jogos de dados

Um dia desses foi um dia interessante. Dia de chutada de balde, de baladas boas, de ressaca de dois dias. Mas um diálogo particular me chamou a atenção, sobre relacionamento e jogo de dados. Claro, não foi
sobre relacionamento, tampouco sobre jogo de dados. Eu enviesei dessa forma, talvez só eu, talvez só minha memória -- que não é lá muito confiável -- como todos os outros sentidos, tal qual ensinou e repliquei por diversas vezes Descartes.
Para variar a citação, começo então em Erwin Schrödinger, baseando-me na "pouco fiável" Wikipédia: um "gato é colocado numa caixa selada. Então, no interior da caixa, existe um dispositivo que contém um núcleo radioativo e um frasco de gás venenoso. Quando o núcleo decai, emite uma partícula que aciona o dispositivo, que parte o frasco e mata o gato. (...) No entanto, quando a caixa é aberta o experimentador vê só um 'gato morto/núcleo decaído' ou um 'núcleo não decaído/gato vivo.' A questão é a de saber quando é que o sistema deixa de ser uma mistura de estados e se torna num ou noutro?"
Chato o parágrafo anterior, não? Ele é conhecido como o Paradoxo do Gato de Schrodinger, um dos fundadores da mecânica quântica -- ainda reproduzindo a wiki -- e tem a ver com um gato, fechado em uma câmara de aço com um dispositivo diabólico. Dentro dessa caixa, esse gato pode estar vivo, ou morto. Ou vivo e morto.

Os leitores pacientes, são poucos esses, chegaram no que eu queria falar sobre jogo de dados e, sobretudo, probabilidades. O cerne da discussão era de um relacionamento -- Deus, como foi difícil conceituar que era um relacionamento, já que a partir de um momento em que duas pessoas se cruzam seja numa mesa de bar, seja num encontro de ombros em um horário de pico no Metrô na praça da Sé, desenvolveu-se aí um relacionamento -- ou de qualquer outra coisa da qual depende uma vida, ou da própria vida, as possibilidades são todas. Ou inúmeras, ou inumeráveis. Talvez o exemplo mais adequado seria do Baralho Quântico, mas aí seria outra chatísse e eu já estaria sendo ainda mais pseudo-filosófico -- e o faço por falta de conhecimento literário, não por má-fé, juro -- e duvido que os dados da vida tenham apenas seis faces. Eu mesmo, quando joguei, fiquei surpreso com os resultados diversos.
Da obra de Filosofia Clínica que estou deglutindo, de Lúcio Packter, "Maria e Francisco se casaram, (...) Maria (...) porque o amava, Francisco (...) devido à fortuna de Maria" -- um relacionamento se desenvolveu e cresceu com bases diferentes, e mantém-se talvez porque "o que Deus uniu, só a morte pode separar" (ambos seriam religiosos). Inúmeras seriam as possibilidades, talvez, onde eles poderiam descobrir outras afinidades que os manteriam juntos -- ou que os separariam. Ou não.
No problemático diálogo, resolvi apresentar-me enquanto jogador de dados (e fui massacrado pelos tradicionalistas visionários de uma só probabilidade, para os quais o gato estaria só morto, ou só vivo, não sei) : um de nossos colegas tinha uma companheira, cuja chave de sua habitação lhe foi confiada por um terceiro elemento sem o seu consentimento. Para todos os presentes, imediatamente o ato foi considerado uma invasão de privacidade, visto que a companheira foi dormir na casa dele, sem o seu consentimento. Eu apresentei uma probabilidade -- pouco provável, claro -- de que ela, conhecendo as falhas de seu caráter, continuaria sendo sua companheira e mais, isso aumentaria o grau de seu companheirismo, tendo ele passado uma noite fora, mesmo com ela passando a noite só, em seu leito, já que ele não sabia que ela estaria lá e resolveu que passaria a noite em nossa companhia -- e dos copos de cerveja, e todo lo más.
Era pouco provável, mas era uma probabilidade. E a vida é um jogo de dados. Eu demonstrei, há alguns posts, que quando se joga, os resultados são imprevisíveis. Apostar no previsível é pensar que a vida é linear, fiada como tecida por uma grande máquina de tecer tapetes por um ser que tem um cérebro como o nosso. Se é tecida, tenho lá minhas dúvidas. Mas que o cérebro está distante de ser como o nosso, aí sim, eu não duvido. Por isso mesmo, aposto nos dados.
É, disse Shakespeare: "Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia." Não sei se é tão vã, mas meu conhecimento sobre isso... Esse sim o é.

2 comentários:

Wolf disse...

Não gosto de insinuar que alguém seja burro, visto que isso normalmente é circunstancial, mas ignorar a problematização é não poder sequer enxergar o problema inicial, nope?

TBD disse...

No geral, o problema inicial é sim ignorado. Mas, enfim, isso é um problema de filósofos, e os filósofos são todos os ignorados no geral, enfim =)

Postar um comentário

(os comentários desse blog são moderados)

 
;