A Sociedade nas Redes Sociais

Pegando carona no texto do meu primo, onde ele diz que "cada ser humano no fundo de seu subconsciente sente uma sensação de exílio em relação ao mundo exterior à sua realidade (...) [e] o advento da expansão das redes sociais está criando uma nova geração, os seres humanos
criadores,
hoje quem cria as notícias somos nós", argumentei que as redes sociais (além da própria internet), são só uma camuflagem para o exílio crescente que estamos vivendo desde a invenção do rádio, se não antes.
"Tal como a água, o gás e a energia eléctrica, vindos longe através de um gesto quase imperceptível, chegam a nossas casas para nos servir, assim também teremos ao nosso dispor imagens ou sucessões de sons que surgem por um pequeno gesto, quase um sinal, para depois, do mesmo modo nos abandonarem" (grifo meu)
Paul Valéry, citado por Walter Benjamin em A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica.
Benjamin não poderia ser tão atual, mesmo tendo escrito isso em 1955. Os seres humanos, que antes interagiam através do contato pessoal, com o toque, cruzamento de olhares, conversas de boca a ouvido, primeiro foram confinados às suas salas de estar, para assistir a novela das oito, interagindo somente com suas próprias famílias. Agora esse círculo social foi ainda mais reduzido, e ao invés de momentos familiares, as pessoas ficam presas a uma tela de computador.
Não é que não existam pessoas do outro lado da linha. Existem. Mas muitas vezes, o contato se restringe a simples trocas de toques no teclado ou uma conversa no Skype, e se ignoram as formas de interação no mundo "real".
O teatro está em baixa, e as platéias cada vez mais vazias. O cinema sobrevive na base de marketing agressivo e enlatados americanos, que emburrecem e incentivam ainda mais o ingresso nesse mundo "virtual".
Todavia, sou obrigado a admitir que há resistência -- e como há! O movimento que derrubou Hosni Mubarak do poder no Egito foi iniciado à partir do Facebook (e quem diria que um geek que queria pegar mulher seria o responsável por isso). Oswaldo Borelli, à partir do Twitter e do Youtube, conseguiu que seus direitos enquanto consumidor fossem respeitados, depois de não ter sido atendido pelos canais tradicionais da Brastemp. Eu mesmo já cheguei a usar o Twitter para reclamar, e fui prontamente respondido pelas empresas (não é o caso da TIM, mas isso é outra história). Isso para não falar das mulheres que conheci pela internet e acabaram virando relacionamentos -- fixos ou eventuais -- fora dela.
O fato é que as redes sociais, para serem sociais, não podem ser um fim, mas um meio para que as coisas aconteçam. Seres humanos não vivem sós, nisso concordo com meu primo. Discordo, todavia, que não estejamos sós quando estamos acompanhados por um mundo de amigos virtuais. Essa é só uma roupagem hipócrita para a solidão.
Termino citando algo que já citei nesse blog, mas que cabe perfeitamente nesse assunto:
"Um corpo humano está aí quando, entre vidente e visível, entre tocante e tocado, entre um olho e o outro, entre a mão e a mão se produz uma espécie de recruzamento, quando se acende a faísca do senciente-sensível"
Merleau Ponty em O Olho e o Espírito

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