Greve

Estou na Greve. Não estou fazendo greve, amparado pela lei 7.783 de 1989 e pela decisão da assembléia porque estou de licença ainda pelo INSS, sem condições laborativas como foi constatado pelo perito do
INSS -- assunto que daria bastante pano para manga, coisa que não caberia discorrer no momento. Mas estou fazendo a greve, ajudando os colegas que, como eu, lutam por condições melhores de trabalho, um reajuste digno dos lucros que proporcionamos aos nossos patrões e diversas outras especificidades que, quem é bancário, sabe como é.
No Brasil, banco é o negócio mais lucrativo do mundo. Banqueiros tem até foro privilegiado na justiça, tratamento que conforme a constituição, deveria ser concedido só para as autoridades como o Presidente da República e vice, deputados federais e senadores. Um ministro estendeu o benefício para o Daniel Dantas. Em um momento de crise mundial e de queda das bolsas, o governo liberou parte do compulsório -- que deveria servir para garantir os depósitos à vista, o dimdim que colocamos na conta-corrente e acreditamos poder sacar um dia -- com a pseudo-intenção de que os bancos liberassem mais crédito para quem quer comprar presente de natal ou tirar a corda do pescoço (e desde quando mais empréstimo tira alguém da forca?). Os bancos usaram o dinheiro para comprar títulos públicos e serem remunerados por isso.
Esta entidade espectral -- o Banco -- é composta por um corpo de funcionários. No meu caso, por exemplo, prestei concurso e fui considerado apto para estar entre cerca de 80.000 funcionários de um banco controlado pelo Governo Federal. No exercício da função, alguns portadores de procuração da Direção do Banco entenderam que eu podia exercer os cargos que exerci: caixa, assistente de negocios e gerente de contas, além do básico faz-tudo. Depois, um outro procurador entendeu que eu não estava exercendo a função a contento e me pressionou a "devolver" para ele o cargo, o que fiz de bom grado (ou nem tanto). Vai entender a cabeça desses procuradores.
O conjunto desses funcionários proporcionou um lucro de mais de 5 bilhões de reais em 2007 para uma dessas entidades esprectais. Penso que esta grana é oriunda do esforço de passar mais de 40% do dia dentro das dependências da entidade, vendendo produtos como seguros, previdência, capitalização, além de captar dinheiro ou emprestá-lo. Imagino também que tal esforço, se fosse realizado por 10 pessoas -- e não por 80.000 -- não daria tal resultado.
Considerando essas premissas e somando a isso a inflação e o aumento dos preços, me parece justo que aqueles que controlam os nossos resultados nos dessem condições descentes para continuar produzindo mais, além de poder levar uma vida fora dessa instituição, aquilo que costumamos chamar de "vida pessoal" -- coisas simples como comer, sustentar e educar filhos até que eles possam seguir seus próprios caminhos, pagar aluguel ou comprar um teto para viver debaixo. Não é bem isso que eles pensam.
Conversei com diversos colegas que estão gastando uma parte considerável de seu salário para pagar antidepressivos ou psiquiatras. Estão ficando doentes, porquê além de produzir, são cobrados para dar ainda mais, sem nenhum incentivo. Alguns procuram outros empregos, outros resolvem sair do mundo. Existem ainda alguns que resolvem lutar para que isso melhore e esta situação mude: estes, encontram muitos problemas. E não é só na greve.

Paro por aqui, estou cansado para continuar.

2 comentários:

Gabi Beck disse...

Foi bom conversar com vc, saber que vc ainda tá vivo. Vc sabe que te considero muito como amigo e aquele dia que conversamos fiquei preocupada com vc...
Sei lá pq raios não consigo te adicionar no orkut... então..
se quiser me procura por la.
Gabriele Beck

patricia disse...

Filipe, estou fazendo uma matéria sobre moradores do Copan, vc aceitaria falar comigo? patriciacornils@gmail.com

abraço,

patricia

PS; eu fiz a primeira Greve Nacional dos Bancários, em 1985. Fomos nós que inventamos o termo "Comissão de Esclarecimento" !

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