Quem matou o Conde Drácula?


Acusei meu opositor de esconder os segredos de quem comprou as passagens de trem para a Transilvânia. Atordoado, bem vestido, de palitó impecável, gesticulava e me dizia desconhecer o paradeiro de quem adquiriu os bilhetes. A alegoria psicodinâmica "Quem matou o Conde Drácula" foi o marco inicial de uma amizade que perdura até os dias de hoje.

Na primeira semana de trabalho, em treinamento coletivo, a instrutura elegeu juntamente com o conjunto de mais de trinta funcionários os dois líderes que se enfrentariam em uma batalha épica. Quase que instantâneamente fomos escolhidos para participar do teste. O objetivo era descobrir quem matou o drácula. 

A brincadeira era coletiva mas os detalhes da trama precisavam ser negociados. Fui chamado pela instrutura juntamente com Filipe para uma área reservada, com o intuito diplomático de interrogar meu opositor e de descobrir o máximo de informações relevantes para passar a meu grupo. O clima era muito tenso e as negociações duravam às vezes horas.

O empenho era formidável em descobrir quem matou o vampiro. Acreditávamos na liberdade da história, no poder da persuasão e na capacidade de invadir o castelo, tudo apenas no mundo das idéias e dos argumentos. Era uma espécie de RPG sem encenação, um teatro ideológico.

Paradoxalmente, apesar de livres no domínio da oratória e no jogo das idéias, descobrimos recentemente que percorremos o caminho em direção ao cárcere da escuridão. Conde Drácula vivia no isolamento noturno de seu castelo e tinha medo da claridade. Fomos exatamente marionetes do destino, como o vampiro,  presos no tormento das sombras e afastados do campo das luzes, da iluminação.

Enquanto a disputa acontecia, não tínhamos a percepção de que víveríamos tanto tempo em um castelo de trevas e ilusões, domados pelo demônio da privação intelectual e da perseguição moral. Não sabíamos que na verdade entraríamos no beco escuro da ignorância e da solidão.

Mas, apesar de tudo, é na dificuldade que surgem as grandes idéias. Como diria o escritor Augusto Cury, "O pessimista enxerga os raios, enquanto o otimista percebe na chuva a oportunidade única de semear, cultivar". Foi então que percebemos, na amargura da prisão, e no alto da masmorra da desilusão, que mesmo encarcerados poderíamos nos libertar da opressão. 

Fomos seduzidos pela princesa do castelo. A idéia do xaveco foi brilhante. Como o castelo era bem fortificado, pedimos para que a princesa trouxesse nossas capas. Voamos da escuridão da torre em direção à luz das idéias. Aqueles que se sentem isolados, deprimidos e infelizes, devem aprender esta lição: da tempestade de nossas vidas, em vez de focar os raios que nos perturbam, podemos aproveitar a oportunidade para voar sob a chuva e semear no campo da imaginação.  Agora, vestindo nossas capas, o show está prestes a começar!

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