Por que o governo remprime as manifestações contra o aumento do ônibus?

A constituição assegura, em seu artigo 5o., que é livre a manifestação de pensamento, vedando somente o anonimato. Assegura também a liberdade de expressão, independente de censura ou licença, tornando explícito também que ninguém precisa pedir autorização para tal. Por que é então que o governo reprime as manifestações, tanto contra o aumento da tarifa de ônibus, quanto qualquer outra que seja divergente com as políticas estabelecidas por eles?
Indivíduos pensantes são indivíduos perigosos. O Egito e a Tunísia mostraram que o povo reunido pode derrubar até uma ditadura, quiçá um presidente. Na época do governo militar, direitos como os citados no primeiro parágrafo desse texto e outros foram tolhidos, a fim de garantir a permanência dos militares no poder. Isso tudo foi por água abaixo com as "diretas já", quando todo mundo foi para a rua para pedir eleições diretas para o executivo. Mais uma vez, o povo demonstrou que sua voz é, incondicionalmente, a vontade suprema do Estado.
A Carta Magna é muito bonita, mas muito do que diz é letra morta. Lembro-me de uma manifestação contra a vinda de Bush ao Brasil, em que eu estava presente e quase tomei uma bomba de efeito moral na cabeça. Durante as greves, também, é flagrante a violação ao direito dos trabalhadores estabelecido no 9o. artigo da constituição, que prevê, inclusive, detenção para quem o desrespeitar. Repetidas vezes fui tirado da frente de agências e complexos bancários pela truculência policial -- uma vez, quase fui detido ilegalmente, e não raro os banqueiros ameaçam seus empregados com demissões e outros tipos de punição (no caso dos bancos públicos) quando eles aderem ao movimento grevista.

Se o Estado permite que o povo fale, o Estado tem que ouvir seu povo. É mais fácil calar quando não é possível ignorar. A mordaça do Estado é a polícia. Quem se manifesta contrário aos abusos do Poder Público, tal qual um aumento abusivo da tarifa de ônibus, põe em risco todos os outros abusos cometidos por eles. Isso não é conveniente para quem está no poder.
Mas no Egito, de nada adiantou tentar calar o povo. Uma hora, o barulho das vozes ficou tão alto que não foi possível ignorá-los, nem amordaçá-los. Em São Paulo, se faz cada vez mais barulho, e a despeito da mordaça, a população permanece indignada e vai às ruas, mesmo com a repressão. Note-se que não só os movimentos sociais estão engajados nessa luta: os estudantes, que deveriam ter o direito ao passe livre -- esse sim, um real incentivo à educação de qualidade, não os paleativos estabelecidos pela Dilma -- também estão apanhando da polícia. Na última manifestação, até vereadores -- eleitos pelo povo -- foram alvo da truculência policial. É o governo batendo no próprio governo. É o Estado totalitário contra o Estado democrático de direito.
Mas quanto mais o povo apanha, mais o povo grita mais alto, e mais vozes se juntam nesse coro. A luta aqui não é simplesmente contra o aumento da tarifa: é para que o governo realmente represente a vontade popular. Isso vai muito além do voto. E tolher esse direito, é cercear o direito de exercer a cidadania.

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