Enchente: muito além de um desastre natural

Geraldo Alckmin disse (de acordo com o UOL), que as obras contra as enchentes "não ficam prontas em 24 horas". Sabe, tenho total acordo com ele. Não podemos esperar do Estado que, em plena época das chuvas, construam piscinões ou o que o valha para combater as cheias.
O Estado já tinha que ter feito isso! Muito se fala das pessoas que "moram em área de risco", atribuindo-lhes a culpa de ser vítima dos desastres naturais -- uma vez que o Estado já tinha avisado que a área em questão não deveria ser habitada. Pois bem... Se a área é de risco e o Estado não vai investir em infraestrutura para combate às enchentes no local, para onde vai o dinheiro do IPTU e, sobretudo, dos impostos cobrados na conta d'água, em especial, aquele que deveria se destinar ao esgoto tratado? Mais que isso: como pode o Estado tributar uma "área de risco", se não legitimando a ocupação dessas áreas?
Desde que me conheço por gente -- até onde minha memória alcança, e olha que tenho 27 anos -- ouço falar do combate ao problema das enchentes do Rio Tietê. Até hoje, o problema perdura. Porra! Há 27 anos o governo ainda não conseguiu achar uma solução para isso (e olha que nos últimos anos uma pista "expressa" está sendo construída e, provavelmente, vai ser pedagiada)? E o dinheiro que foi destinado para isso, onde está? Sobretudo: como pode ainda ser despejado esgoto no Rio Tietê se há mais de 20 anos se constatou esse problema e os mesmos cidadãos (e indústrias) que despejam o esgoto pagam pela coleta de esgoto?
Na região metropolitana de São Paulo(incluindo as favelas), a taxa de esgoto corresponde a 100% da tarifa de água (ou seja, se você consumiu R$20 em água, vai pagar R$20 de esgoto) (fonte). Ora: 100% da água consumida numa residência vai para o esgoto? Não entrando no mérito da absorção dessa água pelo organismo humano, pela terra ou pelos animas de estimação, a tal tarifa para coleta é paga para que o rio colete?
Não me surpreende que os rios estejam transbordando. Deveriam transbordar dinheiro. Só que enquanto os rios enchem as casas dos pobres, o dinheiro dos pobres é drenado para ser reinvestido sabe-se lá onde (talvez no reajuste dos legisladores, que, nas palavras de Abelardo Camarinha, "não tem um padrão de vida de um cidadão comum") (fonte). E enquanto os deputados nadam no dinheiro, os cidadãos comuns se afogam nas enchentes.
E as bocas de lobo, que o cidadão comum (diz-se) tanto suja e paga para que sejam limpas? E nas estradas, que depois de serem construídas pelo Estado, passam a ser exploradas pela iniciativa privada, pode-se abster de pagar o pedágio quando elas desmoronam? 
Será mesmo que tudo isso é problema da natureza ou da desnatureza humana dos nossos governantes?

(Edit. (13/01): a tempo, "Mudanças climáticas não podem ser desculpas para enchentes", dizem especialistas)

2 comentários:

Carol Puglia disse...

Ótimo texto...Janeiro é um mês revoltante sempre. Além de pagarmos aquele monte de impostos, ainda tem esse drama das enchentes que é recorrente e ano após ano, vemos a história se repetir e nada ser feito...As vezes fico me pensando, será que somos um povo burro por essência? Ou será que por sermos tão pacíficos, chegamos a ser ingênuos e não lutamos contra esses governos corruptos que se repetem a anos e anos. Acabei de voltar dos EUA e senti na pele o que eu já tinha ouvido falar, pagamos um absurdo de imposto em tudo, além desse conglomerado de impostos de janeiro e pra onde vai tudo isso? É revoltante...

TBD disse...

Veja, não creio que a "burrice" seja uma questão de essência, nesse caso: educação sucateada (desde a ditadura) gera indivíduos de menor "periculosidade" àqueles que governam contra os interesses desses indivíduos, afinal de conta, quem pensa é muito perigoso.
Por conta disso, acho que não é uma questão de pacificidade também. É alienação, fomentada pelo governo.

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