Kadafi e a Europa: Sempre bons negócios

Por trás da pressão internacional para Kadafi deixar o poder na Líbia, um histórico de boas relações comerciais contradiz os governos dos Estados Unidos e da União Européia, que outrora"anistiaram" o ditador responsável por diversos ataques terroristas internacionais, incluindo uma bomba em um avião da PanAm que sobrevoava a Escócia. Vou colocar alguns dados que coletei em uma palestra e em pesquisas e suas interpretações, além de mostrar que o ditador tem muito a ver com logomarcas que todos nós conhecemos.
Muamar Kadafi tomou o poder na Líbia através de um golpe militar, pregando o fim do colonialismo italiano e exaltando o nacionalismo líbio. Tão logo virou chefe de Estado, expulsou da Líbia todos os italianos (segundo dados do "O Globo", mais de 20.000) e tomou suas propriedades. Mesmo assim, sua relação comercial com a Itália não foi abalada: em 1956, a ENI (gigante de energia italiana) começou a operar no país, e lá se mantém até hoje. Hoje, pelo menos 22% de todo o petróleo da Líbia e 10% do gás natural são fornecidos com exclusividade para a Itália. (fonte: Luiz Felipe Lampreia em "O Globo")
E não é foi só com o fornecimento de petróleo que a Europa se beneficiou do dinheiro de Kadafi: o ditador chegou a fazer um aporte na Fiat quando a empresa estava na iminência de quebrar, adquirindo 10% do capital acionário da montadora. Em plena crise mundial de 2008, o Banco Central da Líbia adquiriu 4% do UniCredit, o maior banco italiano e um dos maiores da Europa, salvando o banco que estava passando por uma situação problemática. Até no Juventus ele tem participação: 7,5% foram comprados pelo Fundo Soberano da Líbia, o que garantiu que seu filho treinasse e participasse de alguns jogos no time.
Estima-se que Kadafi tenha participação em 72 companhias em mais de 45 países (fonte: IstoÉ Dinheiro). No nosso país temos o banco ABC Brasil, filial do Arab Banking Corp, do qual ele é acionista, além de 1,2 bilhões de dólares investidos na Bahia em produção de alimentos, em parceria com a Odebrecht. Por toda a Europa, tem participações em petrolíferas, mineradoras, imóveis e até na mídia: é um dos investidores do Financial Times. Na Ásia, é dono de uma rede de hotéis e no Marrocos, de supermercados. Beneficiaram-se também do fundo líbio empresas como a Xerox, Shell, Siemens, Móbil, etc.
Não é de se espantar, portanto, que as armas da parcela fiel de seu exército (cerca de 5.000 de 400.000 homens) foram fornecidas por países Europeus e hoje são usada contra o povo. Mesmo com o congelamento de parte de suas reservas em outros países, Kadafi ainda conta com fundos depositados em Trípoli, que permitem-no financiar a guerra contra seus opositores. Depois de toda essa "lua de mel", os países que outrora beneficiaram-se do ditador, para aplacar o clamor público (e a possibilidade da revolução atingir outros países, tanto no Oriente Médio, como na própria Europa, onde há uma crise por conta das reformas previdenciárias), agora pedem sua saída.
Parte do povo líbio não aceita a intervenção militar internacional, e com razão. Que democracia aqueles que apoiaram a ditadura pretendem implantar no país? A continuidade da submissão, da extração de recursos, de desvio das riquezas e benefício da burguesia local? Derrubar o ditador significa acabar com a submissão, tanto ao governo quanto à exploração internacional, essa é a verdadeira luta do povo na Líbia. Isso sim é acabar com a ditadura. Caso contrário, chamar o novo regime de democracia será apenas uma diferenciação semântica.

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