Meu pequeno e suficiente círculo social de hoje

No final de 2010, percebi que teria de fazer drásticas mudanças para conseguir aceitar o desafio que me fiz em ser uma pessoa melhor para mim, para outrém e para a vida e toda a existência, deixando fluir o que faz parte da minha natureza ao invés de viver constantemente com um personagem de acordo com a situação e as pessoas envolvidas, agradar todo mundo sem distinção e fazê-lo ainda que contra a minha vontade.
Isso exigiu uma poda em meu círculo social: ao invés de manter contato com umas 50 pessoas todos os dias, desligar-me de quem não vale a pena ter próximo de mim como parte da minha vida e reconhecer os que me fariam bem aceitando-me do jeito que eu sou sem que eu precisasse atuar mais como a pessoa adequada à qualquer situação.
Hoje depois de dois anos consegui mudar muita coisa para melhor -- eu acho. Meu celular deixou de receber insistentes ligações com convites para sair todos os dias. Só ando tendo contato frequente com dois amigos -- que sempre estão do meu lado e me ajudam quando preciso -- e os outros amigos que mantive apesar de não tê-los por perto sempre, conheçam-me o suficiente para saber que, longe ou perto, são pessoas que considero como amigos em qualquer circunstância, e que se for necessário voltar do Acre a pé até São Paulo se eles precisarem de mim, eu sempre estarei à disposição para fazê-lo.
Hoje tive duas grandes conquistas nesse sentido.

Uma amiga minha está passando por uma crise depressiva -- maldita sociedade que torna todos os trabalhadores em doentes e dissuadidos a pensar que não é a exploração de sua mão de obra que os torna assim -- e eu já passei por isso várias vezes, inclusive num passado decente. Ofereci que passasse um tempo aqui comigo para que eu pudesse dar uma ajuda nisso, e realmente isso será uma experiência engrandecedora (outra coisa que meus amigos de verdade sabem é que eu não sou um cara para se pedir conselhos porque falo sem papa nenhuma na língua o que no geral algo que não querem ouvir e não terão coragem de fazer). Oferecer ajuda então é mais raro ainda, mas foi-me dito recentemente de que eu teria que enfrentar meu ceticismo e passar a cultivar mais os relacionamentos com as pessoas que tenho ao meu lado.
Ora, porque não fazer diferente se a pessoa está passando por coisas que já passei e que podem ajudar-nos mutuamente. Bem, espero que ela aceite meu convite e que eu possa ajudá-la a esse respeito -- o que aprendi ao longo dos anos é que quem nunca passou pelo mesmo problema prejudica mais do que ajuda, como quando consegui sair do alcoolismo quando meu pai que tem o mesmo problema além de ser um exemplo de superação -- 8 anos sem uma gota de álcool -- entrou de cabeça para ajudar-me no meu tratamento, e pela primeira vez comecei a ter avanços que me fizeram manter mais de 250 dias de sobriedade antes de ter uma recaída, mas ainda assim, tê-lo do meu lado entendendo perfeitamente o que eu sentia depois desses fracassos e não desistir de seguir adiante e confiar em minha própria força. Isso aplica-se em todos os problemas em comum que um amigo pode ter conosco, e aumenta a chance de ajudá-lo depois do know-how que a gente adquire quando consegue triunfar -- independente de por quanto tempo -- e mostrar através de si algo que a pessoa não percebe quando está ao lado dos que querem ajudar mas não entendem realmente como essa ajuda pode ser dada.
Legal, quem sabe eu possa ajudar ou pelo menos atenuar o sofrimento de uma pessoa importante para mim e trocar experiências, ferramentais que usei comigo mesmo e que podem servir de alguma ajuda. Sobretudo, fazer o novo e enfrentar meu ceticismo, quem sabe vai ser uma experiência enriquecedora para mim e amolecer meu ceticismo com relação a dar ajuda ao outro sem pensar que isso nunca será útil.
Outra grande experiência que tive hoje foi conversar com um outro amigo para botar às claras uma situação que me estava entalada na garganta e que pensei que a melhor forma de resolver seria cortando contato com o cara por duvidar que ele fizesse jus à minha amizade. Comecei à meia noite e conversamos bastante até agora há pouco, o que revelou que valeu a pena enfrentar meu orgulho e compartilhar com meu amigo o que estava sentindo com relação a ele (será que ele teria mesmo a intenção de me apunhalar pelas costas?).
Tenho síndrome de vampiro, dormir depois do sol nascer me atrapalha, então vou encerrar por aqui para aproveitar o sono antes que o dia volte a ser dia. Odeio dormir tarde, mas hoje valeu a pena tirar esse fardo de 100kg das costas e ver que eu não me enganei em considerar esse grande cara como um amigo.
Por fim, estou muito mais feliz em ter um círculo de amizades pequeno e bem menor que quando eu não me importava em ter ao meu lado pessoas que não são dignas de confiança, não goste do meu personagem, mas gostem de mim apesar de ser falível, impulsivo e errar mais que acertar nas minhas escolhas.
Encerro com um mea culpa quanto a não ter conseguido ainda ser um parceiro tão bom para quem está comigo em minha vida amorosa, mas apesar de ter de engolir meu fracasso e sucumbir a dificuldade de seguir em frente, não desistir de continuar me empregando em ser uma pessoa melhor. Ora, se em 2005 eu tinha dificuldade de me submeter à convenção da monogamia, os últimos relacionamentos que tive me provaram que é possível sim ser fiel enxergando isso como lealdade ao sentimento e à dedicação da pessoa que se entrega a você, o que vale mais -- enquanto lealdade -- que pensar só em si mesmo e trocar a sinceridade do sentimento que sua namorada (que seja) lhe dedica ainda que trair para mim não muda o sentimento por sua companheira, é mais importante ser leal a quem dedica-se a você e controlar os impulsos pensando na felicidade que jogar sempre às claras com quem você escolheu manter-se lado a lado.
Fico triste que ainda que tenha agido assim nos últimos anos, a transparência tenha se mostrado indesejada e insuficiente -- foi o motivo de término de dois relacionamentos nesse período em que optei por sempre falar a verdade sobre minha história, minha vida e mostrar através de ações -- e não de palavras -- que estou sempre me esforçando para ser uma pessoa melhor.
Me magoa muito pensar que ser um personagem valha mais que mostrar-me como sou em meus pretensos relacionamentos afetivos. Sinto-me mal de ter fracassado em ser uma pessoa boa jogando limpo na maioria das vezes e não envolvendo minha parceira em meus problemas e ter de ouvir depois de tanta dedicação que sou um mau caráter imutável depois de todos os esforços que fiz para dar sempre o meu melhor e combater comigo mesmo aspectos que prefiro não envolver terceiros para pedir-lhe ajuda.
Como será agora que fracassei doando toda minha sinceridade? Realmente não sei. Mas há de haver um dia onde eu consiga realmente fazer dar certo minha vida amorosa da mesma forma que dão certas as minhas amizades. D., querida, queria ter conseguido fazer de nosso relacionamento superar todas as adversidades e os erros idiotas que cometo. Fracassei. De coração, perdoe-me por isso. Vou tentar não falhar com você de novo como companheiro, ainda que isso exija que eu me mantenha firme para aceitar o meu fracasso anterior e esquecer todos os planos que fizemos e que tudo mudou quando não conseguir fazer jus ao título de seu homem, mas que não matou meu amor por você: só está me fazendo aceitar que amar implica em respeitar suas decisões e fazer o máximo que eu puder fazer do seu lado para, independente de títulos, te fazer feliz.

0 comentários:

Postar um comentário

(os comentários desse blog são moderados)

 
;