mula::sem::cabeça

As cidades do interior de Minas Gerais tem algo de bastante curioso. Pode ser que eu tenha viajado pouco pelo interior de São Paulo, mas em Minas se encontram cidadezinhas de 5 mil ou 10 mil habitantes, ouvi dizer até que Minas é o Estado que mais tem municípios. Qual é mesmo o critério que leva um povoado a ser considerado município?
Tenho blog há muito tempo (claro que não é esse), desde a época de cursinho, com pretensões – eis aí um vocábulo bem catado para designar o porquê de eu mesmo ter um blog – Machadianas. Explico: na época em que eu freqüentava cursinhos, um dos professores de literatura me disse que um dos segredos para escrever bem era escrever sempre. Por isso, o citado acima tinha um diário, onde escrevia desde a menor baboseira até a maior sacada. Duvido que ele escrevesse baboseira. Já eu mesmo, receio que nunca chegue nas maiores sacadas.
De qualquer forma, morando agora em uma casa de família – ora bolas, é a minha família – escrevendo sobre a Mula-Sem-Cabeça para um portal de Educação, lembrei-me da época das minhas viagens para Minas Gerais. Isso porque não consigo imaginar uma mula que solta chispas de fogo pelas narinas e pela boca -- é o que chamam "paradoxo do absurdo" -- correndo por ruelas ou por colinas galopando e aterrorizando os moradores da Avenida Ipiranga ou do Edifício Copan, onde eu vivia. No máximo, seria perseguida por viaturas do Tático ou da Rota, e não tardaria a ser montada por um bêbado saído da Love Story, o que mataria séculos e séculos de um rico e valioso imaginário popular.

Morei em São Thomé das Letras e hospedei-me em hotéis de várias dessas cidadezinhas que citei no primeiro parágrafo. São Thomé já era: asfaltaram a estrada que a liga a Três Corações, virou destino pop, as pessoas vão pra lá só pra fumar maconha e tomar cerveja. Pena. É o mesmo movimento que acontece com as boas baladas aqui de São Paulo: são boas, aparecem no Guia da Folha e, em seis meses, deixam de ser boas. No caso da cidade mineira, as pedreiras se encarregaram de fazer o resto: uma de minhas cachoeiras preferidas que, me lembro, em 2000, a água chegava a 2 metros de altura, agora bate em minhas canelas.
Imagino-me ainda hospedado em um desses hotéis, em uma dessas cidadezinhas. Sei lá: será que ainda existe Baependi, Carrancas, ou alguma outra que ainda não conheço? Será que ainda existe algum Estado que ainda não explorei com arraiais e povoados como esses, com gente maravilhosa como essa? Ou, fui eu mesmo que disse no meu antigo Orkut: “O mundo é muito grande (...) basta ter uma bússola” – e um Guia4Rodas. No meu caso: Gua4Rodas, tempo, sanidade, e dinheiro. Quero me hospedar em um desses hotéis, em uma dessas cidadezinhas. Olhar pela janela. E ver a mula correndo, pelas ruelas, aterrorizando os moradores. Ah... Se for pequena do jeito que quero, não vai ter hotel.
E agora, os tempos mudaram. Já não há mais mula-sem-cabeça, já não há mais jovem arrependida chorando e soluçando despida após a noite de maldição. Ninguém lhe tenta tirar o freio. E o Blog... Bem, o blog virou coisa de jornalista, não de gente desqualificada como eu que resolve escrever quando tem necessidade de vomitar as suas idéias. Vai entender essas tendências da internet...

2 comentários:

Nathália disse...

Nós estavamos conversando quando você começou a escrever esse post.
Quanto aos outros, eu já tinha visto antes mesmo de você me apresentar o blog.
...Obrigada por lembrar.
*-*
rs

TBD disse...

É verdade, estávamos conversando =) Não me conformo que você não sabia que eu tinha morado em Minas antes de Ouro Preto... Enfim... Bjo!

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