Apesar de você

Se hoje sou politizado, ou penso ser, devo o que sei à experiência que adquiri como parte consciente do movimento de massas. Me inseri no ativismo sindical em 2003, quando tomei posse no banco (empresa meio pública tem dessas: a gente não é contratado, toma posse) e, com poucas semanas, entrei em greve. Aos poucos comecei a entender como tudo funcionava, que o PT com quem cresci já não era mais o mesmo e que no sindicato atuava como a burocracia contra a vontade das massas e pró-governista. Vivi de perto a experiência com isso quando, em 2004, defendi diante de alguns diretores do sindicato que deveríamos ir à greve, pois a massa iria aderir, e os diretores disseram que não acreditavam na força do funcionalismo. A greve aconteceu, e foi forte! No ano seguinte, acreditando um pouco mais nos bancários mas ainda colocando a governabilidade acima dos interesses dos trabalhadores, a greve foi defendida pela diretoria, mas boicotada desde o começo e, no final, foi fechado um acordo rebaixado a despeito da força da greve. E o mesmo aconteceu esse ano.

Minha experiência desses últimos 3 -- quase 4 -- anos também determinou minha adesão a uma organização partidária, a que me pareceu mais coerente com a vontade das massas e a realidade da conjuntura. Sou trabalhador, de classe média baixa, com educação mediana e medíocre, quase um ignorante. Todavia, faço parte de uma minoria, não a minoria das minorias, mas sou uma parte ínfima do povo que tem acesso à internet, ao ensino superior, à alfabetização, e faço em média três refeições por dia. Nem por isso devo ignorar os interesses da maioria miserável: ao contrário, penso que todos devem ter acesso ao que eu tenho e que eu devo ter acesso a outras coisas que só as minorias mais minoritárias que eu tem.
Aprendi também o quão ignorante é pensar que ações assistencialistas como abrir a minha casa para dar comida aos pobres ou criar cartões com um valor disponibilizado mensalmente são um combate de fato à miséria: ao contrário, são paleativos que servem para livrar o peso da consciência da minoria mas que tem uma mínima representatividade na construção de uma sociedade igualitária. Outrora já disseram que dar o peixe tira a fome imediata do homem: ensiná-lo a pescar, por outro lado, alimenta-o e à sua família por toda a sua vida.
A essa altura, nem preciso falar o que penso daqueles que concentram a renda e criam uma distância vertiginosa entre os ricos e pobres: por isso, qualquer partido que represente essa classe obtém de mim no máximo um riso sarcástico, ironias, ou desprezo -- embora não duvida da autenticidade, numa democracia, da representação dessas organizações.
É por isso que em 29/10, um dia antes do meu aniversário, vou votar 00 na urna eletrônica. É isso mesmo: voto nulo. Voto consciente, posicionado, politizado. Defendo o voto nulo enquanto posicionamento legítimo contra as duas alternativas apresentadas, que não contemplam e não representam meus interesses. Ambos não são favoráveis aos trabalhadores, ambos representam as elites (não é assim que o barbudo fala?), ambos defendem reformas que afetam diretamente ao meu bolso e favorecem diretamente aos cofres dos bancos e grandes empresas. Para que então escolher dos males o pior? Mal é mal, não existe "mais mal" ou "menos mal". O pior é mal, o ruim é mal. Morrer com um tiro na têmpora ou na nuca é morte certa: prefiro viver, mesmo que essa alternativa me seja cerceada. Defenderei a vida até a morte.
E apesar do PT, amanhã há de ser outro dia.

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