Enem: a constatação da falência da educação no Brasil

Mais uma vez, o Ministério da Educação dá prova de sua incompetência ao gerir o que seria a prova que tem como objetivo "democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de ensino superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do ensino médio". Ano
passado, para quem não se lembra, o Exame Nacional do Ensino Médio foi furtado da gráfica e vazado para o Estadão pouco antes de ser aplicado. Os dados pessoais dos inscritos também vazaram em 2007, 2008 e 2009.
Os problemas não pararam por aí. Com a implantação do SiSu -- que, diga-se de passagem, ficou travado por um bom tempo logo que foi lançado, impossibilitando as inscrições dos estudantes (eu inclusive) que prestaram a prova, o que era para ficar mais simples ficou ainda mais confuso. A tal "democratização do acesso às vagas federais" virou um corre-corre contra um sistema falho, que insistia em cair, e não bastasse, com um critério de notas tirado da cartola pelo Haddad baseado na Teoria de Resposta ao Ítem (que não permite que você saiba quantas questões de fato você acertou, mas sim, mede "indiretamente" o seu conhecimento -- até aqui, todas as aspas são citações do próprio site do MEC).
Per se, ter a intenção de "reestruturar os currículos do ensino médio" com base numa prova já mostra a falência da educação no Brasil: ao invés de criar um teste com parâmetros no que é ensinado, cria-se uma prova para que o ensino se adapte a ela. Nada diferente do que acontece hoje, é fato: depois de passar 11 anos em sala de aula, para ter acesso à universidade o jovem precisa fazer um "curso pré-vestibular", onde muitas vezes é ensinado aquilo que deixaram passar durante todo esse tempo.
Todavia, penso eu, que ao invés de fazer as escolas prepararem-se para uma prova, o correto seria investir na educação de forma que os alunos saíssem realmente formados no conhecimento necessário para investir no próximo passo -- o Ensino Superior -- ou "tão somente" para exercer a cidadania, o que muitas vezes não ocorre. Nisso, ao dizer que o Enem tem a intenção de "induzir a reestruturação dos currículos", o MEC reconhece sua própria ingerência sobre o ensino.
Mas essa palhaçada do Enem é só um prelúdio do que espera os pretensos ingressantes. Dando um exemplo que eu mesmo presenciei, na Unifesp, campus Guarulhos, está prevista a construção de um prédio para acomodar novos estudantes e expandir a biblioteca, mas a licitação -- que só foi aberta em 21/04/2010 -- estava parada até que os alunos decretassem greve. Como mágica (com a greve), o contrato foi assinado em 27/10/2010, liberando os quase 2 milhões de reais para a construção do dito prédio (onde hoje existe um "galpão"). E esse é só um dos problemas... Plantada no meio do bairro de Pimentas, em Guarulhos, quem mora em São Paulo precisa enfrentar de 1 a 2 horas de congestionamento na Dutra ou Ayrton Senna, pagando uma tarifa de ônibus que custa o dobro da de um urbano de São Paulo. Não há moradia estudantil, e o restaurante universitário -- pasme -- funciona num barracão de madeira, no fundo do campus. É esse tipo de vaga que o MEC quer democratizar.
Entre mágicas e palhaçadas, evidencia-se o circo da educação no Brasil. É pena que, nesse espetáculo, os palhaços sejamos nós. Com todos os problemas no Enem e nas Universidades Federais, Fernando Haddad continua sendo nosso ministro da educação. Mas lembremo-nos que, afinal de contas, uma massa educada e consciente, reivindica mais, protesta mais, e sobretudo, conhece seus direitos. Será que é de fato interessante para eles melhorar a educação no Brasil?

1 comentários:

Gabriele Beck disse...

Se fosse só a educação o problema, eu estaria feliz. O problema são as pessoas, cada uma, que quando juntas, só aumentam as merdas coletivas.
A política não é diferente.

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