Eufemismos e Falácias

Vivemos num mundo cão que vai ficando cada vez mais cão. Ou do caraleo cada vez mais do caraleo. Eu não preciso utilizar-me de eufemismos. Gosto de observar alguns fenômenos interessantes do dito mundo "corporativo". Óbvio que não é um universo interessado no desenvolvimento humano ou dos seres que dedicam-se ao seu desenvolvimento.
São (somos) todos bandos de alienados dedicando-se a mover engrenagens de uma máquina que não sabem bem para que serve. Estão lá porque estão. Simples assim. A televisão mostra que a gravata é o certo a se vestir se se quer se dar bem na vida, então, que sea, embarquemos nessa! O grande problema é que o corpo e a mente humana não comportam essa vida, talvez não tenham sido feitos para isso ou não tenham tido tempo para se adaptar ainda, sei lá.
Um dia, pode ser, as pessoas comecem a abdicar de suas próprias personalidades e servir em tempo integral às empresas, dormindo 2 horas por dia e não se relacionando com outras pessoas, aí teríamos o cenário ideal para as corporações, mas isso ainda não existe. As pessoas adoecem, questionam, se sentem pressionadas... É aí que entram os "atenuantes" -- que vou chamar de eufemismos do mundo corporativo.
Acabo de ler em algum lugar uma recomendação para "temperar a vida" e "comer melhor", em uma palestra em Brasília onde se falou da importância do convívio familiar e com os amigos. Calmalá... Se o convívio familiar é tão importante para a empresa, não seria fundamental que eles melhorassem as condições desse convívio, por exemplo, cumprindo a jornada de 30 horas semanais para todos os bancários prevista em lei e descumprida deliberadamente, repondo as perdas saláriais -- o que faria com que pudesse pagar melhores condições de educação, alimentação, moradia para toda essa família?
O argumento seria, pois, tão somente uma falácia? Não é. Creio eu que a mentira deixa de ser mentira quando aparece algum "crente" para fiar a ela alguma verdade -- mesmo que por conformismo. Claro que ela continua sendo mentira, mas a consciência do "crente" fica mais tranquila, ele morre tranquilo, conformado, pobre de espírito e ignorante, talvez se achando feliz, mas de qualquer forma, é mais fácil viver pensando que estão tentando melhorar nossas vidas e que há uma saída possível que saber que tudo isso é uma falácia e só se rompermos com as mentiras desde o princípio teremos uma chance de real felicidade. É aí que se transforma a falácia em eufemismo.
Acredito que o eufemismo é pior que a falácia. Se eu souber que o argumento é inválido, posso buscar o verdadeiro. Mas quem é que quer saber a verdade? Vamos temperar a vida! Vamos comer melhor!

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