[+18] Pôsteres

[Aviso: Conto com doses de erotismo e linguagem obscena!]


                Ela tinha pôsteres na parede do quarto. Vários. Chegava a me irritar – aliás, não era a única coisa que me irritava nela. Seu jeito de ser me irritava, na cama me tratava como o único homem do Universo – ou o último, fora dela era como se fosse lixo. Ainda assim, atravessava os mais de 600km que separam São Paulo de Florianópolis só para vê-la. Sabia que ela estaria lá, com seu ar seco e soberbo me esperando na rodoviária – porque minha decisão sempre era tomada de última hora, e a pornografia dos preços das passagens dos preços de avião para um dia seguinte superam todas as que fazíamos ou poderíamos fazer na cama.
                Os pôsteres ela dizia que era da época de menina – como se não fosse mais menina do alto de seus 23 anos. Menina esnobe. Saíamos da rodoviária e íamos direto para o seu apartamento, uma república partilhada com mais 3 meninas, mas que de antemão nos certificávamos que não estariam lá, nos trancávamos no quarto e trepávamos como loucos. Quando nos lembrávamos de comer, pedíamos uma pizza. Praia em Florianópolis? Fui duas vezes, desacompanhado. Conheci-a em São Paulo, trepamos uma vez dentro do bar e tive a infelicidade de pegar seu telefone.


                Pôsteres de jogadores de times do sul – quem caralhos conhece times do sul? Bem, quem é do sul, aqui em São Paulo a gente pensa que só existe o Coringão, o São Paulo, o Palmeiras e sabe que existem algumas pessoas que torcem para o Santos e para a Portuguesa. Esses últimos são quase como ornitorrincos: você sabe que existe, mas você nunca viu. Pôster de um cantor de sertanejo, puta que pariu, eu escuto Nirvana, Led Zeppelin, The Doors, às vezes avanço para um Oasis. Sertanejo cara?
                O que fazer se aquela boceta parecia um buraco negro que me sugava para dentro e não me deixava sair. Me sugava a 700km, me sugaria até da Lua. A ironia nisso é que o que eu mais gostava de fazer era suga-la, talvez para tentar fazer uma espécie de antimatéria, sugando um buraco negro para fora. Não, esse verbo está errado, o mais apropriado seria degustar. Eu me esqueceria facilmente de comer e beber se passasse horas simplesmente a chupando. Ela não deixava colocar os dedos enquanto fazia isso – dizia que a desconcentrava, isso com o ar soberbo, não com o ar de que “você é o último cara do mundo”. Acho que no fim das contas os únicos dedos que ela gostava mesmo eram os dela. Penetração ela gostava, e muito! Gostava que colocasse bem forte e logo antes do orgasmo tirasse e colocasse bem devagar, sentindo cada pedacinho do meu pau invadindo aquele corpo. É, o corpo mesmo, não a vagina: o sexo com ela envolvia o corpo todo.
                Um pôster da Hello Kitty, meu Deus! Se eu olhasse para ele me sentiria um pedófilo e me entregaria para o delegado no momento seguinte – culpado doutor, pode prender! Mas o poder das imagens é incrível: estava há 2 meses sem vê-la e olhei nas redes sociais o boato de que a Hello Kitty não era um gato. Peguei o telefone na hora:
                -- Sábado?
                -- Não sei, tenho que ver se elas vão sair.
                -- Eu quero sábado.
                -- Você não decide.
                E desligou. O sms chegou em 10 minutos: “sábado, mesmo horário, não atrasa” – ah, como se fosse depender de mim todas as intempéries que poderiam acontecer na Regis Bittencourt. Aquilo era um ônibus e não um avião, porra! Ainda assim chegava preocupado na rodoviária – “puta que pariu, será que vai atrasar?”. Ela estava lá na plataforma, seca. Na segunda vez que fui, arrisquei dizer:
                -- Praia?
                -- Não.
                Chamou um taxi a seguir. Entramos. Cheguei no quarto e vi aqueles pôsteres horrendos, e por sorte quando olhei para trás ela já tinha abaixado as alças dos vestidos e o amassado embaixo dos seus pés. Não vestia nada por baixo. Suspeitei que ela nunca usava calcinha quando ia me buscar.
                A última notícia que tive dela? Nenhuma, já que de uma hora para outra o telefone passou a não existir. Não fui até Florianópolis atrás dela, era loucura. Deixei passar, até ontem: no meu e-mail chegaram algumas fotos de um destinatário desconhecido que se identificou como “amigo”. Seu corpo eu reconhecia até se olhasse uma única célula pelo microscópio – ou até se não olhasse, só pelo toque, pelo cheiro, pelo gosto... Ela estava lá. Em outro quarto, outra casa, afinal essa eu também conhecia de cor – mas ela pregou os mesmos malditos pôsteres na parede. Na mesma sequência. Assimétrico igual. Concentrei-me neles porque bateu um ciúme – ela não estava sozinha naquelas fotos, e esperei que eles me dessem raiva o suficiente para apagar o e-mail.
                Mas tinha um pôster novo na parede: a única foto que tiramos juntos quando nos conhecemos no bar em São Paulo antes de trepar loucamente no banheiro.
                

1 comentários:

Anônimo disse...

Você só escreve quando está apaixonado... sinto falta dos seus textos, espero que outras fontes de inspiração apareçam em breve! Escreva!!!

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