É hora de começar! O oriente médio já começou.

A revolução continua no mundo árabe. Tunísia, Omã, Egito, Paquistão, Líbia, este último, objeto onde vou concentrar minhas atenções neste artigo. Veja que há uma característica peculiar neste país: como quase todos países africanos, a massa dividida em tribos e campesinos (com a diferença de que este tem o maior PIB de toda a África), e revoltou-se contra Muamar Kadafi, que está no poder desde 1977.
Amílcar Cabral, filósofo africano (sim, africano!) de Cabo Verde explica que existe uma diferença fundamental entre o regime colonial que vigorou (e vigora) na África e no resto do mundo: enquanto, mesmo querendo explorar os recursos locais, os colonizadores tentavam estruturar (ou permitiam a estruturação) de uma sociedade local nos outros países, a África foi uma região apenas de pilhagem, sem intenção de estímulo de infra-estrutura local. A consequência é que hoje a África em sua maioria continua sendo apenas fornecedora de recursos para os grande países do Imperialismo, que apoia suas ditaduras enquanto lhes é conveniente, e a população é cada vez mais miserável -- vide a Etiópia, onde são "famosas" as fotos de crianças raquíticas (fonte: meus colegas da Unifesp que traduziram um texto sobre a biografia deste filósofo).
Muammar Kadafi entrou no poder em 1944, supostamente, à partir de uma revolução, expulsando os italianos enfraquecidos pela 2º Guerra Mundial (ao bem na verdade, houve um acordo para que os colonizadores deixassem o país e colocassem o ditador no poder). Rompeu os acordos estabelecidos com o Imperialismo assumidos pela antiga monarquia passou a ser odiado pelos países europeus e americanos. Foi forçado a restabelecer as relações com esses países no final dos anos 90, quando percebeu-se que as reservas de petróleo do país não podiam ser simplesmente ignoradas (fonte). A burguesia local enriqueceu cada vez mais e o povo continuou dividido em tribos. Aí a ditadura passou a ser aceita pelos Estados Unidos.
A revolução, fruto do efeito cascata começado na vitoriosa Tunísia e na derrubada de Mubarak (veja, não há aqui o papel do Facebook), além das sanções que começaram a ser impostas pela Europa, estimularam o as tribos e setores do exército a ir às ruas para derrubar Kadafi. Seu regime ditatorial rege o país a ferro e fogo há 34 anos. O mundo ocidental começa a apoiar a revolução, inclusive, com movimentação do exército norte-americano. Não podemos ser ingênuos e pensar que isso é uma bondade espontânea desses países.

Retomando Amílcar Cabral, a África é um continente de pilhagem. A Líbia tem o que os Estados Unidos mais querem, uma enorme reserva de petróleo, e não querem perder essa boquinha. Cominam-se aí dois interesses: manter um de seus fornecedores e perpetuar seu imperialismo no ocidente. Imagine os efeitos desastrosos de todo o mundo que perceba que pode sim tomar os controles dos meios de produção, derrubando não só essas ditaduras mas os governos que se rendem ao controle americano "de forma democrática", através do controle da opinião pública e da consequente alienação que isso produz. É hora de se proteger usando sua arma mais forte: a própria opinião pública. Europa e EUA se reúnem para parecer que são os bons da história.
Não podemos defender nem Kadafi nem o apoio dos Estados Unidos. O poder é do povo, os benefícios devem ser para o povo, quem precisa governar é o próprio povo, não quem não os representa. É hora de ter a consciência de que a ditadura se estende não só aos regimes ditatoriais propriamente ditos, mas à pseudo-democracia que rege as atuais colônias imperialistas -- nas quais se inclui o Brasil, e assumir o controle daquilo que deveria ser nosso. É hora de ter um governo que nos represente de fato, no mundo todo, acabando com a concentração de renda e o enriquecimento da burguesia em detrimento dos trabalhadores.
É hora, mais que nunca, de ter consciência. O mundo árabe está nos ensinando que é possível sim acabar com a dominação de quem não defende seus próprios interesses. Se lá é possível, aqui também é possível. Temos de ser contrários tanto à ditadura quanto a uma democracia que não existe de fato. Temos que assumir o controle de nossas próprias vidas. E o primeiro passo para isso é deixar de acreditar nas mentiras e acreditar que temos sim a força para derrubar aqueles que nos exploram dia a dia, que distribuem esmolas aos pobres e exploram a massa trabalhadora. Com essa consciência e com união, podemos fazer um mundo melhor. Um mundo nosso. Um mundo onde "todos possam ser iguais" tal qual diz a letra morta da nossa Carta Magna, e os trabalhadores representem os próprios trabalhadores. É hora de começar! O orienta já começou.

2 comentários:

Francisco Fonseca disse...

Parabéns pelo artigo, vai também muito de encontro ao meu pensamento. Eu tive a oportunidade de ter estado no Egipto, na altura em que começram as manifestações, era imperssionante a vontade daquele povo na mudana de regime. O meu medo é que agora o radicalismo islâmico venha a ter mais influência e poder no destino destes países. Um abraço.

TBD disse...

É justamente esse o grande problema do "vácuo" deixado após a revolução: quem é que vai tomar o poder. O poder precisa servir ao povo, representar o povo, e não aliená-lo, seja através da religião, seja por uma nova ditadura (dos militares dissidentes, por exemplo).
A população egípcia, portanto, precisa saber que derrubar Mubarak é só o primeiro passo dessa revolução. Ainda há muita luta pela frente!

Obrigado pelo elogio, aprecio muito os seus textos. Abraço;

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