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A Aflição de Xavier (revisado)


Xavier acordou cedo. 6h32 da manhã. Não era costume de Xavier acordar cedo: na verdade, a impressão que teve foi que já era a hora certa de despertar. Não foi. Naquele dia, só deveria acordar às 8h30 para fazer uma ligação e decidir entre dois compromissos: um indispensável. O outro, impulsivo. Seria a volta de sua insônia que manifestou-se durante seis meses antes pela dificuldade de dormir, depois por adiantar seu despertar, que controlou através de psicotrópicos e meditação -- e pasme, a segunda foi a que a fez curar!
Não. Na realidade, não existe maior perturbador do sono que a ansiedade. Na batalha entre os pensamentos persistentes e a necessidade do sono profundo nenhum dos dois vence: acaba-se por entrar em um sono supérfulo, no limiar da vigília, e raras vezes produz-se nesse período alguns sonhos -- via de regra, sonhos lúcidos. Basta desejar, ou não, e o cérebro se faz desperto novamente, em um total descompasso entre o relógio biológico e o tempo regido pelo movimento de rotação da Terra.
Uma transa. Um final de semana. Horas de sexo só interrompidas pela necessidade de água e alimento, coisa que só acontece quando há a perfeita comunhão dos corpos -- não aquela pregada pelo Padre, mas a que se sente quando o contato da pele e a pele faz sentir. Experiência rara que só passaria incólume pelo Mr. Spock. Já em Xavier brotou um sentimento tão intenso que parecia queimar seu corpo só ao lembrar da experiência. O tempo realmente é relativo: aquele final de semana durou uma vida.
 
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