Caso Petruso: Quando a Ignorância Política se torna Crime

Muitos dos meus amigos tentaram me convencer que votar na Dilma era a melhor dentre as duas alternativas. Disseram estar votando "com a arma na cabeça", "tapando o nariz", dentre outros argumentos.  Eu mantive meu posicionamento. Não votei na Dilma, nem no Serra. Não corroboro nem assino embaixo de nenhuma das duas políticas. Não vendo minha dignidade. Se é para votar com arma na cabeça, puxem o gatilho.
Estava consciente que, mesmo com essa posição, um dos dois seria eleito. Foi a Dilma. Não fiquei feliz com isso. No governo Lula, o sindicato que me representa atuou quase como um ministério do governo, os bancos públicos estão sendo privatizados aos poucos, o "milagre dos empregos" está sendo feito às custas de rebaixamento de salários e do empobrecimento da tal "classe média" -- sem contar escândalos de corrupção nunca vistos antes na história desse país. Bem, se fosse o Serra, não acho que seria diferente. Seria assim também, com muito mais repressão policial e menos controle da mídia -- não ia ser necessário, falasse contra, era só descer o cacete na massa e pronto. Não me deixaria feliz, da mesma forma, e provavelmente ia ser até mais doloroso (literalmente falando) lutar pelo que acredito.
Minha crítica, todavia, não é nem à Dilma, nem ao Serra. Diante da vitória petista, a estudante de direito Mayara Petruso declarou no twitter que "nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado". Não bastasse, um bando de ignorantes ainda ecoou e apoiou a garota -- na sua maioria, infelizmente, meus conterrâneos, e mesma base política que elegeu Francisco Everardo, o Tiririca.
Não sei se todos eles tem dinheiro para pagar uma semana de férias na Costa do Sauípe, mas por tradição, os jovens de classe média paulistana costumam viajar para Porto Seguro na formatura. Mais tarde, Recife, Fortaleza, ou o carnaval de Salvador acaba se tornando sonho de consumo pequeno burguês. Esses mesmos jovens, no geral, não gostam de política. Política é coisa dos outros. Política é coisa no máximo para se pensar em época de eleições, para se pensar que nem futebol.
Mesmo em uma Universidade Federal, vejo muitos que dizem "não gostar de política", "não ligar para partidos". E menciono o fato de ser Federal não pela qualidade ou não do ensino -- não vou entrar nesse mérito, mas pela proximidade direta com o governo. Isso também acontece na empresa -- Federal -- que eu trabalho.
Se desinteressar pela política não é tão e simplesmente uma abstenção. É uma posição ativa de omissão. É uma ignorância que pode, em seus extremos, levar a posturas como a da Petruso: estudante das letras da lei, pegou seu teclado e cometeu um crime. Não é muito diferente do crime que muitos cometem ao digitar, na urna eletrônica, o número daqueles que vão matar milhões através da corrupção. Mas, afinal, política é coisa dos outros mesmo.
O Analfabeto Político
Bertolt Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

3 comentários:

Lulia disse...

Oi Filipe, que bom ler algo seu seu fora do fórum do ikariam, já que não jogo mais e por isso não acompanho o fórum.

Eu votei em Dilma, não com a arma na cabeça, mas por razões pessoais. Na cidade em que vivo, o PT se tornou a única opção, já que a política aqui é formada em panelas e o PT ainda não tem uma identidade tão suja qto outros partidos.

O que percebi aqui, auxiliando campanha, foi que quem votava em Serra, independente do motivo, estava por demais envolvido emocionalmente com a situação. quem votava nulo votava contra. quem votava na Dilma, por vezes votava por não gostar do PSDB vezes por medo de perder o emprego (aqui td é ligado à Petrobras)

Nunca vi uma campanha tão ferrenha e com as pessoas tão contaminadas pelo ódio a um candidato. Quem não votou na Dilma a odeia. Acredito ser por isso que essa garota fez isso, é mais uma do coro. Pode até não ser favorável ao Serra, apesar de que como é moradora de São Paulo (me disseram que ela não é paulistana) duvido muito não que ela não conheça.

Fico pensando que tipo de sociedade estamos formando e analisando minha faculdade, a mesma que ela cursa, o que ela passou de conteúdo sobre liberdade de expressão. Isso tudo me deixou intrigada, para que caminho estamos indo?

Quando paramos de discutir certas coisas pq elas já são banais, deixamos a porta aberta para que o mau anterior volte, e dessa vez com mais força. Sou contra a religião se misturar com o Estado. Deixei de votar no Crivella pq ele se utiliza do púlpito da igreja dele para fazer seus discursos.
É muito conveniente expor a opção religiosa e se dizer sério por causa disso.

Outra situação que isto me faz pensar é: devemos ensinar política para nossas crianças. Política e direito tem que ser ensinados aos 10, 12 anos. Para a criança crescer sabendo como e onde se manifestar.

Abraços e sucesso aí em sampa.

TBD disse...

É pena que a massa tenha encampado tão bem o argumento da privatização -- é fato que o PSDB no poder privatizou a Vale, o sistema telebrás et caterva, mas o PT no poder também está privatizando, ou melhor, "diminuindo a participação do Estado nas empresas de economia mista", dentre as quais, está a Petrobras.
Veja: desde o início do governo Lula, a participação da União na Petrobrás (Brasileira) em capital votante diminuiu, enquanto a participação do capital estrangeiro (votante, também) aumentou. Na Petro, isso aconteceu de forma bem menos escandalosa que no BB, mas acredito que a tendencia seja piorar.
Creio que falta sim ensino, mas não só de política, ensino de tudo. De filosofia, de cidadania, de matemática, de português, de história e geografia de fato. Um ensino que não seja voltado à alienação, mas à formação. O grande problema é que um povo educado é um povo perigoso: pode aprender a votar melhor, olhar pro lado e ver que as coisas estão erradas. Aí, tudo pode sair do controle, e nem os mecanismos repressivos podem ser suficientes para conter a massa educada e consciente.

TBD disse...

Ops, quando me referi à "massa ter encampado tão bem o argumento da privatização", quis dizer que encamparam o argumento de que só o PSDB privatiza, e na verdade, ambos dão continuidade ao mesmo projeto.

Postar um comentário

(os comentários desse blog são moderados)

 
;