Bethânia e a galinha dos ovos de ouro - Nossa subjetividade à mercê do capital


Há pelo menos dois pontos de vista sobre Maria Bethânia e a sua galinha dos ovos de ouro de 1,3 milhão de reais. O primeiro seria aquele composto por burocratas (avessos à cultura), ressentidos e alguns poucos contrários a qualquer tipo de lei de renúncia fiscal,  seria o de considerar um absurdo a intérprete arrecadar tal quantia para um blog - dizem os ressentidos e burocratas - de poesia - dizem os burocratas. O segundo ponto de vista é daquele que acredita que essa quantia não representa e nem deveria ter feito tanto barulho, já que além de ser um incentivo necessário à nossa cultura, o dinheiro ainda não foi "entregue" apenas "encomendado", sendo que os produtores de Bethânia foram permitidos captar tal verba através da uma lei de renúncia fiscal¹.

Não posso dizer que discordo plenamente de ambas as opiniões. É óbvio que o Brasil necessita sim, de uma cultura desenvolvida e para isso precisa de meios para executá-la. E, sim, me agrada a ideia do blog de Bethânia.

Contudo quando se fala de dinheiro público - sim, DINHEIRO PÚBLICO! - seja para qual meio for, não podemos simplesmente nos esquivar  por ser uma artista importante que contribui para nosso enrijecimento  cultural.

Ora, vamos lá. A lei em questão, em poucas palavras, não passa de desvio de dinheiro público para o setor privado. Já que esse dinheiro teria de ser repassado primeiramente ao governo, para então ser destinado à cultura, educação, etc. E ao contrário disso, o que acontece é que fica a critério de um diretor de marketing, ou coisa que o valha, decidir aonde é importante e rentável para sua empresa injetar aquele dinheiro - aí, outro ponto, já que além da renúncia fiscal, a empresa tem seu nome divulgado nas obras de seu interesse(propaganda), sem contar os trambiques de renunciar 1 milhão, injetar 300mil  e ficar com o resto.

Dessa forma, deveríamos usar toda essa energia critica atual e repensar como são feitos shows  de Ivete Sangalo, Roberto Carlos, ou espetáculos como Cirque de Soleil - e centenas de outros exemplos inesgotáveis.

Que é triste ver uma artista consagrada tendo a possibilidade - que acaba por ser efetiva, dados os fatos de "sucesso" da intérprete -  de captar tanto dinheiro em detrimento - sim, em detrimento - de outro artistas e  novos coletivos de trabalhadores de cultura, sim, é deprimente.

Que lamentável ver que ainda vivemos num mundo que frases como essa sejam tão facilmente objetivadas e aceitas: "... Não vivemos de palavras bonitas, mas sim de dinheiro, o Brasil precisa é de educação financeira"² - não que em nosso sistema econômico não seja este o carro-chefe, mas a frase como fim não deve contemplar a ninguém.

Mas o que mais entristece é que num sistema fadado às ruínas do apocalipse, anunciado há muito por um messias chamado dinheiro, nós trabalhadores, sejam da cultura, da arte ou não, e sobretudo estes como Maria Bethânia, que são como espécie de nossos "mestres", aceitem ainda que nossa subjetividade seja condicionada por aqueles, que por toda sua vida, se dedicaram a nos enfiar goela abaixo uma realidade sem nuances, desromantizada, mórbida ou simplesmente controlada.

¹ Lei Rouanet http://www.cultura.gov.br/site/categoria/apoio-a-projetos/mecanismos-de-apoio-do-minc/lei-rouanet-mecanismos-de-apoio-do-minc-apoio-a-projetos/

²Comentário do vídeo de Daniel Fraga em http://www.youtube.com/watch?v=zIKu3HZs_Qs

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