O fim do mundo já começou

Um grupo cristão denominado Family Radio anunciou que o mundo acabará este ano, mais precisamente no dia 21 de Maio (http://worldwide.familyradio.org/pt/). A argumentação pautada na lógica dos preceitos divinos é baseada na interpretação literal da bíblia sagrada. O arrebatamento estará em andamento até Outubro, quando os eleitos serão escolhidos. Como não poderia ser diferente, afirmações fantásticas sem quaisquer evidências racionais são feitas. Até mesmo a data do dilúvio, que mencionam ter ocorrido em 4990 a.C., é afirmada como uma verdade absoluta. Todavia, como explicarei no texto, o inicio do arrebatamento na realidade já se iniciou há muito tempo.

Tenho presenciado o crescimento de congregações pentecostais que se pautam na doutrina da prosperidade, uma espécie de chamariz para os desesperados e angustiados. Um senhor pouco distinto, de origem humilde, semi-analfabeto, negro, ex-viciado em drogas, que prega a cura de doenças incuráveis como câncer e AIDS é a maior sensação televisiva no atual fenômeno da conversão das massas. Com um terno impecável, palavras bem dosadas, um certo carisma e evidente inteligência, prega com um chapéu de cowboy todos os dias na tv. Um amigo evangélico uma vez me disse “Ele tem a unção de Deus”. Com mais de quatro milhões de seguidores conseguidos em pouco mais de dez anos de atividade, acaba por demonstrar toda a fragilidade e miséria de um povo que se contenta com qualquer show de calouros da vida real.

Em outra emissora um sujeito simpático e sorridente arranca "caroços" de enfermos e pede aplausos a Jesus. Carismático ao extremo, chega a cativar pela eloquência das palavras e pela oratória na pregação. Afirma com certa frequência que “Deus chamou em seu coração” quando decidiu abandonar o curso de medicina na Rússia para se dedicar aos mais necessitados. Em vez de se ater à ciência do corpo, agora busca suplantar toda a dor dos flagelos sociais através da palavra do Salvador. Certa vez, frequentando a referida igreja, fui interpelado com os demais presentes a contribuir com o ministério. Aquele que doava dinheiro para um saco vermelho que rodava o salão era abençoado pelo pregador. Naturalmente, me senti queimando no inferno pois não tinha um tostão no bolso.

Nas noites de insônia a diversão é garantida. O senhor cowboy não tem boa dicção e o missionário dos aflitos canta muito mal. A única coisa que pode me fazer cair no sono é a pregação do pastor dos relógios de ouro. Ele sim, é um "showman" do besteirol e das coisas mais ilógicas da televisão. É hábil, consegue atrair multidões pela boa oratória mas falha grotescamente no encadeamento lógico dos argumentos. Critica abertamente homossexuais, condena ao inferno quem não tem a prática do dízimo, defende o criacionismo e afirma que ateu não tem vez no reino dos céus. 

A Santa Sé tem sido mais discreta, mas não menos perversa. No ano de 2008 o então presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva (uma espécie de Tiririca do circo da vida), selou um acordo sombrio com o Vaticano. Sem cobertura da mídia, no mais absoluto silêncio democrático, este acordo inconstitucional quebra a laicidade do estado brasileiro ao instituir o ensino religioso, obviamente católico, em todas as escolas da rede pública de ensino. A liberdade de manifestação religiosa que vigora desde 1891 está com os dias contados. É uma guerra religiosa onde o prêmio é a conquista do maior número possível de miseráveis. 

Em países como a França, Suécia e Japão o percentual dos que se declaram como não religiosos é maior que 50%, enquanto que no Brasil este índice é de aproximadamente 2%. A pobreza de um povo subjulgado pelas mazelas sociais é o alimento preferido das religiões. A presença maciça das igrejas se faz presente nos países mais subdesenvolvidos. O arrebatamento ao qual nos referimos portanto já está em andamento: o dízimo dos miseráveis é o preço que se paga para o arrebatamento cada vez mais rápido dos fiéis em direção à cova da ignorância.

1 comentários:

tutty gualberto disse...

Muito bem, ótimo comentário. Estamos sendo afogados neste mar de merda religiosa que nos rodeia e não podemos fazer nada, É insuportável ter que aguentar estes ignorantes religiosos o tempo todo. Se eles não vão para o inferno que ekles inventaram é para lá que eu quero ir para ficar longe deles.

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