçar.
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Milagre da Educação: O que o discurso de Dilma esconde?

Ontem a presidente interrompeu o horário nobre para fazer seu primeiro pronunciamento desde sua posse. Seu discurso, insistentemente repetitivo no ponto de que a educação deve ser melhorada no país, deixa diversas lacunas sobre como isso será feito, e sobretudo, esconde uma política de sucateamento da educação pública em prol do enriquecimento dos empresários do ensino, continuidade do projeto de Lula.
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Revolução no Egito: O que temos a ver com isso?

Desde 25 de Janeiro desse ano, a população tomou as ruas do Egito para pedir a saída de Hosni Mubarak, que governa o país desde 1981. Em 1º de Fevereiro, mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas para protestar. Mas afinal de contas, o que raios temos a ver com isso?
Quando a maioria das pessoas não gosta de discutir nem os nossos problemas "domésticos", imaginar que a política internacional tenha alguma importância é algo ainda mais distante. Do Egito então, só se ouve falar nas aulas de história antiga que nos faz imaginar que o país é habitado por múmias e faraós. É bem verdade que as múmias não habitam o país: o governo, ao contrário, está nas mãos sim quase de um faraó.
A diferença entre o "regime faraônico" que governa o Egito e a pseudo-democracia brasileira é superficial. Óbvio que entre a censura prévia e póstera, tanto da internet quanto de outros meios de comunicação, a primeira fica mais evidente. Também existe a farsa das eleições camuflando a ditadura da burguesia, contra um regime descaradamente ditatorial lá no país africano. A evidência de uma ditadura, todavia, não é o que determina sua existência.
Vejamos: hoje o PT tem o controle sobre a mídia (não só à partir dos canais e veículos governistas mas também dos empréstimos bilionários do BNDES, publicidade e lobby das empresas estatais sem as quais a mídia não teria como sobreviver, etc), sobre os sindicatos (que supostamente representam os trabalhadores mas na realidade estão alinhados com os interesses patronais), está no governo e controla grande parte da opinião pública atrelando seu sustento diretamente aos cofres públicos, sem gerar empregos, quer sejam duradouros ou de fato (nunca antes da história desse país houve tanta rotatividade nas contratações).
Essa ditadura velada é ainda pior que a egípcia. Enquanto os trabalhadores pensam que estão representados no governo e perpetuam os governantes no poder através do voto, banqueiros e grandes empresários enriquecem com as crescentes vantagens que lhes são oferecidas, tal qual a redução dos direitos trabalhistas históricos conquistados à base de suor e sangue, políticas que acabam com os pequenos empresários e agricultores obrigando-os a trabalhar para os grandes conglomerados e latifundios e uma massa faminta que topa trabalhar por qualquer salário para sobreviver, comprando o peixe de que esse é o milagre da geração de empregos -- até que três meses depois o desemprego bata à porta.
E que não pensem que aqui não haja morte nesse confronto por debaixo dos panos. Basta perguntar em qualquer favela para saber de algum trabalhador que foi morto pela polícia quando voltava para sua casa e foi acusado de tráfico de drogas -- enquanto os grandes traficantes não estão nem nos morros cariocas nem em Heliópolis, mas sim em Copacabana, Morumbi ou Brasília, lucrando tanto com as mortes de seus "soldados" do tráfico quanto com as decorrentes do vício. Pode-se também visitar o SUS para conhecer as filas que matam os doentes na espera por atendimento, latifundios à base de trabalho escravo, ou ainda a região serrana do Rio com um desastre iminente, previsível e ignorado pelo governo há anos.
Quanto à questão da repressão aos opositores, não imaginemos que isso não acontece por aqui: é óbvio que, entre um milhão de pessoas na rua e 10 mil manifestantes protestando contra o aumento abusivo da tarifa de ônibus em São Paulo (por exemplo), há uma diferença de proporções, todavia, da mesma forma que o exército partiu para porrada no Cairo, os militares desceram o cacete aqui em São Paulo.

A luta no Egito começou à partir da internet e tomou as ruas. Hoje, o Brasil é o 8º país com mais acessos à internet no mundo, e um dos quais o acesso cresce em ritmo mais rápido -- o mais rápido da américa latina. Problemas? Temos os mesmos: fome, falta de empregos, miséria, e outros inumeráveis... Está na hora de assumirmos essa luta e resolver aquilo que o governo não resolve e nunca irá fazê-lo por nós. O que o Egito tem a ver conosco? Tudo. Eles estão mostrando que lutar é possível, que trás resultados, e que quem manda na verdade é o povo. Podemos sim derrubar aqueles que não nos representam, acabar com a exploração e com a desigualdade: basta querer. O Egito quer.
 
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