A Lista

Uma amiga de outro lado do oceano deu-me um conselho valioso: fazer uma lista de coisas indispensáveis para 2010. Ciente de que existe uma dicotomia entre planejamento de longo prazo e minha própria personalidade, me convenci de que talvez fazer um planejamento de um ano não seja lá algo que esteja tão distante.
Já deixei de fazer muitas coisas. Larguei a faculdade de jornalismo porque senti um tesão repentino pela filosofia. O tesão permaneceu, mas as circunstâncias me obrigaram a mudar-me para Minas e, com isso, acabei abandonando a faculdade do Mosteiro de São Bento. Prestei ENEM para tentar reverter esse quadro e, quem sabe, terminar o curso que tanto quero na UNIFESP ou na Federal do ABC, a primeira minha opção favorita, a segunda, um paleativo caso a primeira não seja possível.
Preciso terminar também em 2010 o curso de formação de professores de Yoga que comecei esse ano. Começar é sempre meu forte, terminar é que é difícil. Meu psiquiatra acha que é devido a transtorno bipolar. Já encheu meu corpo de psicotrópicos, um deles até virou um conto. Já faltei em algumas aulas do curso e talvez isso leve mais tempo do que deveria, mas com certeza, vou direcionar meus esforços para terminá-lo.
Voltando um pouco no assunto, quando comecei Filosofia, descobri que dedicaria minha vida às coisas que me dão tesão em fazer. Coisas que a meu ver enriquecem meu caráter e me acrescentam alguma coisa. Por isso sempre preferi viajar a adquirir bens... Torrei meu Kadet em viagens para a Bahia e Espirito Santo.  O dinheiro que gastei entre Santiago, Buenos Aires, e as inúmeras cidades que conheci no Brasil, dava para comprar um apartamento. Preferi as viagens... Elas são a moldura e o núcleo do que hoje me define enquanto indivíduo.

E se é para enriquecer o núcleo, gostaria também de ter noções de violino. Sou apaixonado pela linguagem, todas elas, e entender um pouco da linguagem musical certamente vai me deixar satisfeito. Nesse sentido, preciso dedicar-me um pouco mais para assimilar melhor o sânscrito, para minha própria satisfação, o inglês e o espanhol para necessidade de me comunicar. Um dia pretendo passar algum tempo em um país onde se fale a lingua de Sheakspeare... Considero -- pelo tempo que passei no Chile -- que a imersão em um idioma é a melhor forma de fazê-lo entrar goela abaixo e nunca mais sair. Mas esse é um plano ousado que não desejo colocar na lista para fazer ano que vem. Se rolar, quem sabe...
Peguei uns podcasts de Chinês para ver se seriam de alguma valia. Não foram. É uma língua muito diferente de tudo que conheço, e essa pareceu-me uma empreitada difícil. Mais difícil que sânscrito, latim e grego. Quem sabe um curso básico pro ano que vem? Não, acho que isso também não dá para incluir.
Até o presente então temos violino, Yoga e Filosofia. Parece bem coerente... Se pensar assim, estou enriquecendo só o núcleo e esquecendo da moldura... Seria bom incluir algumas coisas superficiais?
Viagem ao Rio de Janeiro. Pelo menos uma vez nesse ano vindouro. Claro que isso inclui uma nota mental: levar um celular reserva para o Rio, já que lá é tão comum ser assaltado quanto comer um pão na chapa na padaria. Voltar à Prainha Branca também seria uma boa... Ver como anda aquele lugar que outrora era deserto e agora virou pop. Vai me trazer boas lembranças, boa nostalgia, e quem sabe disso resgato algo que era melhor em mim do que é hoje.
Devo também pedir desculpas a algumas pessoas que magoei. Essa idéia tirei dos 12 passos, o passo do inventário moral. Outrora disse que a mágoa é um eterno elo entre quem a criou e quem a sente... Não sei se ainda acredito nisso, até porque excluo as pessoas da minha vida com a mesma facilidade que ganho ou perco peso. Mas quem sabe em algum lugar desse velho coração há alguma ferida mal cicatrizada? Não posso correr esse risco... Mas já estabeleço de antemão: se me redimir diante de uma ou 200 pessoas, considerarei essa meta cumprida de qualquer forma. Não dá para ser muito rígido com si mesmo, altas espectativas trazem grandes decepções.
Comprar um fusca talvez? Não sei, ainda preciso estabelecer a prioridade entre comprar um imóvel e me mudar ou ficar onde estou e ter mais dinheiro. Dificil decidir... É um tipo de conforto versus outro tipo de conforto. Conforto versus conforto. Com antônimos seria mais fácil escolher.
Quase me esqueço, mas depois de olhar umas conversas passadas, lembrei-me que preciso discutir com meu médico a possibilidade de uma vasectomia. Já tenho uma herdeira, já registrei geneticamente meu legado. Não acho que precise de mais representantes para lembrarem-me quando um dia eu bater as botas. Incluiria isso na lista se não fosse a incerteza de que o processo é indolor.
De resto acho que devo seguir a vida como sempre, encarando tudo como uma grande comédia com momentos trágicos que às vezes invadem o roteiro e exigem improviso. Vivendo um dia atrás do outro, afinal, independente do que aconteça, o sol sempre volta a nascer no dia seguinte. E me conformando, cada vez mais, com o que disse Coélet no Eclesiastes: nada de novo se faz debaixo do sol. Tudo é vaidade e correr atrás do vento. Para isso, quem sabe seja bom comprar um barco a vela. E quem sabe, incluir umas rodinhas...