Procuro cumprir as promessas que faço em todas as circunstâncias, inclusive aquelas que não me lembro que fiz. Prometi a um amigo que degustaria seus famosos pratos, mais de uma vez. Não cumpri. As circunstâncias materiais me impossibilitaram, ad semper, de cumprir. Não adianta mais tocar lá no bloco B. Não adianta mais ligar. Não vou ter mais nem a chance de dar cano. Nem de tomar.
Que sea, ele não era lá um cara de se lamentar. Nem de deixar que se lamentassem. Há dois anos, enquanto todos tinham papas na língua ao me abordar, eu ainda de muletas, ele me dá um abraço e diz "porra, tá indo onde? vai dar um pulinho no Masp e já volta?". Quando contei que estava voltando a cursar filosofia, ele me disse "para quê, filha da puta, você já é professor honoris causa dessa merda!".
Teve também aquela vez onde iríamos pintar o meu apartamento para entregar e ele se dispôs a ajudar. Figuraça, desceu com roupa de neoprene, óculos de segurança, rolo de tinta na mão e uma garrafa de whisky. Pintamos porra nenhuma! As outras histórias são inenarráveis, mas permanecem no inconsciente não tão inconsciente copaniano. Se as paredes daquele prédio falassem, certamente gritariam o nome dele.
Engana-se, todavia, quem pensa que de tudo isso fica só a lembrança da loucura. Ao contrário, fica o tapa na cara das convenções que determinam o limite entre a genialidade e a insanidade, a evidência que o nome disso é hipocrisia, o relativismo dessas convenções e, sobretudo, para mim, a honra de ter tido a chance de viver de perto com alguém que teve a "licença poética" para transitar entre os dois mundos e mostrar que, na realidade, gênio e louco são só um.
Meu amigo Jack? Não vou ligar agora. É muito cedo.
"Tô dormindo porra. Fodi a noite toda. Me deixa dormir!"