O problema está na realidade no impacto que essa dificuldade gera e se ela extrapola os limites do si e toca o outrem: não é justo envolver o outro em seu problema, já que como estabeleci lá em cima, nenhuma vida é fácil. Infelizmente, existem muitos outros que, até mesmo para afugentar-se de seus próprios problemas, aceitam esse envolvimento. À partir disso, a dificuldade do um soma-se às dificuldades do outro, e o resultado dessa equação é um número ainda maior de dificuldades. Meus amigos me conhecem e sabem que não sou de me lamentar, tampouco de pedir ajuda, mas faço terapia e lá sim me lamento e aceito ajuda -- o terapeuta não é um outro que vai somar seus problemas aos dele, ele vai abster-se de envolvimento e ainda assim, com uma visão externa, encontrar ferramentas que façam-no resolver-se. Bem, ao menos assim a coisa deveria funcionar, mas o mercado de psicólogos não anda lá muito bem e às vezes as coisas acabam tomando outro rumo.
Por enxergar as coisas dessa forma -- não é um ponto de vista inato, é algo que desenvolvi -- eu respeito muito os problemas dos outros, não me envolvo com eles e tento fazer o máximo para que eu não envolva terceiros em meu problema. É claro que, como tudo que tange à existência humana, esse não é um mecanismo infalível: às vezes acabo envolvendo outro sem perceber, ou às vezes acabo criando problemas para o outro -- que para mim não seriam problemas -- não só sem perceber mas também sem intenção. O que percebo, todavia, é que reconhecer as coisas dessa forma faz com que ao longo do tempo você passe a controlar cada vez mais esse mecanismo danoso de deixar a dificuldade extrapolar o si, o que concluo por observação empírica percebendo que se há 5 anos atrás eu produzia muitas mágoas, hoje produzo bem menos.
Importante também é reconhecer a dificuldade como "mais uma" dificuldade: ela não foi a única que você mesmo já enfrentou, pode até ser diferente, mas como todas as outras ela pode sim ser superada. Não há portanto o que temer: há de se manter consciente, desprender-se da coisa e ater-se ao eu. Qual é o único elemento comum tanto à dificuldade quanto às superações? O eu. Ele portanto está acima de tudo, apesar de inserido em determinada circunstância. Atendo-se ao eu, por mais difícil que seja, qualquer dificuldade deixa de ser insolúvel e passa a ser só mais um elemento da história da vida. Óbvio que sei que isso não é fácil, ora, eu mesmo penso assim mas não consigo lidar com tudo dessa forma, mas ajuda muito pelo menos pensar nisso. Aliás, acho que o cerne de enfrentar as dificuldades está justamente nisso: abrir a mente para outros pensamentos. Quando você olha para o abismo, o abismo olha para você. Mas há várias outras coisas nas cercanias do abismo, e por mais que seja difícil, é legal olhar para todas elas. Levando ao absoluto, quando um problema assume sua máxima dimensão, eu penso da seguinte forma: isso já é fato, então porque não pensar em outras coisas também?
Mas tudo isso não passa de teoria, a prática é bem diferente. Eu só acho que a chave para tudo isso é nunca deixar de ter em mente que o problema não é parte do eu, e saber que tudo é passageiro (até a vida, afinal). Um dia o amanhã vai ser diferente, até o Sol varia de posição no céu com a passagem das horas. Se hoje está ruim, portanto, e não há como mudar, dormir é a melhor solução. O maior contraponto à dificuldade será sempre o dia seguinte.
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