[Aviso: Conto com doses de erotismo e linguagem obscena!]
Ela tinha pôsteres na parede do
quarto. Vários. Chegava a me irritar – aliás, não era a única coisa que me
irritava nela. Seu jeito de ser me irritava, na cama me tratava como o único
homem do Universo – ou o último, fora dela era como se fosse lixo. Ainda assim,
atravessava os mais de 600km que separam São Paulo de Florianópolis só para
vê-la. Sabia que ela estaria lá, com seu ar seco e soberbo me esperando na
rodoviária – porque minha decisão sempre era tomada de última hora, e a
pornografia dos preços das passagens dos preços de avião para um dia seguinte
superam todas as que fazíamos ou poderíamos fazer na cama.
Os pôsteres ela dizia que era da
época de menina – como se não fosse mais menina do alto de seus 23 anos. Menina
esnobe. Saíamos da rodoviária e íamos direto para o seu apartamento, uma
república partilhada com mais 3 meninas, mas que de antemão nos certificávamos
que não estariam lá, nos trancávamos no quarto e trepávamos como loucos. Quando
nos lembrávamos de comer, pedíamos uma pizza. Praia em Florianópolis? Fui duas
vezes, desacompanhado. Conheci-a em São Paulo, trepamos uma vez dentro do bar e
tive a infelicidade de pegar seu telefone.
Pôsteres de jogadores de times
do sul – quem caralhos conhece times do sul? Bem, quem é do sul, aqui em São
Paulo a gente pensa que só existe o Coringão, o São Paulo, o Palmeiras e sabe
que existem algumas pessoas que torcem para o Santos e para a Portuguesa. Esses
últimos são quase como ornitorrincos: você sabe que existe, mas você nunca viu.
Pôster de um cantor de sertanejo, puta que pariu, eu escuto Nirvana, Led
Zeppelin, The Doors, às vezes avanço para um Oasis. Sertanejo cara?
O que fazer se aquela boceta
parecia um buraco negro que me sugava para dentro e não me deixava sair. Me
sugava a 700km, me sugaria até da Lua. A ironia nisso é que o que eu mais
gostava de fazer era suga-la, talvez para tentar fazer uma espécie de
antimatéria, sugando um buraco negro para fora. Não, esse verbo está errado, o
mais apropriado seria degustar. Eu me esqueceria facilmente de comer e beber se
passasse horas simplesmente a chupando. Ela não deixava colocar os dedos
enquanto fazia isso – dizia que a desconcentrava, isso com o ar soberbo, não
com o ar de que “você é o último cara do mundo”. Acho que no fim das contas os
únicos dedos que ela gostava mesmo eram os dela. Penetração ela gostava, e
muito! Gostava que colocasse bem forte e logo antes do orgasmo tirasse e
colocasse bem devagar, sentindo cada pedacinho do meu pau invadindo aquele
corpo. É, o corpo mesmo, não a vagina: o sexo com ela envolvia o corpo todo.
Um pôster da Hello Kitty, meu
Deus! Se eu olhasse para ele me sentiria um pedófilo e me entregaria para o
delegado no momento seguinte – culpado doutor, pode prender! Mas o poder das
imagens é incrível: estava há 2 meses sem vê-la e olhei nas redes sociais o
boato de que a Hello Kitty não era um gato. Peguei o telefone na hora:
-- Sábado?
-- Não sei, tenho que ver se
elas vão sair.
-- Eu quero sábado.
-- Você não decide.
E desligou. O sms chegou em 10
minutos: “sábado, mesmo horário, não atrasa” – ah, como se fosse depender de
mim todas as intempéries que poderiam acontecer na Regis Bittencourt. Aquilo
era um ônibus e não um avião, porra! Ainda assim chegava preocupado na
rodoviária – “puta que pariu, será que vai atrasar?”. Ela estava lá na
plataforma, seca. Na segunda vez que fui, arrisquei dizer:
-- Praia?
-- Não.
Chamou um taxi a seguir.
Entramos. Cheguei no quarto e vi aqueles pôsteres horrendos, e por sorte quando
olhei para trás ela já tinha abaixado as alças dos vestidos e o amassado
embaixo dos seus pés. Não vestia nada por baixo. Suspeitei que ela nunca usava
calcinha quando ia me buscar.
A última notícia que tive dela?
Nenhuma, já que de uma hora para outra o telefone passou a não existir. Não fui
até Florianópolis atrás dela, era loucura. Deixei passar, até ontem: no meu
e-mail chegaram algumas fotos de um destinatário desconhecido que se
identificou como “amigo”. Seu corpo eu reconhecia até se olhasse uma única
célula pelo microscópio – ou até se não olhasse, só pelo toque, pelo cheiro,
pelo gosto... Ela estava lá. Em outro quarto, outra casa, afinal essa eu também
conhecia de cor – mas ela pregou os mesmos malditos pôsteres na parede. Na
mesma sequência. Assimétrico igual. Concentrei-me neles porque bateu um ciúme –
ela não estava sozinha naquelas fotos, e esperei que eles me dessem raiva o
suficiente para apagar o e-mail.
Mas tinha um pôster novo na
parede: a única foto que tiramos juntos quando nos conhecemos no bar em São
Paulo antes de trepar loucamente no banheiro.
1 comentários:
Você só escreve quando está apaixonado... sinto falta dos seus textos, espero que outras fontes de inspiração apareçam em breve! Escreva!!!
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