O Cientista e o Filósofo

Nesta terça-feira com cara de sexta eu saí uma hora mais cedo da faculdade. Tinha marcado com um grande amigo meu que não via há tempos de tomar uma cerveja no centro. Decidi por um bar na rua Sete de Abril, barato e com mulheres para olhar, onde há quatro anos atrás costumava encontrar um cliente que virou amigo
com quem até então tinha perdido o contato.
Logo que desembarquei no Tietê (chegando da Unifesp Roraima, como eu costumo chamar Guarulhos), meu celular tocou e vi um número desconhecido. Costumo ignorar esse tipo de chamada mas, dessa vez, quase que mecanicamente, atendi. Com seu sotaque nordestino inconfundível, falava-me do outro lado da linha justamente o tal cliente-amigo com quem eu não tinha contato há quatro anos. Chegara a São Paulo e conseguiu meu telefone com um conhecido. Falou para marcarmos alguma coisa um dia desses, e eu disse que estava indo para o bar de sempre. Foi quando ele me disse: eu já estou aqui.
Contou-me que tinha mudado para a Paraíba há 3 anos e estava visitando Sampa pela primeira vez desde então. Não bastasse a coincidência impressionante de toda essa situação, para complicar um pouco mais a trama, relatou-me que estava vivendo há pouco menos de 200km de Juazeiro do Norte, onde mora uma garota que conheci recentemente e me envolvi (embora não devesse), com quem já não falo mais. Tinha portanto um bom motivo para não visitá-lo, todavia, não podia ignorar a nova coincidência.

Pouco mais tarde, encontrei o tal amigo com quem tinha marcado antes. Já bêbados, começamos a discutir Walter Benjamin e Descartes, a percepção do mundo através dos sentidos e a existência de faculdades superiores à razão. Disse para ele que a trama dos fatos cotidianos às vezes parece muito bem tecida de forma a realmente parecer que existe um "propósito" por trás disso tudo. Ele, mestrando em astrofísica na USP, disse que isso provavelmente é "Deus". Eu, pretenso filósofo, disse que essa é uma conclusão por demais precipitada.
Mudando de bar, estávamos atravessando a avenida São Luiz, quando fomos abordados por um pedinte que alegou estar juntando dinheiro para voltar para sua cidade no Ceará: Juazeiro do Norte. Outra coincidência -- ao menos dessa vez, eu tinha como testemunha ocular um homem da ciência. Concluí que àquela altura o melhor era não mais prestar atenção nem debater o incognoscível: troquei a cerveja pelo conhaque. Então, fez-se a ruptura do tempo: não me lembro de mais nada a partir de então até o momento em que acordei.
Tenho minhas dúvidas acerca do que há além da percepção dos sentidos -- se é que há. Se chama "intuição", "coincidência", "providência" ou até mesmo "Deus", realmente não sei. Mas há dias em que parece que esse além dialoga conosco, em uma linguagem que às vezes compreendemos -- provavelmente por atribuir os significados que queremos compreender -- e às vezes não.
O interessante, porém, é perceber essas coisas mesmo durante essa fase insensível pela qual estou passando. Me faz pensar que talvez isso tudo não esteja tão além de nossos sentidos: podem esta oculto no nosso dia-a-dia, o tempo todo. Quando percebemos é porque estamos atentos a elas. E na maior parte do tempo, não estamos. Mas elas continuam acontecendo.

1 comentários:

Sandrovisks disse...

Acabei chegando por aqui fuçando outros blogs, a curiosidade é phoda neh!? rs
Seria "Deus"? Coincidência?... Falamos de algo empírico ou transcendental, cara o que sei mesmo é que o ser humano é asqueroso (porque seus pensamentos são sórdidos, dentre outras coisinhas rs) e arrogante, queremos dar respostas as centenas de milhares de perguntas que nos assolam mas que não temos competência para respondê-las, mas arrgantes que somos...
Uma frase de um filósofo alemão que não me recordo o nome diz resume precisamente o que quero dizer:
"O ser humano não é capaz de criar um verme, mas cria deuses as dúzias"...
Abraço amigo.

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