Revolução no Egito: O que temos a ver com isso?

Desde 25 de Janeiro desse ano, a população tomou as ruas do Egito para pedir a saída de Hosni Mubarak, que governa o país desde 1981. Em 1º de Fevereiro, mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas para protestar. Mas afinal de contas, o que raios temos a ver com isso?
Quando a maioria das pessoas não gosta de discutir nem os nossos problemas "domésticos", imaginar que a política internacional tenha alguma importância é algo ainda mais distante. Do Egito então, só se ouve falar nas aulas de história antiga que nos faz imaginar que o país é habitado por múmias e faraós. É bem verdade que as múmias não habitam o país: o governo, ao contrário, está nas mãos sim quase de um faraó.
A diferença entre o "regime faraônico" que governa o Egito e a pseudo-democracia brasileira é superficial. Óbvio que entre a censura prévia e póstera, tanto da internet quanto de outros meios de comunicação, a primeira fica mais evidente. Também existe a farsa das eleições camuflando a ditadura da burguesia, contra um regime descaradamente ditatorial lá no país africano. A evidência de uma ditadura, todavia, não é o que determina sua existência.
Vejamos: hoje o PT tem o controle sobre a mídia (não só à partir dos canais e veículos governistas mas também dos empréstimos bilionários do BNDES, publicidade e lobby das empresas estatais sem as quais a mídia não teria como sobreviver, etc), sobre os sindicatos (que supostamente representam os trabalhadores mas na realidade estão alinhados com os interesses patronais), está no governo e controla grande parte da opinião pública atrelando seu sustento diretamente aos cofres públicos, sem gerar empregos, quer sejam duradouros ou de fato (nunca antes da história desse país houve tanta rotatividade nas contratações).
Essa ditadura velada é ainda pior que a egípcia. Enquanto os trabalhadores pensam que estão representados no governo e perpetuam os governantes no poder através do voto, banqueiros e grandes empresários enriquecem com as crescentes vantagens que lhes são oferecidas, tal qual a redução dos direitos trabalhistas históricos conquistados à base de suor e sangue, políticas que acabam com os pequenos empresários e agricultores obrigando-os a trabalhar para os grandes conglomerados e latifundios e uma massa faminta que topa trabalhar por qualquer salário para sobreviver, comprando o peixe de que esse é o milagre da geração de empregos -- até que três meses depois o desemprego bata à porta.
E que não pensem que aqui não haja morte nesse confronto por debaixo dos panos. Basta perguntar em qualquer favela para saber de algum trabalhador que foi morto pela polícia quando voltava para sua casa e foi acusado de tráfico de drogas -- enquanto os grandes traficantes não estão nem nos morros cariocas nem em Heliópolis, mas sim em Copacabana, Morumbi ou Brasília, lucrando tanto com as mortes de seus "soldados" do tráfico quanto com as decorrentes do vício. Pode-se também visitar o SUS para conhecer as filas que matam os doentes na espera por atendimento, latifundios à base de trabalho escravo, ou ainda a região serrana do Rio com um desastre iminente, previsível e ignorado pelo governo há anos.
Quanto à questão da repressão aos opositores, não imaginemos que isso não acontece por aqui: é óbvio que, entre um milhão de pessoas na rua e 10 mil manifestantes protestando contra o aumento abusivo da tarifa de ônibus em São Paulo (por exemplo), há uma diferença de proporções, todavia, da mesma forma que o exército partiu para porrada no Cairo, os militares desceram o cacete aqui em São Paulo.

A luta no Egito começou à partir da internet e tomou as ruas. Hoje, o Brasil é o 8º país com mais acessos à internet no mundo, e um dos quais o acesso cresce em ritmo mais rápido -- o mais rápido da américa latina. Problemas? Temos os mesmos: fome, falta de empregos, miséria, e outros inumeráveis... Está na hora de assumirmos essa luta e resolver aquilo que o governo não resolve e nunca irá fazê-lo por nós. O que o Egito tem a ver conosco? Tudo. Eles estão mostrando que lutar é possível, que trás resultados, e que quem manda na verdade é o povo. Podemos sim derrubar aqueles que não nos representam, acabar com a exploração e com a desigualdade: basta querer. O Egito quer.

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