Tsunami no Japão, assassinato no Brasil

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No dia 12 de Março desse ano, a Terra tremeu. E muito: quase 9 graus na escala Richter, o suficiente para ter deslocado a Terra em 10 centímetros de seu eixo de rotação. O Japão foi o país mais afetado pela tragédia, já que está localizado na região que concentra a maior atividade vulcânica e abalos sísmicos do planeta. 
Podemos dizer que o mundo é dividido em 10 placas tectônicas principais. O arquipélago onde está o Japão fica entre as placas do Pacífico, Eurasiana e Filipina, zona de constante movimento. Não à toa, é o país mais preparado para lidar com esse tipo de desastre. Tem barreiras de contenção marítimas, prédios especialmente construídos para não sucumbir a terremotos e alarme contra desastres. Mesmo esse preparo não foi suficiente para evitar mais de 5.000 mortes decorrentes desse tremor (e o consequente Tsunami que o sucedeu).
Literalmente do outro lado do mundo, está o Brasil. No meio da placa Sul-Americana, o país não tem mais nenhum vulcão ativo. As possibilidades de um terremoto são remotas, quase nulas, quiçá um tsunami. Não há como atribuir ao homem a sorte de termos nosso país localizado numa zona distante de acidentes sísmicos, mas há sim como lembrar que o homem -- e só ele -- é o culpado pelas mortes evitáveis em tragédias de muito menor escalão que a ocorrida no Japão.
No mês de Janeiro desse ano, choveu. E muito: o equivalente a 18 chuvas de verão seguidamente num período de 4 horas na região serrana do Rio de Janeiro, de acordo com o estudo do Coope/UFRJ. E falando só do desastre dessa região no início desse ano, foram computados quase 1.000 mortos e 707 desaparecidos (de acordo com a listagem oficial de 17/03 do Ministério Público do Rio de Janeiro). Somando mortos e desaparecidos até o momento de ambas as tragédias, as chuvas no Rio de Janeiro provocaram quase 50% do número de vítimas que um tsunami e um dos maiores terremotos da história da humanidade provocaram no Japão.
Foto: Portal R7
Mas o cerne dessa discussão não é o número de vítimas: são as mortes que poderiam e que foram evitadas. O governo japonês sabe que seu país é vulnerável à abalos sísmicos e investe na prevenção de tragédias que possam ocorrer por conta disso. O governo brasileiro sabe que algumas regiões do Brasil são extremamente vulneráveis à chuva e outras intempéries e quais sãos as medidas que adotam efetivamente para prevenir tragédias decorrentes dessas fragilidades? Nós vimos no começo do ano: nenhuma.
Temos de ser solidários às vítimas japonesas, temos que ser solidários às vítimas fluminenses, temos de ser solidários com todos aqueles que sofrem por conta de desastres. Só não podemos ser solidários com a omissão do governo face a tragédias iminentes. Já falta comida, falta salário, faltam empregos dignos, falta educação, e contra isso o governo só toma medidas paliativas. Na iminência de faltar vidas, não investir em prevenção é assassinato.
O mesmo estudo que citei alguns parágrafos acima disse que provavelmente não teremos chuvas como as do início desse ano no Rio de Janeiro pelos próximos 500 anos. Espero que não levemos tanto tempo para lutarmos contra o descaso e fazer com que o governo assuma a responsabilidade que lhe é imputada tanto pelas leis, quanto pelo nosso voto. Nós não podemos atentar contra a vida alheia, é crime. Por que é que o governo pode atentar contra a nossa?

*Fonte da Foto: http://feitoagora.com/tsunami-japao-2011/ - fotógrafo não citado

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